cadernos de artista (anexo lona)


O projeto cadernos de artista da LONA Galeria surgiu da necessidade de explorar outros suportes para a expressão artística. Eles se inserem em uma longa tradição que vem desde a Renascença. Todo caderno é um aparato cultural por excelência, que veicula conhecimentos, histórias e linguagens, com inequívoco caráter pedagógico. No caso dos cadernos de artista eles podem assumir distintas finalidades: suporte para teste de materiais e técnicas, bloco de notas, diário visual, ou uma mistura de todas elas. Eles são assim veículos de experimentação e memória da trajetória do artista. Os vinte e três artistas reunidos nesta exposição puderam, por meio de diversos tipos de cadernos, explorar ideias, conceitos e materiais. As técnicas utilizadas foram as mais distintas, indo do desenho às colagens, passando pela gravura e pintura.

Os cadernos utilizados por artistas em geral são grampeados, costurados, ou, como é o caso dos cadernos da LONA, estruturados através de espiral, que pode ser aberta, permitindo assim um reordenamento das páginas, ou mesmo sua remoção. Isso permitiu aos artistas mais liberdade para utilizarem técnicas que requerem as folhas soltas, caso da gravura, ou para testes de materiais. Por outro lado, cada folha quando removida, pode se tornar uma obra autônoma.

Embora os cadernos de artista possam assumir diferentes formas, existem alguns elementos que são comuns a todos eles. Eles se relacionam de maneira evidente ao ato de leitura, sendo assim uma experiência física e sensorial que, embora tenha implicações culturais coletivas, é essencialmente individual e íntima. Os cadernos, assim como os livros, por serem organizados através de uma sucessão de páginas, estruturam inevitavelmente uma sequência de leitura, neste caso basicamente visual. A ação do leitor/expectador de folheá-las o torna ativo e co-partícipe dessa narrativa visual, ele define o ritmo e duração de interação com a obra. 

Os cadernos de artista são obras autônomas, mas conectadas com as pesquisas visuais de seus autores. São testemunhos de um momento específico dessa produção e por conseguinte da história da arte de uma maneira mais ampla. Além das obras realizadas especialmente para este projeto, foram reunidos outros cadernos desenvolvidos ao longo da trajetória dos artistas. Eles, de maneira mais livre quanto ao formato e materialidade, ajudam a compreender o universo visual de cada um deles, ao mesmo tempo que demonstram as inúmeras possibilidades desse suporte. Suas páginas em branco tudo pode receber.


Éder Ribeiro, agosto, 2021

Élcio Miazaki constrói uma narrativa em torno do universo militar e particularmente da figura do cavalo, central nesta obra. Por meio de apropriações de fotografias analógicas, ou recuperadas na internet, ele recria um imaginário onde a relação homem e animal, ou sua simbiose, é o fio condutor.

Anexo Lona - 2021

curadoria_ Éder Ribeiro