Encontro para a Nova Consciência: A Grande Celebração Brasileira da Diversidade!

Post date: 14/08/2012 20:15:07

Encontro para a Nova ConsciênciaA Grande Celebração Brasileira da Diversidade!Por Ricardo Kelmer Sexta-feira de carnaval, oito da noite. Você está no meio de um empurra-empurra desgraçado, tentando entrar... Num clube? Que nada, num teatro. Você faz parte de uma multidão que deseja assistir à palestra da física Rose Marie Muraro, editora da Record, sobre "A crise civilizatória do final de milênio". À entrada do teatro distinguem-se dois grupos bem distintos: de um lado, barulhentos e divertidos Hare Krishna, com suas roupas coloridas e seus instrumentos exóticos, entoando aqueles mantras dançantes, e do outro lado evangélicos distribuindo panfletos que demostram por a+b que esse negócio de Nova Era é coisa do demo. Boa sorte. Você é mais uma dessas tantas pessoas que atualmente estão indo à cidade de Campina Grande, em pleno carnaval, participar do Encontro para a Nova Consciência. Chegando atrasado desse jeito, você certamente verá a palestra da carismática Rose pelo telão do lado de fora, junto a centenas de outras pessoas.Cheiro de incenso Este ano até mesmo a Prefeitura e o Governo do Estado da Paraíba, patrocinadores do evento junto à iniciativa privada, se surpreenderam com o fluxo de pessoas que se dirigiram a Campina Grande, a maioria de estados vizinhos, para participar deste evento que se realiza por lá desde 1992. Este ano, durante o VII Encontro, os hotéis lotaram e teve-se de instalar telão do lado de fora do teatro municipal (800 lugares). Para o ano que vem, fora outras novidades, já há planos de creche para as crianças enquanto os pais vão aos cursos e palestras. Chiquérrimo. Reunindo representantes de ciências, artes e tradições, de vários estados brasileiros e de outros países, para exporem suas idéias e experiências, o Encontro para a Nova Consciência objetiva discutir saídas para os problemas da humanidade deste tempo. Uma proposta holística por excelência mas que poderia esbarrar na intransigência típica do ser humano quando o assunto é discutir qual é, afinal, a verdade. A coordenação do evento sabia dos riscos que corria ao assumir o desafio de organizar um evento de tal caráter. Pior ainda se pensarmos que se trata de uma das regiões mais pobres do país e, veja só, em plenos dias de carnaval, numa cidade que fica a meio caminho dos batuques de Salvador, das ladeiras de Olinda e das praias do Ceará. O desafio, porém, parece que foi vencido. O Encontro de Campina Grande é hoje um dos mais importantes eventos do país onde se pode ter acesso a idéias de ponta e discutir problemas nacionais e mundiais com seriedade, junto a nomes qualificados das mais diversas áreas do conhecimento humano. Em pleno carnaval! O evento oferece palestras, debates, cursos e oficinas. Há também a indefectível feirinha esotérica, com livros e artesanato. Escritores autografam suas obras e há passeios turísticos à disposição. Na sua primeira edição, o Encontro ainda exalava um cheiro danado de incenso por toda parte. Hoje, sete anos depois, ainda se vende muito incenso à entrada do teatro municipal, é claro, mas aquele caráter esotérico do começo evaporou-se em meio às transformações que o evento sofreu ao longo dos anos. Aos poucos ele foi priorizando assuntos mais urgentes tais como a questão indígena, ecologia, prostituição, aids e os conflitos étnico-religiosos.

Mas os esotéricos que não se desapontem. Apesar das mudanças, ainda se pode assistir uma palestra sobre terapia de vidas passadas ou ufologia mística, afinal acontecem 20 (eu disse vinte) eventos paralelos ao evento central e que vão desde o Movimento de Integração Espírita ao Encontro de Filosofia Univérsica. Porém, o que se percebe é que o Encontro parece seguir uma tendência mundial de abrangência da visão dos problemas atuais. Os fãs do comandante intergalático Asthar que me perdoem mas, convenhamos, é mais urgente discutirmos a preservação de culturas em perigo de extinção do que qual a melhor cidade para aguardarmos o resgate pelas naves extraterrestres.

