A compreender e elaborar argumentos lógicos;
A conhecer programas de práticas sustentáveis no âmbito global;
A identificar os impactos ambientais ocasionados pelo “desenvolvimento”;
A reconhecer que as possibilidades de mudanças estão centradas nas ações humanas;
A refletir que os recursos naturais do planeta são finitos;
A prospectar ações de práticas coletivas sustentáveis.
O termo “desenvolvimento sustentável” surge a partir de estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as mudanças climáticas e os reflexos sobre a crise social e ambiental a partir da segunda metade do século XX.
Quais as razões que nos levam ao julgamento de que o desenvolvimento precisa ser sustentável?
A desarmonia ambiental perpassa em diferentes setores da sociedade e nos ecossistemas do planeta. A antropização deixa rastros, os quais mostram evidências de que ações são necessárias para minimizar os impactos gerados.
Na prática, o desenvolvimento sustentável se apresenta como uma utopia, pois o mundo se apresenta complexo, com ideias e ações diversificadas e às vezes antagônicas, a exemplo do que acontece, geralmente, na relação competitiva entre economia e ambiente.
Se a utopia nos faz caminhar, então que seja em atendimento aos programas e acordos mundiais no que tange aos direitos humanos e ambientais como: “Declaração Sobre o Meio Ambiente Humano”, “Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente”, “Carta da Terra”, “Nosso Futuro Comum”, “Programa Observação da Terra”, “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, “Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável”, entre outros.
Precisamos compreender e praticar a ideologia de “que o que nos une é mais importante que o que nos divide”.
Faça sua parte...
Eu quero uma casa no campo... Onde eu possa ficar no tamanho da paz... E tenha somente a certeza... Dos limites do corpo e nada mais...
(ZÉ RODRIX)
Como queremos o nosso mundo? Por vezes, imaginei o “meu mundo” com os olhos na letra da música “Casa no campo”, de Zé Rodrix. No meu trabalho vinculado aos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, torranzeiros e agricultores familiares, pude por vezes vislumbrar os cenários descritos na letra da música. Eles são reais... Nem todos têm esse desejo, considerando suas buscas, sonhos, escolhas e/ou oportunidades, mas é certo que se faz necessária a reflexão sobre a responsabilidade individual e/ou coletiva do mundo que queremos.
A Figura 1 retrata a morada de um torranzeiro (comunidade tradicional), no Parque Estadual do Cantão no Tocantins. O cenário nos encanta, mas a Unidade de Conservação vem sendo impactada pelo cultivo da monocultura no seu entorno, muitas vezes não sendo respeitada a zona de amortecimento. Mundialmente e no âmbito dos países, há programas para mitigar os impactos gerados pelo desenvolvimento global e todos temos responsabilidades sobre as ações e resultados no que tange aos recursos naturais.
O termo “desenvolvimento sustentável” surge a partir de estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as mudanças climáticas, como resposta para a humanidade perante a crise social e ambiental pela qual o mundo passava a partir da segunda metade do século XX (BARBOSA, 2008).
O relatório “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como “Relatório de Brundtland”, foi o documento gerado em 1986 quando do encontro da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) e contempla a definição de que: “Desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas necessidades e aspirações”.
Segundo Brundtland et al. (1991), uma série de medidas devem/foram tomadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável. Entre elas:
Limitação do crescimento populacional;
Garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo;
Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis;
Aumento da produção industrial nos países não industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas;
Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores;
Atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).
Passado mais de duas décadas após o CMMAD em 1986, é possível notar, no relato do participante, o tempo real em que vivemos. Fato é que muitas das medidas para promover o desenvolvimento sustentável ainda não foram alcançadas.
