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O homem da rádio e o poeta da condição humana (II)

As características e limitações da humana condição são tema da poesia de Coelho de Sousa

Esse Mistério dos Olhos

Dos teus olhos, o olhar,

que mistério que ele traz!

Pode ser da calma a paz

Ou tempestade de mar...

Que não lhe falta o sal,

Para ser o olhar salgado...

Num olhar, o bem amado!

num olhar, quem sabe, o mal!

Diz Diogo de Tovar:

São testemunhas os olhos,

Do que sente o coração.

Põe cuidado ao teu olhar!

"Eu antes quero

muda expressão.

Os lábios mentem,

os olhos não".

Disse o Bocage engenhoso

E Vicente de Areoso,

nota assim e tanto bem,

que não se engane ninguém:

"As palavras nunca dizem,

nunca conseguem dizer,

Metade que os olhos dizem

Que os olhos dizem, sem querer"

Não brilham mais as estrelas

do que uns olhos a brilhar....

Eles são da alma as janelas.

Põe cuidado ao teu olhar!

O mistério do olhar

Não se pode compreender

facilmente e sem perigo...

Tem cuidado ao teu olhar

Ouvinte, se és meu amigo,

Sejas homem ou mulher,

Peço, não vás tu mudar

esta onda, este programa...

Eu venho hoje acender

Nos teus olhos uma chama

Que há-de ser a brilhar

Nos teus olhos, o olhar...

Deixa a casa onde tu moras

E deixa a terra onde vives,

Pessoas com quem convives

E tudo o mais que te prende.

Vem ver da luz esplendente

O raiar doutras auroras...

Vem comigo ao Oriente.

Não custa nada sonhar.

Faz de sonho o teu olhar,

No mistério dos teus olhos.

E vem comigo.

Eu também,

Por sobre abismos e escolhos

Não irei só... vou contigo...

Sabes que mar é aquele?

De Tiberíades, é o lago...

E não vês, além, é Ele

Que traz no olhar o afago

Do perdão e do amor!

É Cristo Nosso Senhor.

Chega-te aqui, vem depressa

Antes que outrem te impeça

à praia vê-lo chegar..

Tem cuidado ao teu olhar...

Não o prendas a mais nada...

É Ele! É Ele que passa.

Repara, ouvinte, na graça

Com que olha a multidão

Que o espera extasiada...

Que põe no olhar a sua alma

-Como fora broa em mão

Como fora em mão a palma!

Dizem que vem de curar

a menina que era morta

ele abriu de novo a porta

à vida num só olhar...

Ouvinte

Eis o milagre de ver

O que nunca fora visto.

Nossos olhos no olhar,

No olhar do mesmo Cristo

Ouvinte

Volta à tua casa,

e para junto dos teus...

Este milagre dos olhos

Faz pensar em nossos olhos.

Olhos com vida e sem vida...

Não têm língua mas falam

Não têm lábios mas beijam

Não têm braços e abraçam.

Olhos que aprovam e louvam

Olhos sorrindo ou chorando!

Por eles o mundo é nosso...

O mar cabe numa concha

E o céu dentro de nós...

Ninguém pode calcular

quanto vale o nosso olhar.

Repara naquele ceguinho

Que vai na rua sozinho...

Podes ser assim um dia.

Tens a vida nos olhos...

E todos tem os seus olhos

no rumo da sua vida!

A vida que é para ti!

O nosso olhar

e o seu mistério profundo

Quem o pode adivinhar!

Ouvinte,

Tem cuidado ao teu olhar!

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O outro rosto de Coelho de Sousa na internet:Alamo Esguio

Créditos:Dionísio Sousa Contactos:dionisiomendes@gmail.com