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O Mar e a dor

Quando o Senhor fez o mundo

Era o mar bem mais pequeno.

Não era tanto profundo

E o seu bater mais sereno...

Qual buliçosa criança

Numa alegre roda-viva,

Maré cheia de esperança

Que não tem alma cativa.

Beijava as praias contente

Ou lenho que nele fosse.

Tinha um azul esplendente

E o seu sal era mais doce.

O mar também contava

Histórias lindas de amor

A uma rocha de lava

Que lhe deu Nosso Senhor

E tinha ricos presentes

de continhas de coral

Que em tardes de estio ardente

Dava ao seu amor ideal

Era feito um mar de azeite

Mansinho como um cordeiro

Que um luar branco de leite

Tinha nele o travesseiro

Pelo verão, as estrelas

Com seu corpo de ambrosia

Vinham banhar-se. Era vê-las

Espadanando alegria.

E o mar guardava segredos

Como escondia procelas,

Pois não dizia aos rochedos

O seu amor às estrelas...

Oh! mar imenso! Oh! mar lindo

Quem poderá celebrar

O teu encanto infindo

Que a mim me faz encantar!

Mas o milénios rodaram

E aumentaram suas águas,

Suas ondas se salgaram

dos nossos prantos e mágoas

E já do céu as estrelas

Não desciam para o banho

Pois vieram as procelas

Mais o dilúvio tamanho.

Oh! Mar alto, mar tão largo

Em cada onda que tens

Anda o sal do pranto amargo

Que choraram nossas mães!

Nesse teu olhar pisado

Cor de goivo e de martírio

Anda a sombra do pecado

Que manchou da alma o lírio.

Não é teu, que não podia

esse mal ser-te pertença...

Só é nossa a rebeldia

Só é nossa a vil ofensa.

Mas tu choraste, Senhora,

E o teu pranto foi um mar.

Ai! de quem não for agora

No teu pranto a alma lavar...

Foi, então, desde essa hora

Que o mar ficou mais salgado

Tinha o teu pranto, Senhora

E o nosso sal de Pecado...

*

É meia noite, é de dia!

É um milagre dos céus.

Pois nos braços de Maria

Eis um menino que é Deus!

Mas o menino chorou

E com Ele sua Mãe.

Foi assim que começou

Crescendo o sal que o mar tem.

Santo dos Santos! Presente!

Dos sete lumes o brilho...

Eis aqui o nosso Filho!

E o velho ancião que pressente

O tempo que já chegou

Olhos no céu e falou:

Sinal de contradição!

Este menino há-de ser

E oh! mãe, teu coração

Uma espada há-de sofrer!

E do mar a água salgada

Mais salgada inda ficou

No pranto que ela chorou

Ao sentir a aguda espada!

*

E foi o fim.

Então o mar bramiu furioso...

O sal ficou tão amargoso

Que o seu travor

Só pudesse o amor

de um Deus

Enfim

tragar..

Bateu de encontro à cruz

O mar salgado.

Mas foi da treva que nasceu a luz.

E o sal do pecado

Ficou a ser doçura

Redimida

em graça e na fartura

do amor que em morte trouxe a plena vida...

A vida que é para ti...

O sal e a dor!

É tudo amor!amor! amor

Oh! mar alto, mar tão largo

Em cada gota que tens

Anda o sal do pranto amargo

Que chorou a mãe das mães!

(Assim não há mar igual

Ao grande mar dos Açores.

É no mundo e em Portugal

Mar da Senhora das Dores.)

Das rochas da minha ilha

Eu me debruço e te beijo.

Uma luz em ti cintilha

Num afago e num desejo.

Tens um segredo qualquer

Que me queres revelar

Qual seja, podes dizer

Que o guardarei, lindo mar...

Qual seja não adivinho...

Tu bem vês que nada sei...

Vamos, mar, di-lo baixinho

Que em silêncio escutarei.

Sabes: não há mar igual

A este mar dos Açores.

Sou no mundo e em Portugal

Mar da Senhora das Dores.

*Nota: as quadras entre * estão riscadas com um traço da alto a baixo, com se o autor tivesse prescindido delas na rádio. Na dúvida, mantivemo-las.

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créditos: Dionísio Sousa Contacto: dionisiomendes@gmail.com