“Se os desertos estão se expandindo, as florestas desaparecendo e a desnutrição aumentando, se as condições de vida dos habitantes de áreas urbanas estão piorando, não é devido à falta de recursos, mas ao tipo de políticas adotadas por nossos dirigentes, pelos grupos de elite. A negação dos direitos e dos interesses das pessoas está nos levando a uma situação na qual só a pobreza terá um futuro próspero na África. Nossa esperança é que esta Comissão, a Comissão Mundial, não negligenciará os problemas dos direitos humanos na África e buscará enfatizá-los, pois trata-se de pessoas livres, pessoas que têm direitos, que são cidadãos maduros e responsáveis, capazes de participar do desenvolvimento e da proteção ao meio ambiente.” (Depoimento de um participante da audiência pública da CMMAD, Nairóbi, setembro de 1986).
Em um tempo passado não tão distante, as questões ambientais eram vistas de forma indissociável às diferentes áreas de atuação. É preciso compreender e praticar a ideologia “que o que nos une é mais importante que o que nos divide”. Os movimentos perpassam em todas as áreas de conhecimento e todos devem se esforçar para que ocorra o desenvolvimento sustentável.
Fronteiras planetárias é o conceito central na estrutura do sistema Terra proposto por um grupo de cientistas e ambientalistas liderados por Johan Rockström, do Centro de Pesquisa em Resiliência e Ciência da Sustentabilidade, de Estocolmo, e Will Steffen da Universidade Nacional da Austrália. Em 2009, o grupo propôs para a comunidade internacional um quadro de "fronteiras planetárias" planejado para definir um "espaço operacional seguro para a humanidade", como uma pré-condição para o desenvolvimento sustentável (Figura 2).
Segundo Rockström et al. (2009), as áreas em vermelho representam uma estimativa do estado atual enquanto o círculo verde define as fronteiras estimadas. Sete dos nove "sistemas de suporte à vida no planeta" essenciais para a sobrevivência humana já avançaram quanto aos limites das fronteiras, dessas em destaque – mudanças climáticas, perda de biodiversidade e fluxo biogeoquímico.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92, foi uma conferência de chefes de estado de 156 países organizada pelas Nações Unidas e realizada de 3 a 14 de junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Foi um marco no sentido de introduzir a ideia do desenvolvimento sustentável, um modelo de crescimento econômico menos consumista e mais adequado ao equilíbrio ecológico.
A Eco-92 foi propulsora de outros vários movimentos que acontecem mundialmente. Um importante acordo firmado foi a “Convenção da Diversidade Biológica”, a Carta da Terra (1992), o qual, no seu preâmbulo, descreve: “Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, em uma época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo se torna cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que no meio de uma diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e em uma cultura de paz. Para chegar a esse propósito, é imperativo que, nós, os povos da terra, declaremos nossa responsabilidade uns para os outros, com grande comunidade da vida, e com as futuras gerações. (...)”.
Os 17 “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS” (Figura 3) “São metas que a Organização das Nações Unidas (ONU) propõe para reduzir a pobreza, promover a prosperidade global e o avanço social e proteger o meio ambiente. São assuntos de elevada importância para a humanidade a fim de transformar a vida no planeta. Nesse contexto, inserem-se consumo e produção sustentáveis, bem como responsabilidade social, que são pilares fundamentais para a transição civilizatória em que o mundo todo está envolvido”, Agenda 2030 (2015).
O plano guiará os 193 países vinculados à ONU, a sociedade, as empresas, a academia e para você, em atendimento à Agenda 2030. Os 17 ODS contemplam 169 metas amplas e interdependentes, em que as suas implementações e alcances propõem a erradicação da pobreza e promoção de vida digna para povos, respeitando os limites do planeta.
A terminologia utopia no Dicionário Michaelis traz o seguinte significado: “Qualquer descrição ou conceito imaginário de uma sociedade com um sistema social, político e econômico ideal, com leis justas e dirigentes e políticos verdadeiramente empenhados no bem-estar de seus membros.”
Há muitos anos falamos, lemos e opinamos sobre desenvolvimento sustentável. Na prática, o desenvolvimento sustentável se apresenta como uma utopia, pois o mundo se apresenta complexo, com ideias e ações diversificadas e às vezes antagônicas, a exemplo do que acontece, geralmente, na relação competitiva entre economia e ambiente. A sustentabilidade faz parte do complexo mundo em que vivemos e que exige a busca de forma organizada e integrada entre governos, povos, entidades, leis, sociedade civil, conselhos e fóruns de debates existentes (LUNARDI, 2005).
