Retroceder/ Wagner Nardy

Estudos recentes permitiram novos entendimentos sobre os buracos negros. Atestam que todo o universo está sustentado numa rede de frágil equilíbrio e que quando esta rede se rompe, são formadas as ainda desconhecidas quedas sem fim. Portanto, a desarmonia provoca o estado de ruína e caos numa escala global. O artista Élcio Miazaki possui uma obra que nos leva a uma viagem no tempo de diversas formas. Inclusive, a partir de um vertiginoso declínio em retrocesso. Élcio parte da memória do poder estabelecendo daí metáforas isentando-as da ação do tempo. A partir da análise das estruturas políticas de poder Élcio, nos leva a pensar em escala universal. Sua pesquisa identifica sobretudo, as distopias como falhas, aberturas, defendendo que, o que nos resta é somente a fantasia do poder. Élcio parece chamar atenção para a urgência de um processo de regeneração institucional alertando que, sua total ruptura pode nos levar a rumos imprevisíveis, mesmo com todo o avanço tecnológico neste sentido. A este estado podemos chamar de buracos negros da História. O futuro parece um tempo possível mesmo diante de tantas incertezas. No relógio de Élcio porém, tudo que enxergamos do tempo é sempre seu espelhamento, ao contrário e distorcido por vezes. O artista defende que a concepção de tempo depende intimamente de outras variantes e não existe por si só; o corpo é livre de qualquer positivismo porém “Se você pular em um buraco negro, a sua energia de massa vai retornar para o nosso universo, mas num formato distorcido que contém a informação sobre qual era sua aparência, mas em um estado no qual não pode ser reconhecido facilmente. É como queimar uma enciclopédia. A informação não se perde, se você mantiver a fumaça e as cinzas. Mas é difícil de ler.” (Stephen Hawking) Estamos num momento crucial - de suspensão e de grandes decisões sobre o amanhã. Fato é, que a divisão e a ascensão de uma espécie de novo - conservador - normal pode desencadear um desequilíbrio pelo que, facilmente podemos cair e sermos reconhecidos apenas pela sombra de nós mesmos em algum lugar do nosso, já, recentíssimo passado.

Wagner Nardy

(curador)

15/05/2020