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O homem da rádio e o poeta da condição cristã(I)

Peregrinar :Resumo da condição cristã.

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O peregrino

Vem... Não tenhas medo.

Já passei por aqui tanta vez...

E já fiquei aqui tantas horas sozinho...

E sempre a mesma a luz daqui e... do caminho...

Olha... repara... não vês?

Além naquela pedra... aquele rochedo

as letras cor de sangue e a luz a arder?

- Sim... E ?

- Vem daí.

Não estejas a tremer...

Já leste o nome? É bom esse sorriso...

Então inda tens medo? Ele é Tarciso.

Já vês que estamos bem acompanhados...

Tarciso... o das pedradas... Que levava

O Sol dentro do peito sob as suas mãos...

- Espera... E esta lousa esconde,

aquela que morreu, onde?

Um dia?

E que tocava

angelicais acordãos

em divinais teclados?

Cecília...

- Vem, não tenhas medo...

Ai que bem me sinto

neste labirinto

que não tem segredo

há muito para mim...

Sim!

Imenso! Este poder imenso

que ás feras deu vencida,

ao fogo e à forca,

alforge e cruz!

Imenso! Este poder imenso

É luz,

é vida.

- Repara nesta pedra, a grelha desenhada.

E lê o nome de Lourenço!

- Aqui é tudo... o mundo é nada.

Isto,

a tumba de Calixto

O grande herói...

E lê milhares e milhões,

as legiões

de quantos foram por aquele que foi

No abraço de uma cruz...

E é eternamente

o bom Jesus!

Vem daí, comigo.

Porque há-de ser somente após a morte

que à terra hás-de pedir abrigo?

À volta desta pedra, a caridade ardeu em ágapes do céu...

Aqui Sebastião se armou o cavaleiro

Que as setas não venceram.

Daqui Inês levou branco cordeiro.

E Filomena a força a que prenderam

as âncoras do mal que a não mancharam...

Aqui se alimentaram,

tantos, tantos... Que a cidade que pediu

pão e jogo

não sabia que às vezes

não é o muito fogo

que mata o frio,

nem a mesa cheia que nos mata a fome.

À volta desta pedra... amigo...

nasceram mil vitórias

No Coliseu.

Nos tribunais!

Vem, Eternas glórias, não pares mais

Vem comigo

Da terra ao céu,

Abre essa mão

e apanha desse chão

das catacumbas

a terra que é sagrada,

assim erguida,

ara beijada...

Jura... Jura pela tua vida

Serei de Deus!

Serei...

E deixarei

os versos de Virgílio,

de Plauto e Tito Lívio

Quintiliano e tudo.

Meu Deus irei...

Que alívio!

Além de Roma

e mais suas mulheres...

Além dos vinte anos com os seus prazeres...

Irei, Senhor... Eu vou

Senhor, eu juro:

Hei-de ser puro.

E como fora incenso a minha vida

Hei-de queimá-la grão a grão em teu altar...

Senhor, esse Verbo ardente

que deixaste à gente

em páginas de lume

há-de ser perfume

em letras de latim...

Serei o tradutor

do teu amor

no Ocidente...

Senhor eu juro... Eu vou...

Sou teu... teu... teu...Sou!

E ele jurou... e cumpriu...

E deixou Roma e fugiu...

E fez-se o peregrino do Senhor

após aquele dia que o seu amor

se fez a companhia dentro da terra,

nas catacumbas.

Anda a tua alma tão cheia

de vida nova

que de Tréveris a Aquileia,

ânsia eterna se renova

Mais longe... muito mais longe!

Foge... Foge...

Viera da Dalmácia antiga...

A sua terra natal: Estridão...

Mas não haverá quem consiga

que a cidade, o coração

dê a Deus que está no ceu

Pois há muito que já o deu

ao Deus que traz na barriga...

E ele... foge... foge...

Há pedradas pelo ar...

Não o querem no seu lar

os irmãos do Lupicino...

Mais longe. Muito mais longe...

Pois é este o teu destino!

E foi...É cumprido o juramento.

Não há caminho nem tempo

que se não possa vencer...

Além de Antioquia...

Além do mundo aberto

a todo o mal...