É imperdível... E nos coloca ainda mais reflexivos e responsáveis sobre a nossa passagem no planeta Terra. Que a utopia vista pelo olhar do Eduardo Galeano nos faça caminhar em atendimento aos programas e acordos mundiais no que tange aos direitos humanos e ambientais como: “Declaração Sobre o Meio Ambiente Humano”, “Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente”, “Carta da Terra”, “Nosso Futuro Comum”, “Programa Observação da Terra”, “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, “Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável”, entre outros.
"Ninguém vai proteger uma coisa com a qual não se importa, e ninguém vai se importar com o que nunca experimentou." David Attenborough
O aquecimento global é definido como o processo de elevação média das temperaturas da Terra ao longo do tempo.
A sua principal causa seria a intensificação do efeito estufa, um fenômeno natural responsável pela manutenção do calor na superfície terrestre, provocando problemas atmosféricos e no nível dos oceanos, devido ao derretimento das calotas polares.
Segundo Nobre (2017), com relação à vulnerabilidade de biomas, a América do Sul é o continente com maior risco de extinção de espécies atribuível às mudanças climáticas, onde 25% das espécies locais desapareceriam com aumento de 4°C na temperatura global. Relata ainda, que os níveis atmosféricos de gás carbônico (CO2) estão 40% mais altos do que eram em 1750 e na medida em que o CO2 aumenta, a temperatura sobe.
“Para a ganância, toda a natureza é insuficiente” Sêneca. O filósofo Lucius Annaeus Seneca nasceu em 4 a.C. e foi um grande representante do Estoicismo (ética naturalista e lógica formal). Passam-se mais de 2.000 anos e a frase de Sêneca é pontual e reflexiva. Como conciliar o desenvolvimento sem impactar? Qual é o limite que a natureza suporta?
O desmatamento no Brasil acarreta grandes problemas ambientais.
Há algumas regiões com maiores impactos, mas sempre vinculado ao “desenvolvimento” como: a agricultura, a pecuária, a exploração madeireira, a grilagem, a urbanização e a infraestrutura (pontes, estradas e barragens).
Segundo Wackernagel & Galli (2009) ao longo dos últimos 200 anos, a humanidade tornou-se altamente eficiente em retirar e utilizar os recursos da natureza, onde o uso dos recursos naturais ultrapassa significativamente o que a natureza pode renovar. Globalmente, o uso humano dos recursos naturais é feito de maneira 31% mais rápida do que a velocidade com que a natureza consegue se regenerar.
O clima é fator determinante para a distribuição dos seres vivos no planeta. Ao longo dos últimos milhares de anos, cada espécie desenvolveu as características especiais para o seu desenvolvimento de acordo com as características do local onde vivem.
Assim, as mudanças do clima e seus efeitos esperados também fazem parte das ameaças à conservação da biodiversidade e dos ecossistemas.
Estudos de vários países avaliam desde o início do século XX a influência das variações do clima e da variabilidade climática sobre as espécies. No Brasil, os primeiros trabalhos sobre os impactos de cenários futuros de mudança do clima sobre a biodiversidade só começaram a ganhar volume a partir de 2007 – e por meio de modelagens do clima e seus efeitos sobre a biodiversidade. Em 2018, a WWF Brasil publicou o relatório “Biodiversidade e mudanças climáticas no Brasil: levantamento e sistematização de referências”.
Segundo Silva (2018), no que tange ao foco taxonômico dos estudos, as plantas foram os organismos mais estudados (34 publicações), seguidas dos insetos (15), dos anfíbios (10), das aves (7), dos mamíferos (6), dos insetos transmissores de doenças (5), dos corais (4), dos répteis (3) e de outros (10).
Há vários resultados científicos dos impactos de agrotóxicos utilizados em cultivos agrícolas, sobre o meio ambiente e a saúde humana. Os cultivos agrícolas brasileiros demandam alto consumo de agrotóxicos, sendo estes de efeitos variáveis, podendo atingir facilmente organismos não alvos, a exemplo de predadores, organismos de solo, polinizadores, entre outros.
