idade mídia

Doses de Saber

Resenhas e Resumos

Isaias Carvalho, 2010

A contemporaneidade como idade mídia.

RUBIM, Antonio Albino Canelas. A contemporaneidade como idade mídia. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v.4, n.7, p.25-36, 2000.

A respeito de teoria da comunicação, meios de comunicação de massa, socialização e teoria da informação, o artigo “A contemporaneidade como idade mídia” é a busca de construção de bases teóricas para refletir sobre a contemporaneidade como sociabilidade estruturada e ambientada pelas mídias, isto é, como Idade Mídia. De fato, esse termo é a contribuição de Rubim a essa linhagem semântica em consonância com o ethos contemporâneo: “Aldeia Global”, “Era da Informação”, “Sociedade Informática”, “Sociedade da Informação”, “Sociedade da Comunicação” ou “Sociedade dos Mass Media”, “Capitalismo de Informação” e “Planetas mídias”, entre outros.

Rubim faz sua primeira incursão no aspecto estruturante da comunicação: uma interlocução crítica com o marxismo, que coloca a comunicação em um patamar “supraestrutural”, associada às ideias de ideologia, aparelhos ideológicos, aparelhos ideológicos de Estado etc. De fato, várias vertentes atuais mantêm uma associação cada vez mais enfática entre economia e mídias, estas como setores dos mais dinâmicos na economia do capitalismo contemporâneo, ensejando os mais atuais processos de globalização econômica. É a comunicação, principalmente em sua modalidade publicitária, como centro dos mecanismos de reprodução do próprio capitalismo. Desse modo, ao invés da tradicional posição “supraestrutural”, entre autores marxistas e não marxistas, a cultura da mídia passa também a ser “infraestrutural”, pois necessária à efetivação e à reprodução do capitalismo.

Idade mídia é também a idade das redes: a televisão, nos anos sessenta, e a telemática, na década de setenta. E a noção de rede, mesmo que tenha existido em fases anteriores, em sua especificidade contemporânea, tende à abolição dos obstáculos, através da desterritorialização e da desmaterialização, pois seu caráter de fluidez, volatilidade e dinâmica não se apoiam em lugares concretos. De fato, Rubim faz a equivalência de Idade Mídia com Contemporaneidade, ou a era do capitalismo de redes, o qual tem influência direta sobre a economia, o poder, a cultura e a experiência nos tempos atuais. Assim, o caráter infraestrutural da mídia dita a ambiência da sociabilidade contemporânea. E essa ambiência proposta por Rubim não é restrita ao à produção de conteúdos e representações, mas se apresenta como um tipo de nova “camada geo-tecno-social”, como base que se sobrepõe e se agrega às camadas – natural

e sócio-cultural – do contexto de sociabilidade anterior.

Portanto, para a caracterização da sociabilidade contemporânea em termos de Idade Mídia, alguns parâmetros e variáveis são propostas, a saber: 1. Expansão quantitativa de meios de comunicação; 2. Diversificação dessas modalidades midiáticas; 3. Papel da mídia como forma hegemônica de experiência e de conhecimento da vida, do real e do mundo; 4. Força dos meios culturais midiáticos para organizar e difundir comportamentos, valores etc; 5. Influência da comunicação midiatizada sobre o pensar e o sentir da sociedade e dos indivíduos; 6. Ascensão da mídia como espaço público privilegiado e hegemônico; 7. Possibilidade de uma representação de vida de âmbito planetário e em tempo real; e 8. Ampliação rápida e diversificada do mercado de trabalho na área da informação e da produção de bens simbólicos.

Essas variáveis levam a se considerar a idade mídia como sociabilidade complexa, em uma contemporaneidade em que as sociedades são estruturadas e ambientadas pelas mídias. Para a compreensão da contemporaneidade nesses termos globalizados, Rubim propõe uma visada histórica em três constelações básicas. A primeira dessas constelações faz referência ao entrelaçamento dos espaços geográficos, ampliados pelas grandes navegações, pela revolução dos transportes e pela revitalização dos espaços urbanos no contexto da modernidade, e dos territórios eletrônicos, através das “navegações virtuais”. A segunda constelação diz respeito ao cotidiano, permeado e bricolado pela televivência, isto é, uma vivência em tempo real, mesmo que à distância, com as mídias em rede. A terceira constelação se refere à hibridação entre fluxos culturais locais e outros fluxos de origem global, que é sintetizada no neologismo “glocalidade”: ao mesmo tempo local e global. Portanto, a reflexão de Rubim sobre o “glocal” é ligada à sua noção de sociabilidade contemporânea como idade mídia.

Em termos críticos, porém, Rubim pensa o desequilíbrio entre a informação direta e a informação indireta, ou seja, o privilégio da informação midiatizada em relação à informação sensorial direta, o que pode levar ao fato de que o efeito de real suplanta a realidade vivida. A esse fenômeno, Rubim sugere que se denomine telerrealidade, que é a nova estruturação do real que se transforma em dimensão, pública e privada, inseparável do atual, através da televisão e da internet, principalmente. Como conseqüência, o simples existir físico não mais garante uma existência social. A publicização do indivíduo no tecido social é subordinada à sua conexão com as redes midiáticas.

De qualquer modo, para Rubim, não se trata de apresentar negativamente ou positivamente essa sociabilidade complexa contemporânea, mas descrevê-la. Ele não comunga, dessa maneira, a celebrada esperança de muitos teóricos, encantados pelo potencial das novas tecnologias informacionais, nem a rejeição precoce das novas perspectivas trazidas pela telerrealidade. Finalmente, Rubim, em seu “A contemporaneidade como idade mídia” (Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v.4, n.7, p.25-36, 2000), é contundente em sua reiteração de que sua premissa basilar é o descarte de uma predominância unilateral, seja da esfera da comunicação, seja de outros campos sociais, na dominação ideológica. Pelo contrário, defende que a disputa e a alternância de predomínios se dão em contextos e campos de forças específicos. Essa é, na perspectiva teórica, uma postura digna de uma Idade Mídia.

© 2009 isaiasfcarvalho@gmail.com

Itabuna/Ilhéus, Bahia, Brasil