As principais técnicas/manobras da massagem clássica (deslizamento, pressão, percussão, vibração e fricção);
Conhecer os efeitos da manipulação através da massagem clássica analisar as indicações, precauções e contraindicações do uso da massagem terapêutica;
Compreender o sequenciamento dos movimentos da massagem.
A breve revisão da história da massagem que fizemos anteriormente demonstra que há técnicas diferentes e muitos modos de definir a massagem.
Abordaremos aqui o sistema criado pelo sueco Pehr Henrik Ling, que viveu entre os séculos XVIII e XIX, e é considerado o precursor da massagem clássica, também conhecida como massagem sueca ou relaxante. O foco do nosso estudo neste texto serão os movimentos tradicionais que compõem esse sistema (deslizamento, pressão, percussão, vibração e fricção), seus efeitos específicos e suas contraindicações comuns. Por fim, apresentaremos o sequenciamento da massagem clássica.
A massagem é tão antiga que a etimologia da palavra é incerta, podendo advir do Grego Arcaico massin (amassar), do Árabe mass ou do Hebraico mashesh (pressionar). Ao longo dos anos, várias definições foram aceitas. No Brasil, em 1990, o termo “massagem” passou a ser substituído por massoterapia.
A massagem clássica, também conhecida como massagem sueca ou relaxante, é um recurso que pode ser realizado com diversos objetivos terapêuticos e se refere a uma variedade de técnicas especificamente criadas com o objetivo principal de relaxamento muscular. Ela é feita aplicando pressão na musculatura superficial e profunda e fazendo os movimentos na mesma direção do fluxo sanguíneo.
A massagem de relaxamento e a massagem clínica ou terapêutica são consideradas distintas quanto a sua função. Massagem de relaxamento é o termo geralmente empregado para os clientes que não apresentam condições clínicas, a sessão para o corpo todo geralmente é realizada com objetivo final de relaxamento. A massagem clínica ou terapêutica aborda a dor crônica, as lesões e a imobilidade. O trabalho focalizado – e algumas vezes bastante localizado – aplicado para algumas condições clínicas como a artrite, a fascite plantar e a paralisia de Bell, por exemplo, é mais apropriadamente denominado massagem clínica, em vez de massagem de relaxamento. Em suma, o que difere ambas é o objetivo do tratamento.
Podem ser utilizadas técnicas de deslizamento (consiste em deslizar a mão sobre a área a ser tratada, com uma pressão constante, podendo ser superficial ou profundo); pressão (tecidos moles são pressionados contra uma estrutura ou entre si); fricção (aplicada para liberar e evitar aderências em estruturas profundas, com pressão forte e velocidade uniforme); percussão (série de golpes rápidos e alternados); vibração (realização de movimentos vibratórios com a mão em forma de concha).
É uma técnica na qual são aplicados movimentos lentos, de leves a profundos, com o mínimo de atrito e envolvendo grandes áreas de aplicação. São utilizados no início do tratamento para adaptar o paciente ao toque e fornecer informações sobre os tecidos do paciente ao fisioterapeuta. Também são úteis na união de sequência e final do tratamento. Geralmente os movimentos são realizados com toda a superfície palmar de uma ou ambas as mãos (alternadas ou em movimentos simultâneos) e em qualquer direção, porém rítmicos e sem perder o contato com a pele.
O deslizamento pode ser superficial ou profundo. No deslizamento superficial, será realizado um movimento lento e suave, com pequena pressão. Já no deslizamento profundo, as manobras são realizadas de forma ligeiramente mais intensa. A técnica denominada de Effleurage (do francês, effleur: deslizar) é muito similar ao deslizamento profundo, a diferença na execução é que nela deverá sempre ser respeitado o fluxo venoso e linfático e as pressões são crescentes no sentido do retorno venoso. Por essa razão, preferencialmente é utilizada no final do tratamento após a mobilização dos tecidos para direcionar os líquidos que foram mobilizados nas demais técnicas.
Ao receber essa técnica, o paciente é induzido ao relaxamento, pois durante o toque são estimulados os receptores superficiais teciduais. Outros efeitos fisiológicos incluem o estímulo da condução nervosa, através dos mecanorreceptores, o aumento do fluxo sanguíneo e consequente melhora do retorno venoso e de eliminação de catabólitos, a melhora da drenagem linfática que resulta na diminuição de edemas, além de redução da dor, da fadiga e ganho de mobilidade.
