Impulsos imitativos

Emulando os métodos do arqueólogo, do historiador e do colecionador, Élcio Miazaki coleta objetos simbólicos para em seguida, feito artesão, manipulá-los. Foi assim que o artista operou para, a partir do mundo militar, proceder à criação de um repertório que se faz familiar ao cotidiano civil, subvertendo as barreiras ideológicas a fim de investigar os pontos de coincidência existentes entre universos aparentemente tão distintos.

Fruto de um período de intensa imersão no próprio trabalho, Impulsos Imitativos traz algumas constantes na obra de Miazaki, como uma melancolia e a indicação de incertezas. As peças expostas apontam para condições típicas da vida militar, carregadas com uma sensível visada crítica que salienta questões importantes sem se deixar levar pela ofensa gratuita. Em tempos de polarização e intolerância, o artista nos faz questionar se o “cavalo montado” que oprime as multidões não seria o mesmo homem que abandona seu posto para engrossar o coro dos descontentes, sem se importar com as consequências.

Este homem, assim como qualquer outro, não estaria sufocado por um peso incapaz de suportar? Teria uma simples escolha determinado profundamente seu caminho? O general, o patrão, o governo, a família, a sociedade, talvez sejam formas de nominar algo que precisamos que se exteriorize de alguma maneira, mas que carregamos no mais profundo recanto de nosso ser.

Perdemos nossa identidade em benefício de uma máscara unificadora, que faz com que nos reconheçamos como parte de algo maior, que prove que não estamos sozinhos. Mas a segurança é violenta e a liberdade assustadora. Só com algum esforço vencemos a força invisível que nos paralisa, nos impedindo de dar aquele passo decisivo.

Quem somos e como nos mostramos? Poderia nosso papel social nos definir?

Ao optar pela simbologia das Forças Armadas para tratar de assuntos universais, o artista, mais que simplesmente revelar a alma que persiste camuflada pela rudeza militar, indica que somos todos soldados abandonados à própria sorte em um campo de batalha interior, cara a cara com nosso maior inimigo, aquela imagem que insiste em nos imitar e que não nos permite existir.

(texto de Alexander Santiago)

2019

- Memorial Municipal Getúlio Vargas - curadoria de Shannon Botelho - Rio de Janeiro - RJ

- CâmeraSete/ Fundação Clóvis Salgado - Edital de ocupação 2019 - curadoria de Alexander Santiago - Belo Horizonte - MG

2018

- 14ª Mostra Verbo (Galeria Vermelho/ Galpão Videobrasil)/ São Paulo - SP

- IX Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia/ Belém - PA

- 9º Salão dos Artistas sem Galeria. Galeria Sancovsky e Zipper Galeria. São Paulo/ SP

- Prendre corps/ Tomar corpo - Centre Culturel du Bresil/ França

2017

- 24º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande/ SP

- Hermes Artes Visuais - Projeto 'Mesmo Lugar'/ Qualcasa. São Paulo/ SP

- Programa de Exposições - MARP (Museu de Arte de Ribeirão Preto)/ comissão de seleção: Nilton Campos e Thais Rivitti. Ribeirão Preto/SP.