O céu como patrimônio.

DOCUMENTÁRIO FULLDOME E EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS: proposta conceitual e curadoria

Conceitos chaves: céu, patrimônio natural, patrimônio cultural, paisagem, paisagem cultural, perspectiva, profundidade e enquadramento.

1. Conceitos

Patrimônio comum a várias culturas, o céu constitui uma parte importante das paisagens, sendo percebido, interpretado e analisado a partir das mais diversas perspectivas ao longo da história. As mudanças diárias da noite e do dia e da configuração sazonal das estrelas ao longo das quatro estações do ano estão marcadas, inclusive, nos corpos dos seres terrestres, adaptados à dinâmica celeste, adotando hábitos diurnos ou noturnos, dependendo de cada espécie. O ser humano, por exemplo, usa esse movimento para construir socialmente a contagem do passar do tempo: dias, semanas, anos. Não raramente, os astros também servem de suporte para as narrativas orais, passadas de geração em geração nas sociedades tradicionais de diferentes regiões. Até mesmo em comunidades modernas, organizadas segundo a cultura científica, o céu ainda se impõe como fronteira a ser explorada, simbolizando para muitos alguns dos maiores mistérios e questões filosóficas da humanidade. Dessa forma, marcado pela universalidade e atemporalidade, o céu constitui um elemento fundante dos mitos, da filosofia, da ciência, da religião e da poesia.

O conceito de céu apresenta uma polissemia que transita entre várias áreas da ciência e da cultura. No dicionário Michaelis ele é definido da seguinte forma:

“1 Espaço infinito onde se movem os astros. 2 Abóbada celeste, firmamento. 3 Os astros. 4 O ar, a atmosfera. 5 Região, segundo a crença religiosa, habitada por Deus e os anjos e onde estão as almas dos justos. 6 Bem-aventurança, felicidade eterna. 7 Parte superior ou dossel de uma armação. 8 Parte superior das abóbadas das galerias subterrâneas, na lavra de minas. C. aberto: a) grande alegria ou felicidade; b) lugar extremamente aprazível; c) vivenda ou sítio delicioso. C. da boca: abóbada palatina; palato. C. de rosas: céu ou tempo sereno, sem nuvens nem ventos, que nos faz alegres ou prazerosos. A céu aberto: sem abrigo, a descoberto, na rua.” (Michaelis, 2016) 

Em 2007 foi criada a Star Light Inciative , resultado da parceria entre o Instituto de Astrofísica de Canarias, a União Astronômica Internacional (IAU) e a Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO). A inciativa tem o objetivo de reconhecer e preservar o céu como um patrimônio da humanidade, defendendo os valores associados ao céu escuro e o direito dos cidadãos de observar as estrelas. Várias ações são realizadas por organizações científicas, ambientais e culturais para o combate a poluição luminosa e a divulgação de conhecimentos relacionados à observação do céu. Especialmente a UNESCO e a IAU mantém um portal sobre os patrimônios astronômicos , que são definidos como as evidências da prática da astronomia, ou uso social e representações da astronomia. Estes patrimônios são divididos em tangíveis, como observatórios, relógios de sol, pirâmides e monumentos, e intangíveis como histórias, calendários, constelações, narrativas míticas, etc.

As definições dos patrimônios estão intrinsicamente relacionadas as definições de natureza e cultura. O conceito de patrimônio cultural está ligado a intervenção do homem na natureza, e consequentemente a tudo que resulta desta intervenção. O conceito de patrimônio natural está relacionado com a suposta ausência do homem em um ambiente considerado natural. Suposta ausência, já que somente pelo fato de haver uma definição de natural, significa, de certa forma, que também há algum tipo de interação com o ser humano.

A definição apresentada pela UNESCO que poderia ser aplicada ao céu como patrimônio, seria como patrimônio natural: “sítios naturais ou as áreas naturais estritamente delimitadas detentoras de valor universal excepcional do ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza natural.” (UNESCO, 2016). Entretanto devemos entender o termo “estritamente delimitadas” como o que se encontra acima do plano do horizonte e compõe a abóboda celeste.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artísico Nacional (IPHAN) em parceria com a UNESCO definiu o conceito de paisagem cultural como uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. Neste sentido, podemos considerar o céu como parte desta definição, já que o mesmo faz parte do conceito de território como espaço aéreo. Definições semelhantes pode ser encontradas nos trabalhos de Leal (2014).e Crespo (2014).

A discussão sobre o céu como um conceito de patrimônio natural também está relacionado à área do turismo (TOMANIK, 2012). Minas Gerais possui uma expressiva diversidade de paisagens, costumes e lugares. A relação entre homem e natureza define as características básicas da paisagem cultural: o convívio entre a natureza, o céu, os espaços construídos e ocupados, os modos de produção e as atividades culturais e sociais, numa relação complementar determinante para a identidade dos mineiros.

2. Contexto de produção das imagens

As imagens foram captadas ao longo da elaboração e execução do projeto de produção fulldome "O Céu Como Patrimônio". As captações foram realizadas em Belo Horizonte, Parques Estaduais de Minas Gerais, Cidades Históricas, etc.

3. Escolha das imagens

A escolha das imagens será pautada nos conceitos chaves apresentados nesta proposta.

• Céu: Imagens onde aparece o céu, pelo menos em uma porção, com todos seus elementos como nuvens, estrelas, aviões, etc, ou  suas representações como pinturas rupestres, ilustrações, telas, etc.

• Patrimônio natural: O céu em diálogo com sobre os bens naturais, como rios, vegetações, formações geológicas, etc.

• Patrimônio cultural: O céu dialogando os bens culturais tangíveis como igrejas, cidades históricas, monumentos, escadarias, casarios, pinturas rupestres, etc.

• Paisagens culturais: Os patrimônios culturais e natarais presentes em uma mesma imagem e dialogando com o céu.

• Profundidade, perspectiva e enquadramento: Na seleção das imagens serão privilegiadas as que proporcionam ou estabelecem um diálogo os demais conceitos chaves em termos de profundidade, perspectivas e enquadramento. Em especial, as imagens captadas pela lente olho de peixe, com seu formato esférico.

4. Referências bibliográficas

CRESPO, Jeanne Cristina Menezes. Paisagens culturais, território e patrimônio cultural mineiro no quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, Brasil. Revista Urbano, v. 17, n. 30, p. 78-87, 2014.

LEAL, Carolina Ojeda. Paisaje cultural y patrimonio: Fragilidad paisajística como propuesta de análisis del patrimonio y el paisaje. Urbano, v. 17, n. 30, p. 88-95, 2014.

TOMANIK, Geny Brillas; BASTOS, Sênia Regina. Um patrimônio da humanidade ameaçado: o céu noturno. Anais do IX Seminário da ANPTUR-Turismo e Patrimônio, p. 1-13, 2012.

UNESCO Brasil, IPHAN, Gestão do Patrimônio Mundial Natural, Brasília, 2016

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/899/

http://www.starlight2007.net/

http://www2.astronomicalheritage.net/ 

5. Links:

Documentário. O Céu Como Patrimônio

Planetário do Espaço do Conhecimento UFMG

Matéria sobre o documentário

Matéria sobre exposição de fotografias

Oficina de Astrofotografia no 13o Encontro Cultural de Milho Verde


Para mais informações:  astrocultura@gmail.com