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...De poesia da ilha Terceira e dos seus lugares

A Volta à Ilha

Palmo a palmo, passo a passo

Desde o vale até à serra,

Vou por essa ilha fora

dar a volta à minha terra.

A cada curva um mistério

Em cada esquina uma luz!

Adeus Maria! oh! Manel,

Esta é a ilha de Jesus!

Vem comigo gente toda

Dar a volta à nossa Ilha!

Olha o mar!Com peixe e vinho,

Num jantar de maravilha!

O tremocinho curtido

E favinhas bem torradas,

Milho aberto com açucar

Algibeiras atascadas

Uma camisola ao ombro

E barreta de pastor

Os pulmões cheinhos de ar

Coração cheio de amor!

Vou por essa ilha fora

Dar a volta à minha terra

Venham ver quanta beleza

Ela em toda a parte encerra...

Oh! Terceira dos Amores

Minha Terceira querida

Andando à volta de ti

Anda-se à roda da vida...

Meu lindo São Sebastião

Fonte da Virgem da Graça

Arrabalde, Frei João;

Água fresquinha a quem passa!

Estende os olhos além!

Salga e Brianda Pereira!

Devagar, quem longe vem

Salvou-se ali a Terceira!

Oh! Pesqueiro dos meninos

trepa-se a rocha a correr...

D. António, os seus destinos

aqui vem a defender!

S. Sebastião quem diz

que tu és feia e és triste

Beije as pedras da Matriz

E verá se inda resiste

Aos encantos que tu tens...

Em cada pedra se enconde

O pranto das nossas mães

mais as letras de Drumonde

Vou-me embora, que mágoa!

Daqui me prendo, já tardo!

Ribeira Seca, sem água,

E depois Fonte Bastardo!

Lá em baixo, Porto Martins

Saudades da mocidade...

Pedras negras sem confins

Horizontes da Saudade...

Álamos-bravos, Tronqueiras

Cabo da Praia distante,

Bel-jardim, oh laranjeiras

Pela encosta verdejante!

E na casa da Ribeira

E mais ao norte, Fontinhas

Fica o pomar da Terceira.

Damascos e tangerinas.

Linda Praia da Vitória

À tua volta esse mar

Uma coroa de glória...

Um abraço de encantar!

Vou parar, pois tem que ser...

Maria da Fonte na Praça...

Fortes ao longe a morrer

E a Matriz plena de Graça!

Entre eurocárias perdido

José Silvestre Ribeiro...

A teus pés tens-me rendido

E meu preito é verdadeiro...

Largo da Luz, o Asilo

São Lázaro, sua Igrejinha!

Misericórdia, Hospital

para tudo tens mésinha...

Linda Praia, linda Praia

Vou-me embora, adeus, adeus

Quem te vê, fica a ti preso

Outro amor juntado aos meus...

Casas novas, mundo novo...

Um avião que lá vai!

Cuidado gente! Oh! Meu povo!

Olha que morres se ele cai!

O que isto era, o que é!

Oh! Lajes do Ramo Grande...

Vinde velhinhos dar fé

De como a guerra se expande...

Onde estão as cantarias

Dos umbrais das tuas portas?

Que barulho e gritarias

Oh! Lajes como os suportas?

Lá no alto a cruz se ergueu

Nossa Senhora do ar!

Pomba que voa p'ra o céu

E nós com ela a voar!

Um "ice-creem"- que fresco

Um novo mundo, outra voz

Isto aqui é pitoresco

Terra dos nossos avós

Vou depressa, adeus S. Braz

Vila Nova, Agualva e ala!

Quatro Ribeiras, p'ra trás,

Biscoitos e pão de rala

E vinho branco a correr

No calhau para a tourada...

São horas já de comer

Que basta a fava torrada...

À sombra desta latada

Põe-se a toalha no chão.

Nas cestas não fica nada

E come-se tudo co a mão!

O vinho é doiro brilhante

A lagosta, o carangueijo...

Tem cuidado com picante

Que depois mais nada vejo...

Toiros de morte p'ra rua...

Vai devagar não te pises...

Não há boca como a tua...

