Memórias do abutre eterno

Porque aprender é a constante preparação do próprio funeral.

Isaias Carvalho, "Aprendizado"

In: Poetas da Bahia I. Antologia de poesia. Salvador: Editora do Expogeo, 2002.

Memórias do Abutre Eterno

Isaías Carvalho

Já houve um campus universitário público

na cidade do Salvador

(onde, propriamente, ninguém se salvava),

incrustado num vale entre as ondinas e o verde vasto

(um privilégio sem sementes).

Era eu um dos tantos urubus

que sobrevoavam aquele pasto,

sentindo o podre que me regalaria.

Os doutos acadêmicos não me pressentiam:

o almoço não vê aquele que almoça.

Há muito havia um campus universitário público

na cidade do Salvador.

Devorei tudo e todos.

Trecho extraído do prefácio à antologia Poetas da Bahia:

Isaías Francisco de Carvalho não é um estreante. Já o conheço de uma oficina de criação que orientei - ele muito atento e participante - na Fundação Casa de Jorge Amado, e de dois livros. Aparece com um texto apenas, e de fato aparece. "Memórias do Abutre Eterno", o título, já é um verso, e de rara inspiração, naturalmente os remetendo tanto a Edgar Allan Poe como ao nosso Augusto dos Anjos. Poema de profunda insatisfação com o institucionalizado, guarda em si um verso pujante: "o almoço não vê aquele que almoça".

Salvador, 20 de novembro de 2002.

Maria da Conceição Paranhos

poéticos acadêmicos parentéticos

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Itabuna/Ilhéus, Bahia, Brasil

Ilustrações dos temas na base da página por: Wellington Mendes da Silva Filho