estes indomados

Ilustrações e Capa

Wellington Mendes

Planejamento Gráfico

João Soares

Revisão

Conceição Paranhos

Rita Aragão Matos

Colaboração

Dilson Midlej

Luciano Paiva Nóbrega

Edição do Autor

Salvador, 1997

Estes

Isaias Carvalho (1997)

III

Estes Indomados

Minha casa

Minha casa não é só minha.

Divido-a com imagens,

miragens e reflexos,

que vagueiam, insinuantes,

num pêndulo.

(consciência-inconsciência).

Preso de tais pensamentos

paro,

e penso que pensar é vício, sina, pena.

Fuligem Poética

Ad-verbo

Hipoteticamente, cometerei todos os erros

humanamente permitidos.

Idealmente, sou capaz,

conscientemente, de esmagar

cruelmente, o amor mais puro.

lentamente torturar a beleza, aniquilar,

reciprocamente, com poesia, guerra,

com guerra, poesia.

Friamente executar o criador,

Tardiamente, a criatura.

Então, a mim mesmo.

Hedonisticamente, avermelhando o que ouse.

Ontologicamente, ser,

lançando-me em um abismo.

Indefinidamente, amoral.

Opostos não têm sentido,

apenas o tédio

pastoso, húmus dos restos

do projeto humano.

Ética

Evito te matar.

Não por bondade.

Não te amordaço

ou te acorrento.

Não por ser justo.

Não te violento.

Não penses que sou puro.

Procuro não de todo te ignorar.

Não sou essencialmente gentil ou democrático.

Eu te amo:

poderia te odiar.

Considero-te íntegro, oh, outro,

apenas por necessidade pragmática,

ou da gramática.

Se preciso seguir

sem que me venhas a

aniquilar,

calar,

enjaular,

estuprar,

esquecer

ou a me odiar, sem porquê.

(Im)potência

Conquistaria todos os tesouros,

toda a sabedoria,

todas as mulheres

defloraria.

O sétimo dia

Um deus bêbado

e só,

perdido

em uma dessas ilhas do universo.

Adormecido,

sonhou de terras,

belos seres, janelas e mares, e mais.

Ao despertar

viu seu sonho de pé.

Tentou alcançá-lo.

Percebeu que sua criação

se arrumara em realidade. Autônoma.

Então, seguiu,

para o próximo botequim.

Edipiana

Ao estrangeiro,

invasor de meus sonhos:

revela-te ou me devora!

Natureza felina

Dois gatos brincam no mármore branco.

Um gato sou eu,

o outro, outro eu,

um gato és tu,

o outro, outro tu.

Dois gatos,

natureza

de movimento e mármore,

pêlos ferinos, agilidade.

Dois gatos,

ato.

Gatos brancos, branco mármore,

gatos de mármore,

apenas

o frio mármore.

P

Vapores, poeiras,

lama

sobre o teu corpo

não me impedem:

pedem minha língua

sobre a tua pele.

Fálico

Pendes em natural iminência, só,

Entre fêmures trêmulos ao toque.

Narciso, quando te sentes modelo,

Inflamado,

Sangue.

Estes

(in)versos