A compreender e elaborar argumentos lógicos;
A refletir sobre a relação sistêmica que há no contexto da (co)evolução no planeta Terra;
A avaliar as possíveis adaptações dos seres vivos;
A ponderar sobre as contínuas formas de adaptações dos seres vivos;
A pensar no comportamento do “homem” sobre as intervenções nos processos de adaptações;
A refletir que a vida está em constante movimento e que as adaptações são necessárias para continuar a viver.
“As espécies que sobrevivem não são as mais fortes, nem as mais inteligentes, mas sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças.” (Charles Darwin)
Muitas das coisas que mais nos impressionam sobre a natureza são consideradas adaptações. De forma intuitiva, os seres vivos esforçam-se por se adaptar da melhor forma possível ao meio em que vivem. O processo adaptativo está vinculado à evolução das espécies, sempre na busca da proteção e consequentemente à preservação.
Há diferentes formas de proteção desenvolvidas na evolução das espécies – camuflagem, estivação, mimetismo, inquilinismo, diformismo, reservas nutritivas, caules trepadores, gavinhas, caules fixadores, raízes estranguladoras, raízes velames, unidades de dispersão aladas e tantas outras.
Apesar da inteligência e da beleza dos meios de defesa elaboradas pela adaptação natural, essas defesas não são perfeitas, e não podem atingir o grau zero quanto ao perigo.
Para que os organismos sejam selecionados, é importante que os mesmos, durante gerações, se adaptem de forma a permitir que a evolução aconteça. Essa evolução acontece gradativamente, por meio de mutações nos seres vivos, de forma que os mais adaptados sobrevivem e geram descendentes.
É importante ressaltar que a evolução e/ou seleção natural é um processo lento e gradual. Porém, atua de modo permanente nas populações.
Há duas maneiras de gerir as dificuldades: modificá-las ou adaptar-se a elas.
(PHYLLIS BOTTOME)
De forma instintiva, cada espécie viva esforça-se por se adaptar o melhor possível ao meio em que vive. Essa procura da melhor adaptação possível permite a cada grupo animal ou vegetal afastar o maior número de perigos inerentes à natureza e, assim, preservar a perenidade da espécie.
Todos os seres vivos devem adaptar-se ou ter algumas qualidades que lhes permitam sobreviver. Diante de mudanças súbitas no ambiente, nem todas as espécies têm essa capacidade e, ao longo da história evolutiva, muitas foram abandonadas e desapareceram.
Essas adaptações estão relacionadas com mudanças no metabolismo dos organismos. Certos órgãos começam a funcionar de forma diferente quando ocorrem certas mudanças no ambiente (AMABIS & MARTHO, 2004).
A adaptação é um conjunto de processos fisiológicos, características morfológicas ou mudanças de comportamento que permitem a sobrevivência dos seres vivos em diferentes ecossistemas. Se refletirmos sobre esse conjunto de processos, a “Floresta Amazônica” é um ambiente o qual presumimos haver muitas adaptações dos seres vivos que a compõem, inclusive o Homo sapiens. A biodiversidade é a verdadeira riqueza da maior floresta tropical do planeta.
O mundo tem olhos para a Floresta Amazônica e é possível sentir um pouco do pulsar da floresta ao assistir o documentário “Amazônia Eterna”, com a direção de Belizario Franca, de 2012.
O filme mostra iniciativas de sucesso, discute novas possibilidades com especialistas e mergulha em uma viagem sensorial pelo cotidiano de quem habita a floresta. De certo, você irá querer viver o que está assistindo e refletir sobre a nossa responsabilidade sobre o bioma Amazônia.
Veja o trailer do documentário:
Os seres vivos tendem a possuir adaptações de acordo com o ambiente em que vivem. Segundo Raven et al. (1996), na história evolutiva das plantas, ocorreram diversas alterações ambientais drásticas. Referida condição desencadeou o desenvolvimento de caracteres adaptativos a essas novas condições, eliminando as plantas que não apresentavam características adaptadas a elas.
Por força da seleção natural, esses caracteres adaptativos foram fixados geneticamente, de maneira que a forma atual é o produto da interação genótipo-ambiente, que a evolução apresentou nos habitats naturais.
O processo que levou as plantas a conquistarem o ambiente terrestre levou milhões de anos.
Adaptações vegetativas são aquelas que ocorrem nos órgãos não reprodutivos de uma planta, denominados de vegetativos, isto é, na epiderme, estômatos, raízes, tecidos vasculares e folhas.