As técnicas de pressão constituem um conjunto de manobras também conhecidas como pétrissage (do francês petrir: amassar). Nas técnicas de pressão, os tecidos moles são comprimidos manualmente utilizando pressão. Diversos movimentos de massagem podem ser classificados como pressão, no entanto, abordaremos aqui: o amassamento (que é descrito isoladamente, por alguns autores), o pinçamento, a torção e o rolamento da pele. São manobras em que os músculos e os tecidos subcutâneos são alternadamente comprimidos e liberados. Objetiva mobilizar fibras musculares e tecidos profundos. Deve ser realizado com lentidão e com uma pressão significativa nos tecidos.
Amassamento associa pressão e liberação do tecido de forma alternada, geralmente realizada com movimentos circulares lentos (3 a 4 seg cada). A pressão é realizada durante metade do movimento. Neste momento, mão e tecidos superficiais se movem em conjunto sobre estruturas profundas que são liberadas na outra metade, quando ocorre o deslocamento da mão para outra área. Exigem uma pressão significativa nos tecidos para que os possíveis efeitos aconteçam. Essa técnica visa mobilizar as fibras musculares e tendíneas facilitando sua função. Existem muitas variações da técnica básica aplicada com a palma da mão (amassamento por compressão ou palmar), com ambas as mãos sobrepostas (amassamento reforçado), polpa dos dedos (amassamento com as almofadas dos dedos), dorso das falanges (amassamento com nós dos dedos) e polegares (amassamento com as almofadas do polegar). A escolha baseia-se principalmente no tamanho e formato da estrutura que será massageada.
Beliscamento ou pinçamento é uma técnica em que os músculos são erguidos dos tecidos subjacentes e comprimidos em movimentos circulares, geralmente na mesma direção das fibras musculares e então liberados. A pressão deve ser suficiente para o afastamento das estruturas, exercendo uma ação mecânica das fibras musculares com objetivo de adequar o funcionamento muscular e das articulações.
Torcedura ou torção consiste na compressão alternada da musculatura entre os dedos e polegares das mãos em oposição, enquanto avança ao longo do eixo do músculo trabalhado transversalmente às fibras musculares. O movimento ocorre pelo movimento de flexão e extensão dos punhos em um movimento similar ao de torcer uma toalha molhada. Tem objetivo muito similar ao pinçamento buscando adequar o funcionamento dos músculos e das articulações adjacentes. A pressão deve ser suficiente para agarrar os tecidos e a pegada pode ser adaptada para o uso das mão dos dedos a depender do tamanho das estruturas. Atenção especial para evitar "beliscar" o paciente causando dor.
Rolamento da pele é quando a pele e os tecidos subcutâneos são rolados sobre as estruturas mais profundas e visa principalmente à mobilização das estruturas subcutâneas e, consequentemente, melhorar a circulação da área movimentada. Para execução, as mãos repousam sobre os tecidos com os polegares em abdução. Posteriormente, realiza-se uma ação lumbrical formando uma prega de tecido entre os dedos, que é comprimida e empurrada para que ocorra a movimentação. Deve ocorrer lentamente e com cuidado para não gerar dor durante a aplicação.
Ao realizar as manobras de pressão, podemos obter relaxamento, melhora da circulação sanguínea e linfática local, melhora o metabolismo, alívio de dor e fadiga muscular, resolução de edemas crônicos e contraturas musculares, aumento da extensibilidade do colágeno, melhora da mobilidade da pele, tecidos subcutâneos e músculos.
Tapotatement (do francês, tapoter: percurtir). Envolve um conjunto de técnicas caracterizadas pelo golpeamento suave dos tecidos através de movimentos rítmicos e rápidos das mãos alternadamente. Busca estimular os tecidos pela ação direta ou reflexa.
Dentre os subtipos, temos as palmadas, as pancadas, as cutiladas e os socamentos. A diferença entre as técnicas é, basicamente, o posicionamento das mãos que influenciam na intensidade do estímulo e devem ser escolhidas dependendo da área a ser tratada.
Palmadas são realizadas com a mão em concha, que ativa músculos através de estímulo dos fusos musculares. As pancadas usam o punho frouxamente cerrado, utilizando as falanges e também estimulam músculos. As cutiladas usam geralmente a borda ulnar, mas pode ser adaptada com a ponta dos dedos para áreas menores, estimulando a pele, tecidos subcutâneos e músculos superficiais. Por fim, os socamentos são realizados com a borda ulnar e mão frouxamente cerradas e estimulam tecidos mais profundos.
Figura 7: A- Pancadas; B- Palmadas; C- Cutiladas.