O uso indiscriminado de produtos fitossanitários levou o Brasil a ocupar uma indesejável liderança do ranking mundial de consumo de agrotóxicos.
Há necessidade de mais incentivos à adoção de práticas sustentáveis, capacitação daqueles que manipulam os agrotóxicos, bem como a proibição de princípios ativos já comprovadamente nocivos, somados a falta de fiscalização pelos órgãos competentes (BELCHIOR et al., 2014).
Os resíduos sólidos são todos os materiais que não têm mais serventia dentro dos processos de uma empresa ou que chegaram ao fim de sua vida útil. Podendo ser perigosos e não perigosos.
Conforme a lei 12.305/10 (BRASIL, 2010), esses resíduos devem ter uma destinação ambientalmente correta. A gestão dos resíduos sólidos pode trazer impactos positivos ao meio ambiente e à economia.
Como exemplo, a compostagem, que é um processo biológico de valorização da matéria orgânica, seja ela de origem urbana, doméstica, industrial, agrícola ou florestal, e pode ser considerada como um tipo de reciclagem do lixo orgânico. Trata-se de um processo natural em que os microrganismos, como fungos e bactérias, são responsáveis pela degradação de matéria orgânica.
Há outros impactos ambientais como: poluição do ar, água e solo, ocupação desordenada do solo, escassez de água potável, queimada, efeito estufa, acidificação dos oceanos etc. O homem é protagonista de todas as ações, mas é o único capaz de minimizar o que ocasionou.
“É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve.” O aforismo na frase do romancista de Victor Hugo é uma forte reflexão de que devemos prestar mais atenção nos movimentos da natureza e agir. Não é uma questão de mudar o mundo, mas a necessidade eminente de preservar a vida.
AGENDA 2030. Plano de ação global para mudar o mundo até 2030. 2015. Disponível em <http://www.agenda2030.org.br/sobre/>. Acesso em: 22 nov. 2020.
BARBOSA, G. S. O Desafio do Desenvolvimento Sustentável. Revista Visões, 4. ed. v. 1, n. 4, jan/jun, 2008.
BELCHIOR, D. C. V et al. Impactos de agrotóxicos sobre o meio ambiente e a saúde humana. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 34, n. 1, p. 135-151, jan./abr. 2014.
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Diário Oficial da União (DOU), Brasília, 3 ago. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 22 nov. 2020.
BRUNDTLAND et al. Nosso Futuro Comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991.
LUNARDI, J. J. Desenvolvimento sustentável verdade ou utopia. Página Rural. Artigos, 03 jun. 2005. Disponível em: <https://www.paginarural.com.br/artigo/1063/desenvolvimento-sustentavel-verdade-ou-utopia>. Acesso em: 22 nov. 2020.
NOBRE, C. O risco das mudanças climáticas para o Brasil. Comissão 90 anos UFMG. 17 maio 2017. Disponível em: <https://www.ufmg.br/90anos/climatologista-carlos-nobre-critica-obscurantismo-cientifico-em-politica-publica/>. Acesso em: 23 nov. 2020.
ROCKSTRÖM, J. et al. Planetary boundaries: Exploring the safe operating space for humanity. Ecology and Society. 14 (2). 32 p. 2009. Disponível em: <https://www.ecologyandsociety.org/vol14/iss2/art32/>. Acesso em: 21 nov. 2020.
SILVA, P. L. A. Biodiversidade e mudanças climáticas no Brasil: levantamento e sistematização de referências. WWF Brasil (Relatório). Brasília, 2018.
WACKERNAGEL, M.; GALLI, A. Recursos de um planeta finito. Revista Desafios do Desenvolvimento, 50. ed. IPEA, Brasília, 2009. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1026:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 29 nov. 2020.
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Marina Gabriela Leite Dreher
Diagramação: Marcelo Ferreira
Ilustrações: Marcelo Germano
Revisão ortográfica: Igor Campos Dutra