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O homem da rádio e o poeta da condição humana (I)

As limitações da humana condição são um dos temas da poesia de Coelho de Sousa

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O Adeus de toda a vida

Mês de Novembro, a saudade...

No triste dobrar dos sinos

Adeus amargo e pungente

que passa por toda gente.

Na melopeia dos ais

Nas grinaldas sepulcrais

Mês de Novembro, irmã morte,

Rumo certo, ao certo norte...

Mês de Novembro em adeus!

Adeus, mãe, Adeus, querida,

Que eu já não posso co'a vida

E os anjos chamam por mim.

Adeus, mãe, adeus,!... Assim,

Junta os teus lábios aos meus,

E recebe o último adeus

Neste suspiro... Não chores,

não chores: aquelas dores;

Já sinto acalmar em mim.

Adeus, mãe, adeus!... Assim,

Junta os teus lábios aos meus...

Um beijo... um último... Adeus!...

E o corpo desmaiado

no colo da mãe caía;

E ela o corpo...só pesado,

Só mais pesado o sentia!

Não se lamenta, não chora,

E quase a sorrir dizia:

Que tem este filho, agora,

Que tanto pesa?... Não posso...

E uma a uma, osso por osso,

Com a mão trémula tenta

As mãozinhas descarnadas,

As faces cavas, mirradas,

A testa inda morna e lenta.

Que febre! Que febre! diz;

E em tudo pensa a infeliz,

Tudo que há mau lhe ocorreu

Tudo - menos que ( o filho) morreu!

Como nos gelos do norte

O sono traidor da morte

Engana o desfalecido

que imagina adormecer,

Assim, cansado, esvaído

de tão longo padecer,

Já não há no coração

da mãe, força de sentir;

Não tem já lume a razão

Senão só para a iludir.

Acorda, oh! mãe desgraçada,

Que é tempo de despertar!

Anda ver a essa arrumada,

As luzes que ardem no altar.

Ouves? É a mansa toada

Dos padres a salmear!...

Vamos, que a hora é chegada

é tempo de o amortalhar...

E os anjos cantavam

Aleluia

E os anjos clamavam

Hosana

Ao triste cantar da terra

responde o cantar do céu;

Todos lhe bradam: - Morreu!

E a todos o ouvido cerra.

Levai, oh! anjos de Deus,

Levai essa dor aos céus.

Com a alma do inocente

Aos pés do juiz clemente

Aí fique a santa dor

Rogando à eterna bondade

que estenda a imensa piedade

A quantos pecam de amor.

Adeus!

Esta palavra quem a não terá dito?

Adeus! repito:

Adeus

É um mar de saudade

inundando terra e céus...

Rios de pranto... e ternura

O coração a estalar...

Adeus! Esta palavra é mar...

cheio de sal e amargura...

Adeus!

Junto ao berço pequenino,

Diz a mãe ao seu menino

Que a sonhar fica a dormitar!

Adeus!

E na hora de partir

A tira-colo a sacola

Vai o menino p'ra escola!

Adeus!

É grande, é forte é belo

Entre lágrimas, saudades

Vai o menino ao Castelo...

Adeus! Adeus!

Ficou-se em casa linda filha...

Dobam linhas os seus dedos...

Que renda! Que maravilha!

Mas traz na alma segredos...

É um domingo de festa...

E a Maria tão modesta

Tem um vestido riscado

De tafetá em xadrez...

À esquina o namorado,

Nervoso - (A primeira vez!..)

- Adeus! Maria! E então?

Sempre é meu teu coração?

-É claro! Vamos embora!

Um outro adeus, nasce agora,

a caminho da Igreja...

Adeus Mãe! E adeus Pai!

Ai!

A sedução do dinheiro.

O menino é marinheiro

Foi-se embora... Embarcou...

Num adeus os pais deixou!

Vem um dia lá da América

Carta cheia de saudades:

Da pena lancei a mão

p'ra vos saber da saúde,

Mais cedo ainda não pude,

Não deixou meu coração.

A saudade, amargo fel,

tortura-me com prazer.

E o pranto alaga o papel,

Quando vos vou escrever...

Mesmo esta que aí vai

Quanto pranto ela recolhe!...

É como chuva que cai,

não passando que não molhe...

Uma só palavra diz

toda a minha saudade...

Adeus! Mil vezes adeus!

É esta a pura verdade!

Foi só este o comentário

Que os pais fizeram um dia...

Não há cruz sem ter calvário,

Nem morte sem agonia!

E a luz também se apaga.

Não há ausência sem dor.

Um adeus outro adeus paga

nas dívidas do amor...

Há-de vir um dia então

Em que junto do caixão

O adeus é mais pungente...

Adeus mãe... E pai adeus...

Hão-de dizer-nos de frente

Até nos verem nos céus!

Um adeus, terno desejo

De ficar e ir também...

A vida presa num beijo

do amor que alma tem!

Dizer adeus é a sorte

Do nascer até à morte

E tu e eu num adeus...

E toda a gente a partir...

A juventude a sorrir...

E a velhice sem q'rer ir!

Sonhos satisfeitos! Adeus!

Fecham-se os olhos: adeus!

Derradeira fala...adeus...

E a terra nos cala, adeus!

Ouvinte açoriano,

Dentro de todo o ano

Novembro é o mês do adeus

Que mais custa em nossa vida...

É mês que lembra os mortos

A quem adeus por despedida

Nós dissemos a chorar!

Adeus meu Pai... minha mãe!

Meu irmão...minha irmã.

Meu parente... Meu amigo...

Vou convosco...Vou contigo...

Nas asas duma oração;

A minh'alma... o coração...

Té o dia do encontro...

Que o amor é terno laço

Que ao céu nos há-de levar

Para em Deus nos abraçar...

Na morte não finda a vida

Que a vida se transfigura

na mais excelsa ternura

Da glória eterna de Deus!

E é esta a doce vida

Que há-de ser a nossa vida!

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Os textos originais do "Adeus de toda a vida"

O outro rosto de Coelho de Sousa na internet:Alamo Esguio

Créditos: Dionísio de Sousa contacto: dionisiomendes@gmail.com