ohomemdarádioedasvelhastradiçõesdailha(i

O homem da rádio e das velhas tradições da ilha (II)

A carta da América é uma velha tradição açoriana.

As outras páginas deste sítio:

Coelho de Sousa

Coelho de Sousa-o poeta do silêncio

Coelho de Sousa - o poeta da solidão ferida

Coelho de Sousa o poeta dos olhos de fogo

Coelho de Sousa o poeta enigmático

Coelho de Sousa - o poeta da Ilha-Do-Amor-Por-Vir

Coelho de Sousa - o poeta do salgueiro tenso

Coelho de Sousa o poeta da rua direita do sonho

Coelho de Sousa - o poeta da poesia do povo

Coelho de Sousa - o homem da rádio e da Ilha Terceira

Coelho de Sousa - o homem da rádio e da cidade de Angra

Coelho de Sousa-o homem da rádio e das velhas tradições da Ilha(I)

O homem da rádio e da poesia do mar

O homem da rádio e da poesia do mar-espelho

O homem da rádio e do mar-saudade

O homem da rádio e da poesia do natal (I)

O homem da rádio e da poesia do mar

O homem da rádio e da poesia do mar-espelho

O homem da rádio e do mar-saudade

O homem da rádio e da poesia do natal (I)

O homem da rádio e da poesia do natal (II)

O homem da rádio e da poesia do natal (III)

O homem da rádio e da poesia de Nossa Senhora (I)

O homem da rádio e da poesia de Nossa Senhora (II)

O homem da rádio e da poesia de Nossa Senhora(III)

O homem da rádio e o poeta da condição humana (I)

O homem da rádio e o poeta da condição humana (II)

O homem da rádio e o poeta da condição humana (III)

O homem da rádio e o poeta da condição humana(IV)

O homem da rádio e o poeta da condição humana(V)

O homem da rádio e o poeta de condição humana (VI)

O homem da rádio e o poeta da condição humana(VII)

O homem da rádio e o poeta da condição cristã(I)

O homem da rádio e o poeta da condição cristã(II)

O homem da rádio e o poeta da condição cristã(III)

O homem da rádio e o poeta da condição cristã(IV)

O homem da rádio e o poeta da condição cristã(V)

O homem da rádio e o poeta dos temas religiosos(I)

O homem da rádio e o poeta de temas religiosos (II)

O homem da rádio e o poeta dos temas religiosos (III)

O homem da rádio e o poeta dos temas religiosos (IV)

O homem da rádio e o poeta dos temas religiosos (V)

A resposta...

Querido Pai, querida mãe

José e Emilha Vintém

Minha mãe, querida mãe

está cansada de esperar

A resposta àquela carta

Que o teu amor quis mandar...

O tempo corre depressa,

Foi já há meses bastantes!

Mas nunca esquecem os pais,

os filhos que estão distantes...

Só agora vos escrevo,

pois só agora é que pude.

Deus queira que estejam bem

e de perfeita saúde.

Nós cá vamos bem. Melhor

Do que merecemos a Deus.

Meu marido e o meu filho,

Bem com todos os meus.

Ah! Se o mar tivesse atalhos

Quantos vezes eu já tinha

ido ter à vossa porta

E não iria sozinha

Pois meu marido também

vive num mar de saudade.

Acreditem os meus pais

que é a pura da verdade...

... ... ... .. .. .. .. ...

A nossa casa da serra

Era pequena oh! ié!

Mas não há outra mais linda

às portas de S. Tomé...

Gentes do Topo e Calheta

Toda a ilha e S.to Antão

Ao passar à nossa porta

erguiam alto a mão,

Apontando para as flores

que enfeitavam o jardim

da nossa casa. E os rapazes

Todos olhavam para mim...

Ai que saudades já tenho

de comer o pão de milho

E de ir tocar na eira

os bois puxando o trilho.

E os dias da vindima

pelo calor do verão!

E à noite o peixe assado

Na Fajã de S. João!

.... .... .... ........ ....

Se a demora em responder

foi assim interminável

foi para agora trazer

uma notícia agradável

Se Deus nos der saúde,

No princípio do verão

Embarcamos para os Açores

Vamos para S.to Antão

Há-de ser o verão inteiro

Que aí vamos passar.

Já penso que nunca chega

o dia de nos encontrar...