Ateus também são filhos de Deus Mas que ninguém pense que só rola aquela caretice quando o assunto é Nova Era. Que nada. A cabeça dessas pessoas está longe da normalidade padrão. As idéias que elas trazem parecem às vezes saídas de uma roda de malucos chapados. Nos bares e hotéis, depois das palestras, a cerveja, a música e a alegria rolam soltos. E um namorinho também, né, que a nova consciência não é de ferro. Um dos eventos mais concorridos deste ano foi o Encontro de Profissionais do Sexo. Imagine a cena: numa mesa redonda estão uma prostituta estabanada, um travesti engraçadíssimo, um pastor presbiteriano superpopular, Rose Marie Muraro com sua metralhadora giratória e a educadora Íris Boff, irmã do Boff teólogo. Esta última, por sinal, ao ser perguntada se também era teóloga, foi logo escancarando: "Não, sou teo-erótica." E, para o seu governo, levantou o vestido e dançou a dança da deusa em pleno palco. Coisa do demo, diriam os evangélicos radicais. Tem mais: como onde tem fumaça tem fogo, para o ano que vem está agendado Fernando Gabeira. E a outra novidade, para firmar o compromisso da nova consciência com a liberdade de pensamento, será o I Encontro dos Ateus. Isso mesmo, dos ateus. Esse certamente nem Deus perderá. Durante o evento pode-se conferir palestras sobre Florais de Bach, Massagem Shiatzu e Biodança. Ou, se você tiver um gosto mais socio-antropológico, palestras sobre "A cosmovisão indígena", ONG’s ou sobre o Santo Daime. Gosta de mitologia? Há algo sobre a lenda dos Orixás e sobre o mito do final dos tempos. Gosta de Medicina? Há algo sobre a nova consciência em saúde. Mas vamos supor que goste de Literatura: pode assistir "O conceito de Deus na ficção científica" ou "Riquezas da literatura árabe". Há também no cardápio Física Quântica, Psicologia, Comunicação, Ecologia e Urbanismo. Astrologia e Ufologia Científica também. E o que dizer do Encontro Mundial de Ex-Ufólogos? Só no Nordeste mesmo. Antes restrito ao círculo da comunicação alternativa, o Encontro de Campina Grande já chama a atenção dos grandes órgãos de imprensa e também de entidades estrangeiras - o que o transforma numa espécie de referência brasileira da cultura emergente do terceiro milênio. Uma dezena de teses acadêmicas, vindas de várias universidades, já se debruçaram sobre o evento. E quem já passou por lá? Bem, todo ano dezenas de conferencistas dão sua parcela de contribuição à formação de uma visão mais abrangente de nossa realidade atual. Entre os mais conhecidos poderiam ser citados Leonardo Boff, Pierre Weil, Rose Marie Muraro, Marcos Terena e Paulo Coelho. Representando a Índia, sempre comparece o divertido físico indiano Harbans Lal Arora que já cativou o público com sua fusão nuclear de música com física quântica. De Goiás vai um monge beneditino chamado Marcelo Barros que escreve romances e se diz filho de santo. Santa heresia, Batman. De São Paulo aterrisa o jornalista Luís Pellegrini, ele e suas tantas viagens pelo mundo e pelas fascinantes diferenças culturais da humanidade. Diálogo e respeito ao diferente. É exatamente esse o clima holístico que tanto contagia o público: a celebração das diferenças e do fio de unicidade que as une a todas. O Encontro de Campina Grande termina numa grande festa, muita música e alegria. E a certeza de que é possível sim convivermos todos em paz e harmonia, apesar de tantas diferenças. Aliás, viva a diversidade!

Ricardo Kelmer participa do Encontro para a Nova Consciência desde 1996 e é autor dos livros:

"Quem apagou a luz?" , "O irresistível charme da insanidade" e "Guia prático de sobrevivência para o final dos tempos"