A entender o processo de avaliação de um paciente;
A compreender os conceitos e definições de semiologia fisioterapêutica;
A conhecer as fases pertinentes à tomada de decisões;
A identificar as etapas que capacitam o fisioterapeuta a planejar um tratamento efetivo de acordo com as necessidades do paciente e dos membros da equipe de saúde.
Neste primeiro capítulo, abordaremos o assunto TOMADA DE DECISÕES, também denominada como RACIOCÍNIO CLÍNICO. Trata-se do estudo das etapas do processo de acompanhamento profissional do paciente, onde aprende-se a estabelecer estratégias e organização das atividades a serem desenvolvidas com o paciente.
Essas etapas são progressivas e descritas como: Exame do paciente, Avaliação, Diagnóstico, Prognóstico e plano de tratamento, Intervenção, e Resultados. Ainda, neste capítulo, visando a formação do aluno sobre as fases de TOMADA DE DECISÕES, apresentamos conceitos e definições de alguns termos pertinentes ao assunto, nominamos equipamentos que serão utilizados para a semiologia fisioterapêutica e apresentamos algumas condições do paciente que são importantes para a boa relação entre profissional da saúde e paciente.
Bons estudos!
É uma palavra originária do grego (semeîon = sinais, lógos = estudo), que significa o estudo dos sinais e sintomas das doenças, ou seja, trata dos meios e modos de se examinar um doente.
Estado de bem-estar físico, mental e social completo, e não meramente a ausência de doenças e enfermidades (O’SULLIVAN, 2018). Definição originária da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1946.
Condição patológica com grupo característico de sinais e sintomas que afetam o corpo; de etiologia conhecida ou desconhecida.
Qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo.
É a impossibilidade de realizar uma função como decorrência de um “comprometimento”. É o problema que um indivíduo pode ter na função (funções fisiológicas dos sistemas) ou estrutura (partes anatômicas do corpo) corporal.
Dependência: exige algum tipo de ajuda humana ou de órtese.
Dificuldade: consiste em executar uma tarefa, porém com uma sobrecarga maior (extra), apresentando compensações corporais.
Avaliação fisioterapêutica: ocorre por meio de procedimentos que visam identificar as limitações funcionais do paciente. São etapas desta:
Anamnese;
Verificação de exames complementares (laboratoriais e de imagem);
Exame físico.
São as manifestações objetivas, reconhecíveis por meio de inspeção, palpação, percussão, ausculta ou meios subsidiários (p. ex.: edema, cianose, tosse, presença de sangue na urina).
São as sensações subjetivas anormais sentidas pelo paciente e não visualizadas pelo avaliador (p. ex.: dor, má digestão, náuseas).
É a identificação do impacto de uma condição sobre a função em um sistema (especialmente o sistema motor) e na pessoa como um todo (O’SULLIVAN, 2018).
A avaliação bem executada do paciente é fundamental e nunca será demais ressaltar a sua importância. A experiência tem mostrado que os recursos tecnológicos disponíveis só são aplicados em sua plenitude e com o máximo proveito quando se parte de uma avaliação bem-feita. Pois, consequentemente a uma avaliação será possível formular um diagnóstico.
Assim, o DIAGNÓSTICO FISIOTERAPÊUTICO está relacionado à condição cinética funcional do paciente, enquanto que o DIAGNÓSTICO MÉDICO está relacionado a denominação da patologia do paciente, ou seja, se refere à identificação de uma doença, transtorno ou condição (patologia).
DIAGNÓSTICO MÉDICO: tendinite do supra-espinhal esquerdo.
DIAGNÓSTICO FISIOTERAPÊUTICO: limitação cinética funcional do ombro esquerdo com diminuição da amplitude de movimento (ADM), déficit de força muscular e parestesia.
DIAGNÓSTICO MÉDICO: acidente vascular encefálico (AVE).
DIAGNÓSTICO FISIOTERAPÊUTICO: hemiparesia espástica à esquerda com déficit de coordenação motora e alteração da marcha.
Está relacionado ao tempo de tratamento previsto para a melhora das funções. Neste momento, o fisioterapeuta deverá saber informar o nível ideal previsto de melhora na função e a quantidade de tempo necessária para chegar a esse nível.
Um prognóstico preciso pode ser determinado no início do tratamento para alguns pacientes. Para outros pacientes com condições mais complicadas, como um traumatismo cranioencefálico (TCE) grave, associadas a ampla deficiência e comprometimento de múltiplos sistemas, um prognóstico ou previsão do nível de melhora só pode ser determinado em várias partes durante o curso da reabilitação.
Dica:
Saber orientar o tempo de tratamento necessário.