Levo coisas sem tafulho

Tudo quanto pede a boca

Levo frutas encanadas

que isto não é coisa pouca...

E levamos automóvel

para ir a toda a banda...

Que isto agora, em nossos dias

andar a pé ninguém anda.

Mando mais uns alvarozes

para o meu Pai vestir

Uma navalha e um cinto

e um relógio a luzir...

A suera e roupa inteira

que eu mando mais a caneta

É p'ra o meu Pai usar no dia

em que eu chegar à Calheta...

Mando uns brincos e um broxe

e um relógio p'ra mãe...

Toda a gente há-se dizer:

Que linda a Emilha Vintém

Mando um chapéu feito às rosas

e uns vestidos em veludo...

Uns sapatos de camurça

p'ra mãe vestir isto tudo...

Vai um lencinho de seda

E uma mala de plica...

Minha mãe! Em S.to Antão

Ninguém será tanto rica...

Isto é só o que eu nomeio,

pois levo três malas cheias

de vestidos e chapéus,

e de vidro muitas meias!

Levo ofertas aos parentes

do Cruzal e Entre-Ribeiras.

Para o Chico do Boeiro

Levo duas cigarreiras...

À madrinha do Loural

Vou levar um guarda-sol...

E ao Martins um clarinete

P'ra tocar nem rouxinol.

À minha tia Pulquéria

Vou levar um avental

Pois quero que ela me dê

Inhames do Rabaçal.

Levo camisas às flores

pra os filhos do Pedroso...

Quero que eles me dêem

do bom vinho do Cardoso.

Pois meu marido já disse

Isto há-de ser assim tudo...

Iremos também comer

lapas no calhau miúdo!

... ... ... .. .. .. . . .. . . . .

Mandem fazer no cozinha

uma grande chaminé

E a nossa casa há-de ser

a mais linda em S. Tomé...

Quero sobrados nos quartos

E cortinas nas janelas...

Que eu já mandei p'ra o correio

uma saca cheia delas...

Vou mandar 70 dólares

P'ra começar a despesa.

Minha mãe não se esqueça

de mandar fazer a mesa

Para pôr à Filarmónica

que nos há-de vir saudar

Quero bolos e suspiros

Giribita com folar...

E por falar no folar

À minha avó agradeço

o que ela nos quis mandar

AI! que bom, gostei imenso...

Na Páscoa se Deus quiser

Estamos em S.to Antão

Quero assistir ao seu bodo

E fazer coroação.

Oxalá que esteja vivo

O Luís do Poço, folião.

Há-de tocar e cantar

Na festa da coroação.

Em Julho, a festa de Lourdes

Há-de ser feita por mim.

Tenho já todo o dinheiro

para a festa até ao fim.

Minha mãe pode avisar

o senhor Padre Leonardo

E diga ao mestre da música

o Senhor Padre Bernardo.

Vou mandar uma tarola

Só para o mestre Simão

ir tocar à nossa casa

no dia da procissão.

Somente o que eu não queria

p'ra se não verem à rasca

era homens nesse dia

metidos dentro da tasca...

Ai, não há nada mais feio...

Ai, não há nada mais triste

do que ver um homem bêbado,

como aí já se tem visto...

Minha Mãe, querida mãe

Vou terminar estas linhas

que levam meu coração

cheio de saudades minhas...

Meu pai, meu santo pai

Prenda do meu coração...

É a tua Margarida

que te vem beijar a mão...

Do meu filho e meu marido

aceitai o nosso amor.

Todos queremos ir ver-vos

Se o quiser nosso Senhor

Muitos beijos e abraços

e saudades sem ter fim...

Não se esqueçam de rezar

mas sobretudo por mim...

Façam visitas a todos...

os que por nós perguntarem

Para vós queridos pais

são adeuses sem findarem.

Adeus! Mil vezes adeus!

Adeus pai e mãe querida...

Somos seu genro e neto

Tua filha Margarida...

S. José da Califórnia

Vinte e três do mês de Abril...

Sou Margarida Vintém

Cheia de saudades, mil...

Linque para a página anterior:

Coelho de Sousa-o homem da rádio e das velhas tradições da Ilha(I)

Linque para a página seguinte:

O homem da rádio e da poesia do mar

Créditos: Dionísio Sousa Contacto: dionisiomendes@gmail.com