Além naquele deserto

A vida monacal,

De Deus na companhia.

Jardins de sua casa,

e lauta a sua mesa

e o lume que abrasa.

As letras e a grandeza,

tudo foi embora...

Agora

é outra a sua paixão

sonhar... e escrever

na solidão

doce viver

de Paulo e Marco e Hilarião

E novamente a jura...

Essa paixão de ler...

Compreender a Escritura.

Jesus,

o Verbo ardente

que deixaste à gente

em páginas de lume

há-de ser perfume

em letras de latim.

É muito para mim

que eu não valho nada

mas hei-de ser o tradutor

do teu amor,

no Ocidente...

À fonte, à tua língua amada

hei-de ir beber profundo

e há-de, depois, ir comigo... o mundo.

Serei o tradutor

do teu amor

no Ocidente...

É mesa de escrever, a pedra.

É cama de dormir, a pedra.

O travesseiro é pedra.

E pedra... a pedra de bater no peito...

Que é negro o corpo e já desfeito

em tanto sacrifício e dor.

E, no entanto, a carne engendra

em mal a tentação...

O coração

está no céu...

Somente a doida imaginação

não envelheceu

e lembra o lupanar de Roma

e quanto aroma

embriagou a juventude,

mau grado as juras de virtude...

É peregrino... o herói...

Voltou para as cidades.

E a Constantinopla, um dia também foi...

Aqui Gregório Nazianzo

erudição a par

E ele o peregrino

que não traz destino

aceita o seu pensar

e abre ao Ocidente

tesoiros de saber

guardados nos infólios do Oriente...

Um Papa Lusitano reina em Roma,

E todo o mundo sabe já a soma

de quanto o peregrino aprendeu.

E Roma eterna recebeu

Com palmas e festões

e mil carinhos

O peregrino dos caminhos

do saber de Deus!

E o Papa lhe mandou

rever a Bíblia...

E também a inveja

com a vil perfídia

o martirizou...

E até dentro da Igreja

o mal o perseguiu.

Jurou... Jurou...

Cumpriu...

De novo peregrino,

diz adeus a Roma, e fugiu...

para não voltar...

Belém! Belém!

Aqui parou a sua estrela...

Aqui se ergueu a cela...

Devora as escrituras

Às claras e às escuras,

estuda, estuda sem cessar...

A vida a mais de meio.

Mas quando a mão cansar

e se acabar a vida,

há-de ficar cumprida

a jura

de beber na fonte de água pura

a letra da Escritura,

que há-de ser a Vulgata...

A marcha triunfal

atinge o seu final.

E leão

que traz de amor em brasa o coração

Vai inclinar de Mauro a cabeça...

Melhor... muito melhor...

O mundo já começa

a ler, a saborear

as gotas de suor

as lágrimas de sangue

Que ele exangue

deixou no livro em aberto...

Agora toda a gente sabe as rotas

largas do deserto...

E o grande peregrino

vai subir à glória

do seu destino...

Cantar vitória

junto ao Senhor...

nada presa, a alma se desata...

morreu!

Voou ao céu!

E mão em mão

da boca ao coração

do coração à boca

nem um nem dois nem gente pouca

Humanidade inteira,

na terra inteira

Vulgata... Vulgata... Vulgata!

Ouvinte açoriano:

Perdoa se te fiz sofrer

com este enigma...

Já vais saber

quem era o peregrino:

Foi S. Jerónimo, doutor

e o seu destino

foi pôr em latim, o amor

que Deus inspirou e se escreveu

em toda a Bíblia...

S. Jerónimo

que os artistas pintaram

batendo a pedra no peito.

S. Jerónimo eleito

para o amor e a vida

que, embora o corpo perfeito,

traz a alma subida

na glória eterna de Deus!

Ouvinte açoriano,

É semelhante o destino

que o Senhor nos deu também.

Ser peregrino

Do longe... do longe,

do além.

Ouve,

o amor não tem fim.

E esse amor é a vida...

A vida...

que é para ti.

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O outro rosto de Coelho de Sousa na internet:Alamo Esguio

créditos: Dionísio Sousa contacto:dionisiomendes@gmail.com