Cuidado! Pode gerar ansiedade e expectativa ao paciente.
Devemos ser sinceros.
Cuidado com prognóstico fechado principalmente em encontros iniciais.
Estetoscópio
Esfigmomanômetro
Goniômetro
Martelo de reflexo
Caneta marca pele
Peak Flow
Manovacuômetro
Oxímetro
Cronômetro
A relação entre o profissional da saúde e o paciente deve ser baseada na ética perante as atitudes frente às condições limitantes de cada paciente, havendo uma comunicação assertiva e coerente ao grau de instrução do paciente.
Também é fundamental que o profissional da saúde demonstre interesse pelo caso e que envolva o paciente na escolha de seu próprio tratamento.
O paciente é visto como um participante ativo e parceiro que pode fazer escolhas conscientes e assumir a responsabilidade pela sua própria saúde. O profissional de reabilitação que enfatiza fortemente a importância de uma comunicação eficaz (orienta os pacientes, familiares e cuidadores, e ensina habilidades de autocuidado) é bem-sucedido em capacitar seus pacientes. Os resultados naturais dessa abordagem são a melhora nos desfechos do tratamento e a satisfação geral com o cuidado.
Habilidades afetivas e estratégias em lidar com as dificuldades. Neste item, estão incluídos fatores como autoestima, atitude em relação à imagem corporal, ansiedade, depressão e capacidade de lidar com mudanças.
Habilidades sensório-motoras necessárias ao desempenho das atividades de vida diária (AVD 's).
Capacidades intelectuais ou cognitivas de um indivíduo. Incluir os aspectos de iniciativa, atenção, concentração, memória, solução de problemas e julgamento.
Capacidade de interagir com outras pessoas socialmente.
A literatura sobre a adaptação psicossocial à incapacidade e doença crônica se divide em duas teorias opostas de adaptação: uma na qual a adaptação ocorre como um conjunto de padrões não sequenciais e independentes de comportamento, e outra na qual a adaptação ocorre progressivamente ao longo de uma série de fases.
O modelo de fases sugere que a reação do paciente à incapacidade ou à doença crônica segue uma sequência estável de fases, ou etapas, que são hierárquica e cronologicamente ordenadas. Essa progressão é gradual, linear e envolve a assimilação psicológica de alterações na imagem corporal e no autoconceito. As fases mais frequentemente identificadas na adaptação à incapacidade crônica e doença são:
O choque inicial: pode incluir incapacidade de se mover ou falar, insensibilização psíquica, diminuição na capacidade cognitiva, desorganização e despersonalização;
A ansiedade: atividade compulsiva, confusão mental, frequência cardíaca aumentada, dificuldade para respirar e sobrecarga cognitiva;
A negação: utilizada como um mecanismo de defesa para aliviar a ansiedade e a dor associadas a uma incapacidade ou doença;
A depressão: luto pela morte iminente, sofrimento ou perda da função do corpo;
A raiva interiorizada: reação à ansiedade, à percepção equivocada, a ameaças de abandono, a sentimentos de impotência ou ao medo de perder o controle. As características da raiva incluem hostilidade, ressentimento ou ódio;
A hostilidade exteriorizada: raiva direcionada contra outras pessoas ou objetos no ambiente e é uma tentativa de retaliação contra as limitações nas atividades;
O reconhecimento: paciente começa a integrar as limitações nas atividades em seu autoconceito. Durante esta fase, o paciente aceita a si mesmo como uma pessoa com uma incapacidade, desenvolve um novo autoconceito, reavalia valores e busca novas metas e significados;
O ajustamento final: fase final de adaptação e envolve o desenvolvimento de novas formas de interagir com sucesso com os outros e com o ambiente.
O raciocínio clínico (tomada de decisões) é um processo multidimensional que envolve uma ampla gama de habilidades cognitivas que o fisioterapeuta usa para processar informações, tomar decisões e determinar ações.
São etapas que capacitam o fisioterapeuta a planejar um tratamento efetivo de acordo com as necessidades do paciente e dos membros da equipe de saúde.
Avaliação da função ou disfunção (reunião de dados subjetivos e objetivos).
Envolve a identificação e definição do(s) problema(s) do paciente e os recursos disponíveis para determinar a intervenção apropriada.
É o momento em que o fisioterapeuta busca compreender os processos patológicos por meio de anamnese (histórico do paciente), verificação dos exames complementares e exame físico (testes e medidas).
Deve-se estabelecer contatos com os demais profissionais da área de saúde, caso necessário. Ter acesso aos prontuários dos pacientes, quando estão hospitalizados;
Obs.: Dados imprecisos podem levar a um plano de tratamento inadequado.