Plantas de clima quente e seco, geralmente, têm suas folhas diminuídas, ou até mesmo modificadas em espinhos. Os cactos podem ser um bom exemplo, ao serem observadas tais características, além de terem seus caules suculentos e bastante impermeáveis. Os espinhos são modificações adaptativas e têm função protetora e evitam a transpiração excessiva (Figura 2). Assim, muitas dessas espécies, ao contrário de diversas plantas que conhecemos, não suportariam o excesso de umidade ao serem regadas todos os dias.
Os caules trepadores ou volúveis (Figura 3), pela sua fragilidade ou pela deficiência em tecidos de sustentação, não conseguem se manter eretos, necessitando de suporte para seu desenvolvimento, eles simplesmente se enrolam nele.
Segundo Aoyama & Mazzoni (2006), outro tipo especial de raiz é o velame (Figura 4). O velame é uma camada modificada de epiderme que reveste a raiz de plantas epífitas. As plantas epífitas são aquelas que vivem sobre outras plantas, sem prejudicá-la. Através do velame a planta absorve a umidade proveniente da atmosfera.
As gavinhas são normalmente ramos ou folhas modificadas, mas podem ter origem em qualquer órgão aéreo da planta (Figura 5). Suas funções são ajudar na fixação da planta e no crescimento. As gavinhas têm irritabilidade por contato, geralmente é o contato de um suporte que provoca curvatura e enrolamento da parte irritada, em direção ao suporte (RAWITSCHER, 1976).
As espécies da Figura 6 contém reservas nas células do parênquima amilífero e podem servir de alimento a diversas espécies de animais ou constituir estratégia para sobrevivência de plantas que habitam ambientes com sazonalidade bem definida. Nesse caso, os órgãos subterrâneos permanecem ricos em amido durante o período em que o ambiente possuir algum fator limitante para a propagação da espécie, sendo utilizado pela planta quando as condições ambientais estiverem favoráveis (SCATENA & SCREMIN-DIAS, 2003). As espécies representadas são: Cará-da-terra (Dioscorea spp.), açafrão-da-terra (Curcuma longa), açafrão-branco (Curcuma zedoaria) e cará-aéreo (Dioscorea bulbifera).
Há outras formas de adaptações como: raízes estranguladoras, caules fixadores, caules contra o excesso da radiação solar, à vida em ambiente aquático (submerso), à flutuação na água, entre outras.
As adaptações reprodutivas envolvem a dispersão de sementes.
A evolução dos frutos foi em relação aos seus agentes dispersores, que podem ocorrer pelo vento (anemocoria), água (hidrocoria) e animais (zoocoria), garantindo uma maior eficiência na dispersão. Na Figura 7, observam-se espécies que são dispersas pelo vento, por serem leves e ou aladas.
No Reino Animal, todos os animais podem servir de presa para outro na luta constante pela sobrevivência. Diante disso, animais que possuem características que diminuem a predação sobrevivem e passam essa característica aos seus descendentes. Isso acontece quando um organismo se assemelha bastante ao meio em que vive, tornando difícil sua localização. Essa semelhança pode ser pela coloração e até mesmo pela forma do seu corpo e sua textura. Na Figura 8, os padrões de coloração geneticamente determinados lembram a cor do meio em que vivem.
A estivação é um fenômeno praticado por animais que vivem em desertos ou em climas tropicais. É quando o tempo e o solo estão excessivamente secos, imperando a escassez dos alimentos, bem como da água. Além do mais, o processo é mais frequente nos animais pequenos, por conta do seu metabolismo dispendioso e acelerado. Assim, determinados animais podem se induzir ao estado da letargia para obterem a proteção que precisam. Afinal, não podem se desidratar, algo comum nas regiões mais áridas. Desse modo, esse estado de inatividade permite que eles gastem menos energia.
Um bom exemplo de estivação são os peixes dipnoicos, como a piramboia (Lepidosiren paradoxa), conforme Figura 9. É um peixe pulmonado ósseo encontrado na Bacia Amazônica, em regiões pantanosas que secam nos períodos de baixa dos rios. É nessa época que abandona sua respiração branquial, se enterra na lama e passa a respirar por meio de sua bexiga natatória, utilizada então como pulmão.
A Coral-verdadeira (Micrurus brasiliensis) e a Coral-falsa (Oxyrhopus trigeminus) são extremamente parecidas e confundem predadores (Figura 10). A coloração das duas espécies é bastante semelhante, entretanto, apenas a coral-verdadeira é peçonhenta. Nesse caso, a falsa-coral “imita” a outra espécie a fim de causar medo em seus predadores.