Fonte: Domenico, 2008. Ao lado: Aplicação de cutiladas. Fonte: adaptado de Simão 2018.
Ao realizar as manobras percussão geram efeito estimulante geral, aumento da circulação e fluxo sanguíneo. Apresenta um efeito reflexo no qual terminações nervosas periféricas são estimuladas de modo a conduzir impulsos mais fortes. Ocorre na literatura também a descrição do efeito relacionado à melhora da higiene brônquica, porém, na fisioterapia respiratória já é uma técnica ultrapassada.
Baseia-se em manobras de agitação e movimentos trêmulos das mãos com objetivo de transmitir o movimento vibratório aos tecidos. Quando utilizada no tecido muscular, é estimulante por ativar o reflexo de estiramento. Também é descrita na fisioterapia respiratória para estimular a liberação de secreção pulmonar, porém na maioria das vezes a mão humana não atinge a frequência necessária para a eficácia técnica.
Aumentam a contração muscular lisa, mobilização de secreções (discutível), líquidos e gases, auxiliam na resolução de edemas e, em alguns casos, de nevralgia.
É uma técnica bastante diferente das descritas anteriormente. A massagem por fricção foi difundida por James Cyriax, podendo ser considerada um sistema de massagem próprio, pois pode atingir tendões, ligamentos e músculos. A manobra é realizada em movimentos circulares de compressão, realizados com um ou mais dedos (falanges) e podem causar um certo desconforto em regiões dolorosas. Têm como objetivo mobilizar a região e reduzir a dor, particularmente em regiões com aderências e inflamações crônicas. As fricções, normalmente são profundas e bem direcionadas, sendo assim, não é recomendada a utilização de lubrificantes para facilitar a manobra.
As fricções transversais são efetuadas transversalmente à fibra com movimentos circulares gradualmente mais profundos. A pele deve ser movimentada sobre os tecidos mais profundos. As fricções circulares são realizadas no eixo longo das fibras com as pontas dos dedos indicador, médio e anelar reforçados pelos correspondentes da outra mão, quando necessário. As duas técnicas requerem pressão significativa para atingir os tecidos profundos e é importante evitar que os dedos friccionem somente a pele para evitar lesões deste tecido. Além disso, você deve aumentar gradativamente sua pressão, permitindo ao paciente se acostumar com a sensação.
A aplicação de fricções causam lesão e inflamação controlada, gerando vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo local, além de promover maior mobilidade muscular e de tendões.
A massagem é promovida para provocar um certo número de respostas no corpo. Essas respostas estão relacionadas aos efeitos mecânicos diretos no tecido (p. ex., quebra de aderências), respostas reflexas que ocorrem secundariamente à estimulação dos nervos (p. ex., redução de dor) ou por meios psicológicos (p. ex., relaxamento sistêmico).
Em geral, os toques de massagem podem produzir diversas respostas, dependendo do segmento corporal, da quantidade de pressão aplicada e da velocidade do toque. Um toque leve e lento da pele resulta em relaxamento sistêmico. Toques rápidos e profundos causam um aumento do fluxo sanguíneo para a região, revigorando a pessoa em preparação para uma competição.
Como vimos nas descrições individuais, as manobras executadas nos tecidos dos pacientes exercem efeitos mecânicos importantes por meio de uma pressão e estiramento ritmicamente aplicados. A ação nos tecidos moles estimula receptores nervosos, assim os efeitos mecânicos originam uma série de efeitos fisiológicos importantes. Dessa forma, as manobras da massagem clássica estimulam o aumento do diâmetro dos vasos sanguíneos e linfáticos, com consequente melhora na circulação. Será perceptível o efeito da hiperemia reativa dos tecidos, que se tornarão mais ruborizados (avermelhados). Com a melhora circulatória, também será obtido melhoramento na remoção dos produtos catabólicos (por exemplo, produtos da fadiga e inflamação, como ácido lático), estimulação do processo de cicatrização dos tecidos e resolução de edemas. No sangue, promove aumento da hemoglobina e hemácias e, consequentemente, da capacidade de oxigenação do sangue. Há, ainda, a descrição de aumento do débito urinário, taxas de excreção de nitrogênio, fósforo e cloreto de sódio e aceleração no processo de cura.
Com relação aos efeitos fisiológicos no tecido muscular, a massagem clássica promove o relaxamento, aumento do comprimento dos músculos e eliminação de resíduos do metabolismo gerados pelos exercícios físicos. Algumas manobras estimulam o fuso muscular, facilitando a contração muscular embora não melhore a força diretamente. Devido à melhora da circulação sanguínea nos músculos e tecidos articulares, há melhora na extensibilidade do tecido conjuntivo.
