FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso

Fichamentos bibliográficos diplomáticos de Isaias Carvalho

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FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. Aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. Lisboa: Relógio D'água Editores, 1997. 58 p.

Comentários em aula: # Os ESTUDOS CULTURAIS ainda não se firmaram (se o fará) enquanto disciplina, como a TEORIA DA LITERATURA, por exemplo. Os críticos em geral lançam/apontam o que lhes falta: corpus constituído e delimitado, objeto definido, método difuso... os ESTUDOS CULTURAIS estariam no ‘exterior de um campo disciplinar’, ao modo de Foucault neste texto. Não têm um corpo de referências, mas os trabalhos devem ter o máximo de auto-reflexividade para se firmarem. # A Doutrina de Segurança Nacional, a propósito do conceito de doutrina em Foucault: estradas no Norte do BR; redes de TV nacionais; a CAPES – Sistema Nacional de Pós-Graduação... # Se a escola não serve para nada útil, ela pelo menos garante a distribuição do pertencimento à nacionalidade, enquanto distribui também a exclusão ou hierarquisação (os interditos). # Quem legitima um novo escritor? Os outros escritores: Jorge Amado lançou João Ubaldo; Mário de Andrade lançou, entre outros, Drummond. # A polêmica/problemática hoje não é mais quem é canônico ou não, o que é literário ou não. Essa luta é legitimadadora de cânones ela mesma. # Gosto dos pesquisadores que conseguem, com competência, trabalhar com seu objeto sem passar pela questão do cânone, que é ultrapassada. # A exclusão (hierarquisação negativa, rebaixamento) dos sofistas coincide com o rebaixamento do SIMULACRO (?)

p.7 Mais do que tomar a palavra, eu teria querido ser envolvido por ela e levado muito para além de todo o começo possível. Teria gostado de me aperceber que, no momento de falar, uma voz sem nome me precedia há muito (...) p.8 A essa aspiração tão comum, a instituição responde de modo irônico; ela torna os começos solenes, rodeia-os de um círculo de atenção e de silêncio, e impõe-lhes, como que para os sinalizar à distância, formas ritualizadas. // O desejo diz: “Não quereria ter que entrar eu mesmo nesta ordem aleatória do discurso; não quereria ter de me confrontar com o que ele tem de categórico e de decisivo; gostaria que o discurso existisse em meu redor como uma transparência calma, profunda, indefinidamente aberta, onde os outros respondessem à minha expectativa, e de onde, uma a uma, as verdades se erguessem; eu não teria senão que me deixar levar, nele e por ele, como um destroço feliz.” E a instituição responde: “Não tens por que temer começar; estamos todos aqui para te mostrar que o discurso está na ordem das leis; que há muito tempo que se cuida da sua aparição; que foi preparado para ele um lugar que o honra mas o desarma; e que, se lhe acontece ter algum poder, é de nós, só de nós, que ele o obtém.” p.9 Mas o que há afinal de tão perigoso no facto de as pessoas falarem e de os seus discursos proliferarem indefinidamente? Onde está então o perigo?

p.9 Hipótese: {o discurso está na ordem das leis} (...) suponho que em toda a sociedade ...

p.10 {I - Procedimentos de exclusão. O mais evidente, o mais familiar é o interdito. Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que não é qualquer um, enfim, que pode falar de qualquer coisa.

{abaixo, o modo como a professora Eneida Leal organizou o texto}

LET 679 – SEMINÁRIOS AVANÇADOS IV

Seminário I – FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso

Hipótese: O discurso está na ordem das leis: “em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por um certo número de procedimentos que têm por função esconjurar os seus poderes e perigos, dominar o seu acontecimento aleatório, esquivar a sua pesada e temível materialidade.”

I – Procedimentos de Exclusão – exercidos do exterior do discurso, limitam seus poderes.

1 – O interdito a) Tabu do objeto

b) Ritual de circunstância

c) Direito do sujeito que fala

2 – Oposição Razão X Loucura (distinção e rejeição)

3 – Oposição Verdadeiro X Falso (vontade de verdade = vontade de excluir)

II – Procedimentos de controle – exercidos no próprio discurso

A) Princípios de classificação, ordenamento e distribuição – dominam suas aparições.

1 – Comentário (repetição e retorno ao já dito)

2 – Autor (agrupamento, coerência, unidade de significações, coerência, fonte/origem)

3 – Disciplina (jogo restrito de possibilidades, materialização permanente das regras)

B) Sistemas de restrição – rarefação dos sujeitos que falam

1 – Ritual (qualificação dos sujeitos que falam)

2 – Sociedades de discurso (espaço fechado de circulação)

3 – Doutrinas (partilha de um só e mesmo discurso define a pertença)

4 – Apropriação social dos discursos (sistemas de Educação)

III – Temas da Filosofia – que elidem a realidade do discurso

a) Sujeito fundador (funda horizontes de significação a serem explicitados, explorados, desenvolvidos)

b) experiência originária (reconhecimento primitivo / significações anteriores)

c) Mediação universal (discurso como reverberação de outra coisa / confinamento na ordem do significante)

IV – Tarefas propostas

a) questionar a vontade de verdade

b) restituir ao discurso o caráter de acontecimento

c) erguer (suspender) a soberania do significante

V – Método

1 – Princípio de inversão (examinar o controle e a rarefação dos discursos)

2 – Princípio de descontinuidade (tratar os discursos como práticas descontínuas/justapostas)

3 – Princípio de especificidade (conceber o discurso como violência, prática imposta às coisas)

4 – Princípio da exterioridade (partir do próprio discurso, como acontecimento, sua aparição, regularidade, condições de possibilidade)

VI – Noções reguladoras da análise ( X noções que “dominaram a história tradicional das idéias”)

1 – Noção de acontecimento (X noção de criação)

2 – Noção de série (X noção de unidade)

3 – Noção de regularidade (X noção de originalidade)

4 – Noção de condição de possibilidade (X noção de significação)

VII – Alternativas de trabalho

a) a Crítica

b) a Genealogia

Resumos e resenhas de Isaías Carvalho no

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