Jachaleria candelariensis (foto)
Na década de 30, Llewellyn Ivor Price chefiou a chamada Harvard-Brazilian Expedition, em parceria com o DNPM do Rio de Janeiro, trazendo a pesquisa paleontológica, pela primeira vez, a Candelária. Chegaram à região do Pinheiro e, desde então, o nome do município começou a fazer parte das citações do meio científico, especialmente com o achado do holótipo do então desconhecido animal Candelaria barbouri, um pequeno réptil, que desencadeia nas próximas décadas o achado de dezenas de outros de diferentes espécies. Nessa expedição, foram coletados vários outros materiais depositados nas coleções de Harvard, nos EUA, e no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
A história tem novo marco na década de 70, quando o Padre Daniel Cargnin ampliou a descoberta de afloramentos no município, incluindo o Bom Retiro, retirando dali muitos fósseis, hoje depositados nas coleções da UFRGS, PUC e no museu de Mata. No final dos anos 70, início dos 80, entra em cena o cientista professor Mario Costa Barberena, que amplia o conhecimento de nosso território e desenvolve aqui, como na região, a paleontologia do triássico brasileiro, encerrando, por motivo de doença e consequente aposentadoria precoce, sua atuação em 2002. Em 1979, uma das descobertas mais marcantes da equipe do professor Barberena, às margens da RSC 287, corresponde aos restos de um novo dicinodonte, que até então só tinha um similar conhecido na Argentina. A descrição deste material foi publicada em 1981, sendo o mesmo denominado Jachaleria candelariensis.
Na década de 90 os afloramentos de Candelária continuaram sendo visitados por equipes da UFRGS, PUC, UNISINOS, UFSM e FZB. Esta última, nos trabalhos de campo relacionados ao projeto Pró-Guaíba, descobre, entre outros, o primeiro espécime do dinossauro Guaibasaurus candelariensis. Em 2002, a UFRGS, sob o comando do Professor César Schultz, inicia a parceria com a curadoria do Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues e temos um novo marco na história. Dá-se um grande salto, a partir do qual a paleontologia se confunde com a história do próprio Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues, do seu corpo de Voluntários e com a imagem do Município com a adoção do mascote "Candino". Desde então, o número de afloramentos fossilíferos subiu para a casa das dezenas, e o número de animais inéditos aqui achados e descritos pela primeira vez, passa a ser expressivo e, juntamente com outros registros importantes, ultrapassam o número de 30 animais pré-históricos de espécimes diferentes.
Trabalhos científicos anunciando novas descobertas levam o nome de Candelária ao mundo científico, tornando citação obrigatória no estudo da formação dos dinossauros e dos mamíferos, contribuindo para afirmações da deriva continental com achados como Aleodon e Candelariodon, além de uma série de informações sobre a natureza no período triássico. A paleontologia hoje leva o nome de Candelária aos mais afastados rincões do planeta e traz a presença de pesquisadores das mais diversas partes, a conhecer nossas rochas e nosso acervo. Neste cantinho do Brasil, representamos o País na guarda dessa riqueza imensurável. Dignifica-nos aqui estarmos, e a responsabilidade pela proteção e o respeito, recai sobre todos os nossos ombros.
(Por Carlos Nunes Rodrigues, curador do Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues)
Fonte: Folha de Candelária/Foto: Folha de Candelária