És como um gato em perdizes.

Oh! Manel vamos embora...

Vamos depressa aos Altares...

Por S. Roque chama agora

Depois de te embebedares!

Altares frescos, lavados...

Que horas são? Já sete e dez...

E vamos tanto atrasados,

Altares lindos... não vês?

Meu Raminho de alecrim

Muito alecrim feito aos molhos!

Se calhar choras por mim

E por ti choram meus olhos...

São Francisco Xavier

Nas Índias a baptizar

baptiza o meu coração

Pr'á Terceira mais amar!

A vigia sobre o mar,

Miradoiro, o mar é lindo!

A Graciosa a nadar

E S. Jorge vem saindo

Como um peixe bem deitado

sobre o mar em frente ao Pico...

Ai Jesus! Que estou cansado

Mas aqui é que não fico...

Uma sombra em que me meta

Vamos Coelho pr'á loira...

Linda mata da Serreta

Que o sol poente já doira...

Água fresca do chafariz

lava a cara da poeira...

Uma cerveja...e quem diz?

Fonte de amores...Terceira!

Põe-se a mesa, p'ra merenda

Mas a alcatra já está fria...

Toalha branca de renda

pode ficar p'ro outro dia!

Oh! Manel vamos embora

tens que pagar a promessa...

À Senhora dos Milagres...

Um círio bento...ora essa

A pesar quanto se pesa

A medir quanto se mede...

E quem tem fé é que reza

E quem precisa é que pede!

Nossa Senhora eu te peço

juízo p'ra toda a vida.

O círio mede o que eu meço

Tem o meu peso e medida!

Oh! Senhora dos Milagres

Oh! Mãe, bendita sejais...

Não és pobre p'lo que dás.

Então dá-me ainda mais:

Um coração para amar

Té a hora derradeira

A Jesus, a ti, meus pais,

meus irmãos... Ilha Terceira...

Doze Ribeiras, S. Jorge

Meu cavaleiro, vencendo

S.ta Bárbara, o teu castelo

Hoje não, que vou correndo...

Cinco Ribeiras, Pilar...

São Bartolomeu e figueiras

O Pesqueiro e o seu vinho

S. Mateus e petisqueiras.

S. Carlos feito jardim

Um éden para sonhar.

É noite, a luz está acesa

E eu tenho de acabar!

Ah! Angra, querida Angra,

Num sorriso tu me esperas

Oh! donairosa princesa

Rainha das primaveras...

Outro dia hei-de voltar

tenho muito que dizer-te

Tu és filha do mar...

Volta sempre para ver-te

Quem uma vez já te viu...

E tu és o meu encanto...

Amor que a alma sentiu

enche de amor o meu canto...

Voltarei para cantar

Igrejas, Praças, jardim,

Monte Brasil e o mar

A tua graça sem fim...

Adeus Angra, vou p'ra Vila

Que levo tanta saudade...

Meu berço por mim espera...

Vila, p'ra mim és cidade!

Santo Amaro, Ribeirinha

Pendurada lá na Serra...

Sacas de roupa da América

Invadiram esta terra!

Ladeira Grande a subir,

E Feteira na corrida.

Oh! Senhora das Mercês

Amparai a minha vida!

Lá no fundo Porto Judeu

Toiros no porto... oh! chicharro...

Vamos embora depressa

Não se pára aqui o carro...

Boa Vista! Oh! minha Vila

O coração a saltar

Eu já dei a volta à Ilha

E acabo de chegar...

E comigo vem a noite

E com a noite eis a lua!

Vila de glórias sem fim

Não há glória igual à tua...

Tens de Vila só o nome

Diz a rir quem por ti passa...

Vive escondido na alma

O dom de Deus... e é graça...

E basta só que os teus filhos

Te queiram todo o teu bem...

Tu serás eternamente

Linda vila... a nossa mãe!

Estou cansado... A corrida

Volta à Ilha... Eis-me aqui...

Volta à Ilha... Volta à vida!

A vida que é para ti!

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Coelho de Sousa - o homem da rádio e da cidade de Angra

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Coelho de Sousa - o poeta da poesia do povo