Essa característica, oriunda do processo de seleção natural, trouxe grandes benefícios à espécie que teve seu padrão passado de geração a geração. No exemplo, percebe-se que uma espécie inofensiva apresenta características de uma espécie que é relativamente perigosa. Sendo assim, um ser vivo que possui uma espécie de defesa natural foi copiado por outro que não possui tal defesa.
O padrão das asas da borboleta-coruja (Caligo beltrão) dá origem ao seu nome (Figura 11). Do lado de dentro das asas, é um desenho semelhante ao “rosto de uma coruja”, com destaque para os olhos enormes e abertos. O padrão de olho é uma forma de mimetismo, que confunde seus predadores. Muitos animais pequenos, que caçam principalmente usando o sentido da visão, hesitam em se aproximar da borboleta, “imaginando” estar diante de um dos seus predadores naturais. Esse mecanismo antipredação protege o animal enquanto descansa, alimenta-se e acasala (FERREIRA, 2013).
“Como não tenho local específico para mim, todos os lugares podem potencialmente ser meus". A espécie humana é capaz de se adaptar a diversas realidades e superar dificuldades, e diferente de outros seres vivos, que se removidos de seu ambiente natural têm como destino a morte, nós somos capazes de viver e prosperar em lugares que você nem imagina (FORBES, 2020).
A adaptação do homem pode estar vinculada ao frio, ao calor, à altura, à profundeza, entre outras. São vários os mecanismos fisiológicos que realizam automaticamente a aclimatação de um indivíduo a um determinado meio.
Se há preferência por calor, podemos ir para El Azizia, que está localizada a 55 km de Trípoli, capital da Líbia. No lugar mais quente da Terra, onde a temperatura máxima já registrada foi de 57,7ºC em setembro de 1992. Referidas condições podem ocasionar problemas ao longo do tempo. Ainda assim, a cidade é habitada por cerca de 300 mil pessoas e é considerada um dos maiores centros comerciais da região.
Mas se tem predileção pelo frio, a cidade de Oymyakon é o local para escolher, que fica ao leste da Sibéria (Rússia). A temperatura mais baixa na localidade, permanentemente habitada por aproximadamente 500 pessoas, foi registrada em 6 de fevereiro de 1933, uma temperatura de -67,7º C. A média de temperatura pode chegar a -50ºC nos meses mais frios, por isso a vida dos habitantes é muito difícil.
Aquilo que faz o homem é a sua grande faculdade de adaptação.
(SÓCRATES)
Os nossos meios de adaptação estão sempre em desenvolvimento, cujos limites nem sempre são previsíveis e há quem busque a perfeição muitas vezes no desconhecido. “Será que é tempo que lhe falta para perceber... Será que temos desse tempo para perder... E quem quer saber... A vida é tão rara... Tão rara...” (Lenine).
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia das Populações. 2. ed. v. 3. São Paulo: Moderna, 2004.
AOYAMA, E. M.; MAZZONI, S. C. Adaptações estruturais das plantas ao ambiente. Instituto de Botânica, São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.biodiversidade.pgibt.ibot.sp.gov.br/Web/pdf/Adaptacoes_estruturais_das_Plantas_ao_Ambiente_Elisa_Aoyama.pdf>. Acesso em: 01 nov. 2020.
FERREIRA, R. Borboleta-Coruja: presa ou predador? ((O)) Eco, Rio de Janeiro, 12 jul. 2013. Disponível em: <https://www.oeco.org.br/blogs/fauna-e-flora/27373-borboleta-coruja-presa-ou-predador/>. Acesso em: 13 out. 2020.
FORBES, J. Vida extrema: A capacidade de adaptação dos seres humanos. Bayer Mundo, São Paulo, 09 mar. 2020. Disponível em: <https://www.bayerjovens.com.br/pt/colunas/coluna/?materia=vida-extrema-a-capacidade-de-adaptacao-dos-seres-humanos>. Acesso em: 31 out. 2020.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F. & EICHHORN, S. E. Biologia Vegetal. 5. ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1996.
RAWITSCHER, F. Elementos básicos de Botânica: Introdução ao estudo da Botânica. 7. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976.
SCATENA, V. L. & SCREMIN-DIAS, E. Parênquima, Colênquima e Esclerênquima. In: Anatomia Vegetal (GLÓRIA, B. A. & GUERREIRO, S. M. C. (Eds.)). 3. ed. UFV, Viçosa, 2003. p. 109-127.
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