estudos de cultura

Doses de Saber

Resenhas e Resumos

Isaias Carvalho, 2010

Sobre os “estudos de cultura”

JAMESON, Frederic. Sobre os “estudos de cultura”. In: Novos Estudos CEBRAP, n. 39, trad. John Manuel Monteiro e Otacílio Nunes, p. 11-48, julho, 1994.

Esta é uma resenha de uma resenha, pois Frederic Jameson, em “Sobre os ‘estudos de cultura’” (In: Novos Estudos CEBRAP, n. 39, trad. John Manuel Monteiro e Otacílio Nunes, p. 11-48, julho, 1994), de fato faz uma resenha da coletânea Cultural Studies (GROSSBERG, Lawrence; CARY, Nelson; TREICHLER, Paula A. (Orgs.). Nova York: Routledge, 1992). Trata-se da reprodução dos quarenta e um textos de uma conferência sobre a área dos estudos culturais em Urbana-Champaign, no primeiro semestre de 1990. A idéia principal desse ensaio resenhístico de Jameson vem explicitada em seu resumo: “embora os Estudos de Cultura possam ser vistos como uma planta arquitetônica para uma nova disciplina acadêmica, Frederic Jameson prefere abordá-los em termos políticos e sociais, enquanto um projeto para constituir um ‘bloco histórico’ no sentido gramsciano – uma aliança projetada entre vários grupos sociais –, constituindo-se, assim, numa espécie de substituto do marxismo” (p. 11). Assim, ele faz um inventário dos assuntos e recortes dos textos da coletânea, cabendo nesta resenha apenas anotar alguns deles, começando por Raymond Williams, tido por Jameson como “um dos ícones ainda minimamente operativos do novo movimento” (p. 24). De fato, o que importa na resenha de Jameson é sua análise crítica e sintética, após citar vários autores e textos da coletânea.

É relevante apontar que Jameson considera seu “comentário” a respeito da conferência como tendo a forma de “um diagnóstico desse evento em particular e da ‘idéia’ de Estudos Culturais que ele encarna”. E acrescenta que deve pôr suas cartas na mesa, no melhor estilo do próprio campo – o estabelecimento relacional e contextual do lugar de fala –, assumindo uma postura ‘processual’, isto é, um posicionamento não-teleológica, dando privilégio à discussão mesma do campo e as articulações que se estabelecem aos poucos com as demais disciplinas tradicionais. Após essa ‘contextualização’, deve-se pontuar de modo breve as problemáticas mais importantes do texto, a saber: grupos, marxismo, o conceito de articulação, cultura e libido, o papel dos intelectuais, populismo, geopolítica e utopia. Pode-se dizer que desses tópicos destacam-se “grupos” e “utopia”, enquanto os demais conceitos são abordados como subsídio para a argumentação. Por esse viés, Jameson demarca as interseções dos Estudos Culturais com algumas das disciplinas estabelecidas, como História e o Novo Historicismo, a Antropologia, a Sociologia e a Comunicação. Quanto à última, afirma ser a que mais aparenta apta a fazer articulações com o campo da crítica cultural, pois “só os programas de Comunicações são tão recentes para coincidir em muitos sentidos (incluindo o pessoal) com o novo empreendimento [...]” (p. 15).

Destaque também deve ser dado ao conceito de articulação, vez que se constitui o que de mais próximo de uma teoria (mesmo que não uma “grande teorização” ou “grande narrativa”) pode ser apontado nesse campo, pois “implica uma espécie de estrutura rotativa, uma troca de íons entre várias entidades, na qual as pistas ideológicas associadas a uma delas atravessam e se misturam com a outra [...]” (p. 27). Ao final de sua resenha, aborda o tema dos grupos, considerados ‘entidades imaginárias’ e sempre conflitivas. E conclui que é necessário considerar a dimensão utópica que impregna o campo e que diz respeito ao papel e à posição do intelectual, seja como ‘groupie’, ‘fã’ ou ‘intelectual orgânico’. Portanto, em seu texto, Jameson dá (e aprende) lições que levam para a consolidação dos Estudos Culturais como uma metodologia de ‘leitura’ do texto do mundo a partir de uma posição plural e engajada.

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Itabuna/Ilhéus, Bahia, Brasil