janelas

Ilustrações e Capa

Wellington Mendes

Planejamento Gráfico

João Soares

Revisão

Conceição Paranhos

Rita Aragão Matos

Colaboração

Dilson Midlej

Luciano Paiva Nóbrega

Edição do Autor

Salvador, 1997

Estes

Isaias Carvalho (1997)

IV

Janelas

Janela

Por que aquele solitário

debruça-se à janela?

Que espera

no horizonte?

Não lhe bastam

as paredes nuas de lembranças,

seus vícios menores

e o sorriso sem sentido no escuro?

Quer atirar-se sobre a multidão,

convidá-la a revirar seu baú?

Por que tão somente não deita,

fecha os olhos, a janela?

Metrópole I

Passos,

homem curvado,

cansaço,

não somente do esforço.

Esboço de caminhar.

Pedras da rua

refletem as luzes do alto,

iluminando o medo

do outro iminente

do beco sem sombra ou claridade.

Fétida luz de propaganda

delimita ocos opacos sentimentos.

E a cidade abre-me suas pernas,

avenidas.

Beijo-lhe os olhos,

molho meus lábios

de lágrimas, carbono e enxofre.

Prédios, torres,

tumores na pele urbana,

homens.

Metrópole II

Ruas e becos,

tarde da noite.

Esta sensação: me observam do alto.

Espíritos divinos,

mas não o são.

São os das janelas.

Metrópole III

Eis que me curvo

à janela mais discreta

de todas as eras.

As luzes da cidade,

as fogueiras de neon,

as duras formas euclidianas

no balé do horizonte urbano

e o céu.

Meus. Pois contemplo.

Não há olhares que se cruzam,

mas vazios que se olham:

eu e a noite metropolitana.

Fuligem Poética

Estes

Metrópole IV

O prédio em que moro - choro-

cai sobre a rua,

pessoas correm, morrem.

Última rima,

o prédio, o tédio despencando.

Há gritos,

mas eu já não mais, pois morri

primeiro.

Sou os escombros na praça.

Museu

Sedimentos de sentimentos

universais, prostrados diante de quaisquer.

Cada quadro,

janela para um mundo inteiro.

Cada escultura,

movimento de um todo.

Cada forma, cada pedaço,

laço

para tempos outros.

Templo de contemplação.

(in)versos