Neste momento, o profissional irá:
Organizar e analisar os dados coletados;
Identificar uma lista de problemas;
Problema primário: resultado direto do processo patológico;
Problema secundário: complicações resultantes a partir do problema primário.
O profissional de reabilitação identifica e prioriza as incapacidades, limitações na atividade e restrições na participação do paciente, e desenvolve uma lista de problemas.
Estabelecer prioridades: conforme os problemas identificados, devemos direcionar o tratamento.
O processo de diagnóstico inclui integrar e avaliar os dados obtidos durante o exame, para descrever a condição do paciente em termos que orientarão a escolha de estratégias de intervenção durante o tratamento e o prognóstico.
É necessário interpretar os dados da avaliação para determinar o diagnóstico. Dado o papel central dos fisioterapeutas como especialistas em movimento, o profissional de reabilitação precisa focar o diagnóstico nos resultados da análise da atividade e nos problemas de movimento identificados durante o exame.
O uso do diagnóstico fisioterapêutico visa:
1) possibilitar a comunicação bem-sucedida com colegas e pacientes/cuidadores sobre as condições que exigem os conhecimentos do fisioterapeuta;
2) fornecer uma classificação adequada para estabelecer normas de exame e tratamento;
3) direcionar a análise da efetividade do tratamento, reforçando o diagnóstico definido com a prática baseada em evidências.
Prognóstico: é o nível máximo previsto de melhora da função e a quantidade de tempo necessária para se alcançar um nível.
Plano de tratamento: serve para delinear o tratamento, pois nesse momento o fisioterapeuta vai planejar a intervenção fisioterapêutica a ser aplicada no paciente.
No plano de tratamento, o fisioterapeuta estabelece OBJETIVOS e CONDUTAS a serem desenvolvidos durante o processo de recuperação/reabilitação funcional do paciente.
OBJETIVOS: refere-se à sua meta, ou seja: é tudo aquilo que você pretende alcançar ao tratar o paciente. Os objetivos geralmente são descritos no infinitivo.
CONDUTAS: são as técnicas que você vai usar para o tratamento. Em outras palavras: é o caminho que você vai seguir para alcançar seu objetivo.
Exemplo:
Objetivo: aumentar a força muscular de quadríceps femural.
Conduta: Exercícios ativo-resistidos de extensão de joelho com caneleira de 2 Kg.
Orienta-se que o fisioterapeuta planeje objetivos e condutas em CURTO, MÉDIO E LONGO prazo!
Refere-se aos cuidados no tratamento, onde a intervenção fisioterapêutica é definida como a interação intencional do fisioterapeuta com o paciente, usando vários procedimentos e técnicas fisioterapêuticas para produzir mudanças na condição do paciente.
Os componentes da intervenção fisioterapêutica incluem a comunicação, instruções relacionadas ao paciente e procedimentos de intervenção. As informações relacionadas à intervenção devem ser documentadas em evolução fisioterapêutica.
Reexame do paciente e avaliação dos desfechos esperados. Este último passo envolve o reexame contínuo do paciente e a determinação da eficácia do tratamento. Os dados da repetição do exame são avaliados no contexto do progresso do paciente em direção aos objetivos previstos e aos desfechos esperados e estabelecidos no plano de tratamento fisioterapêutico.
Se o tratamento alcança o nível desejado, considera-se a prescrição da alta fisioterapêutica. No planejamento de alta fisioterapêutica, precisamos incluir alguns pontos, tais como:
educação do paciente, de sua família e do cuidador;
planos para um acompanhamento ou encaminhamento adequado;
instruções em um programa de exercícios domiciliares.
Enfim, um processo organizado de tomada de decisão clínica (raciocínio clínico) possibilita ao fisioterapeuta planejar sistematicamente tratamentos efetivos.
HOPPENFELD, S. Exame clínico musculoesquelético. Barueri: Manole, 2016.
MAGEE, David J. Avaliação musculoesquelética. 5. ed. Barueri: Manole, 2010.
O’SULLIVAN, Susan B.; SCHMITZ, Thomas J.; FULK, George D. Fisioterapia: avaliação e tratamento. 6. ed. Barueri: Manole, 2018.
PETERSEN, C. M.; FOLEY, R. A. Testes de Movimentos Ativos e Passivos. 1. ed. Barueri: Editora Manole, 2003.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO, Arnaldo Lemos. Exame clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
TORRES, Diego de Faria Magalhães. Fisioterapia: guia prático para a clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Gabriela Rossa
Diagramação: Marcelo Ferreira
Ilustrações: Marcelo Germano / Lucas Dias
Revisão ortográfica: Igor Campos Dutra