Os Dicinodontes

As vacas do Triássico: os maiores herbívoros antes dos dinossauros

Reconstrução de um hipotético ninho de dicinodontes, baseado no achado de vários filhotes de Dinodontosaurus oliverai fossilizados juntos, mais um exemplar adulto da mesma espécie. Estes fósseis são parte da exposição permanente do Museu de Paleontologia “Irajá Damiani Pinto”, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (RS, Brasil). Fotografia de Cesar L. Schultz.


Os dicinodontes (Synapsida: Dicynodontia) foram os principais animais herbívoros entre o Permiano médio e o Triássico Superior (mais ou menos 260 – 200 milhões de anos) e tiveram distribuição cosmopolita, por todo o supercontinente Pangéia, sendo seus restos fósseis hoje encontrados em todos os continentes. No Brasil, as espécies de dicinodontes do Triássico conhecidas foram descobertas todas na região central do Rio Grande do Sul, o único Estado brasileiro onde é possível encontrar rochas dessa época.

O nome deste grupo, Dicynodontia, está relacionado com a sua característica mais evidente, isso é, a presença de dois grandes dentes caninos superiores, significando literalmente “dois dentes de cão”. Em geral, os outros dentes estão ausentes e, possivelmente, sua boca estaria recoberta por um bico córneo parecido com ao de uma tartaruga. Animais quadrúpedes, os dicinodontes tiveram hábitos e tamanhos bem diversificados ao longo de 60 milhões de anos de evolução, apresentando uma tendência geral no aumento de tamanho, desde o período Permiano até o Triássico. Em rochas do Permiano, de fato, foram encontrados animais de tamanho bem reduzido em comparação com os dicinodontes do Triássico Superior, com formas que chegavam até um mínimo de 40 cm de comprimento (encontradas na África do Sul). Por outro lado, as últimas espécies conhecidas (algumas das quais encontradas no sul do Brasil) podiam chegar até os três metros de comprimento ou, em casos extremos, podiam chegar ao tamanho de um elefante, como o encontrado na Polônia, com uma massa estimada de até 6-7 toneladas. Diversos achados de pequenos dicinodontes permianos, bem preservados e dentro de paleotocas, permitiram identificar comportamento e hábito fossorial nestas formas menores. Por outro lado, as formas de maiores (entre um cão de tamanho médio e um porco) do final do Triássico não apresentariam um hábito fossorial. Porém, a descoberta de vários indivíduos fossilizados juntos, em vários lugares do mundo, sugere que os dicinodontes do Triássico possuíam algum grau de gregarismo (viviam em grupos).

Junto com os cinodontes (e com os “pelicossauros”, exclusivos do Permiano), os dicinodontes constituíam um grande grupo animal antigamente conhecido como “répteis mamaliformes”, apresentando características consideradas tanto de répteis quanto de mamíferos. Hoje em dia, com um maior conhecimento e novas abordagens de estudos, sabemos que estes animais não têm qualquer relação com os répteis, pertencendo a uma linhagem de vertebrados bem distinta deles, os Synapsida (termo referido à morfologia craniana).


VER:

Referências:

Da-Rosa, Á.A.S. (2009) Vertebrados fósseis de Santa Maria e região, 480 p.

Nasterlack, T.; Canoville, A.; Chinsamy, A. (2012) Journal of Vertebrate Paleontology, https://doi.org/10.1080/02724634.2012.697410

Francischini, H. (2014) Dissertação de Mestrado – UFRGS, https://lume.ufrgs.br/handle/10183/94688

Sulej, T.; Niedźwiedzki, G. (2019) Science, https://science.sciencemag.org/content/363/6422/78

Romano, M.; Manucci, F. (2019) Historical Biology, https://doi.org/10.1080%2F08912963.2019.1631819