O efeito no alívio da dor pode ser explicado através da “teoria das comportas de dor”. A informação nociceptiva é transmitida por fibras de pequeno diâmetro e lentas. Já a tátil é transmitida por fibras de grande diâmetro e rápidas. Quando realizamos a massagem, os estímulos táteis são conduzidos pelas fibras de grande diâmetro, fechando, assim, o “portão” para a passagem das informações nociceptivas, diminuindo significativamente a percepção de dor.
Com relação às vísceras abdominais, a massagem estimula o peristaltismo, melhorando a função intestinal. O efeito ocorre por resposta reflexa dos músculos lisos à pressão mecânica.
É importante destacar também os efeitos psicológicos da massagem, como relaxamento físico e mental, assim como o alívio da ansiedade e estresse, associados à redução da dor e à indução da sensação de bem-estar.
Outro efeito fisiológico que não é objetivo da massagem terapêutica é a estimulação sexual. Assim, o fisioterapeuta deve ter muita cautela e evitar a estimulação de zonas erógenas.
O conhecimento dos efeitos fisiológicos da massagem clássica conduz a uma descrição das indicações e contraindicações para a massagem e oferece segurança na aplicação das manobras para cada paciente.
As contraindicações da massagem são estabelecidas quando os efeitos fisiológicos obtidos geram malefícios ao paciente. As principais contraindicações da massagem são: doenças de pele (exemplo: psoríase), câncer, áreas de hiperestesia, distúrbios circulatórios com flebites e tromboflebites, infecção aguda (exemplos: osteomielite, artrite séptica, dermatite, miosite), fraturas, hemorragias, insuficiência renal, dores sem causa específica.
Existem as contraindicações absolutas e as relativas, dessa forma, cabe ao fisioterapeuta determinar com base em ampla avaliação dos riscos e benefícios de cada técnica. As contraindicações, quando houver, são locais, ou seja, a aplicação da massagem distante do local lesionado pode ser realizada sem problema algum.
As precauções para a aplicação da massagem incluem a realização adequada de avaliação fisioterapêutica e somente a partir dela traçar objetivos com as condutas bem definidas, ou seja, cuidadosamente observadas possíveis contraindicações da massagem para a situação clínica em questão. Além disso, garantir posicionamento adequado e seguro do paciente, manter medidas adequadas de biossegurança, monitorar as respostas do paciente e reavaliá-las para adequações no tratamento, se necessário.
Na prática clínica, encontramos diversas formas de utilização da massagem, sendo as mais utilizadas a massagem relaxante e a clínica. Na primeira, o objetivo é o relaxamento, enquanto na clínica é a redução do sintoma. Apresentaremos algumas sequências utilizadas que servem como sugestão e, certamente, adaptações podem e devem ser realizadas de acordo com os objetivos individuais traçados para seu paciente. A frequência e duração também dependem e devem atender aos objetivos. Por exemplo, se o foco é uma região específica, o tempo de aplicação também é reduzido.
A sequência básica recomendada é:
Observe na imagem abaixo um exemplo de sequência básica para massagem clássica:
CASSAR, Mario Paul. Manual de massagem terapêutica. São Paulo: Manole, 2001.
CLAY, J.H.; POUNDS, D.M. Massoterapia clínica: integrando anatomia e tratamento. 2. ed. Barueri: Manole, 2003.
DOMENICO, G.D. Técnicas de massagem de Beard: princípios e prática de manipulação de tecidos moles. Barureri: Manole, 2008.
ELLSWORTH, A; ALTMAN, P. Massagem: Anatomia Ilustrada - Guia Completo de Técnicas Básicas de Massagem. 1. ed. Barueri: Manole, 2012.
SIMÃO, D., et al. Massoterapia. 1. ed. Porto Alegre : SAGAH, 2018.
VASCONCELOS, G.S; MANSOUR, N.R; MAGALHÃES L.F. Recursos terapêuticos manuais. Porto Alegre: SAGAH, 2021.
VERSAGI, C.M. Protocolos Terapêuticos de Massoterapia: Técnicas Passo a Passo para Diversas Condições Clínicas. 1. ed. Barueri: Manole, 2015.
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Gabriela Rossa
Diagramação: Vinicius Ferreira
Ilustrações: Marcelo Germano
Revisão ortográfica: Ane Arduim