Dossiê da Felicidade - Existe uma fórmula para ser feliz?

Post date: 22/01/2014 18:20:17

O Homem Mais Feliz do Mundo

Haroldo Castro

Geral Tags: Mianmar, Nepal, Tibete

Na minha última viagem à Asia, passei uma semana no Nepal. Na ocasião, coloquei vários posts sobre os protestos tibetanos e uma matéria exclusiva saiu na Epoca.

Mas, em Katmandu, não fiquei apenas seguindo manifestações. Entrevistei muitas pessoas. E um deles merece destaque: o monge budista francês Matthieu Ricard. Ele mora no monastério Shechen, no bairro tibetano Bouda, e foi considerado como o “homem mais feliz do mundo”!

Matthieu Ricard mora no Nepal há mais de 30 anos.

Tudo começou com um email de corrente – daqueles que a gente detesta receber – que vinha com esse mesmo título. Descartei a mensagem, mas retive o nome do monge. Quando eu preparava minha viagem ao Nepal, lembrei que Matthieu vivia em Katmandu e fui atrás dele.

Matthieu e eu nos cruzamos em Katmandu por apenas um dia. Eu chegava do Butão e ele partia para França. Mesmo com sua agenda lotada, conversamos por um par de horas no monastério. O resultado dessa conversa é uma bela reportagem que está publicada na revista Galileu de agosto, já nas bancas. O tema principal é a felicidade. Um dos momentos da entrevista que mais gostei foi quando perguntei a Matthieu sobre o budismo:

“A mente é a especialidade do budismo”, diz Matthieu Ricard. “Não considero o budismo como uma religião. Não perdemos tempo discutindo Deus. Esta é uma questão irrelevante. Buscamos saber como a mente humana funciona. Precisamos refinar a percepção de nossa realidade.” Aí é que entra o papel da meditação. Uma mente mais tranquila responde melhor aos desafios da vida, enquanto as emoções descontroladas levam para o caminho oposto. O ódio, a inveja, a raiva ou a arrogância são sentimentos que minam a felicidade. Parece simples.

Felicidade Interna Bruta

Características

O termo foi criado pelo rei do Butão.. Jigme Singye Wangchuck, em 1972, em resposta a críticas que afirmavam que a economia do seu país crescia miseravelmente. Esta criação assinalou o seu compromisso de construir uma economia adaptada à cultura do país, baseada nos valores espirituais budistas. Assim como diversos outros valores morais, o conceito de Felicidade Interna Bruta é mais facilmente entendido a partir de comparações e exemplos do que definido especificamente. Enquanto os modelos tradicionais de desenvolvimento têm como objectivo primordial o crescimento económico, o conceito de FIB baseia-se no princípio de que o verdadeiro desenvolvimento de uma sociedade humana surge quando o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento material são simultâneos, assim se complementando e reforçando mutuamente.

Os Pilares da FIB

  • Promoção de um desenvolvimento socio-económico sustentável e igualitário
  • Preservação e promoção dos valores culturais
  • Conservação do meio ambiente natural
  • Estabelecimento de uma boa governança

Ver também

Ligações externas

O QUE É FIB?

O indicador FIB, Felicidade Interna Bruta, vem como uma alternativa complementar a outras medidas de riqueza de uma comunidade que vai além do desempenho econômico traduzido hoje no indicador PIB, Produto Interno Bruto.

O FIB inclui atividades não monetarizadas como uso equilibrado do tempo, cuidados com a família, esgotamento de recursos naturais e bem estar humano. Com enfoque qualitativo, esse indicador gera discussões públicas, pró-atividade e protagonismo por parte da população.

O FIB no mundo

A utilização de indicadores de bem-estar vem, nos últimos anos, ganhando muita relevância em todo o mundo, e estão sendo implantados não somente no Butão, mas em outros países do mundo, tais como U.K., Tailândia, Canadá, e Austrâlia. No Brasil foram aplicadas nas cidades de Campinas, Angatuba, e Itapetininga no estado de São Paulo, e em Bento Gonçalves, RS e no núcleo rural Rajadinha, Brasília, DF.

FIB provê uma abordagem integral para medir o desenvolvimento, que incorpora fatores sociais, ambientais e econômicos, bem como outros contribuintes chave para o bem estar, tais como saúde, cultura e governança. É baseado na premissa de que o objetivo principal de uma sociedade não deveria ser o crescimento econômico, mas a integração do desenvolvimento material com o psicológico, cultural e o espiritual – sempre em harmonia com a Terra.

A felicidade interna bruta do Butão

ANNIE KELLY

DO "OBSERVER"

Há uma série de sinais manuscritos no acostamento da sinuosa estrada montanhosa que liga o aeroporto à capital do Butão, Timfu. Não são avisos de reduzir a velocidade ou verificar os espelhos, e sim mantras de afirmação da vida. "A vida é uma jornada! Complete-a!", diz um deles, enquanto outro sugere ao motorista que "permita que a natureza seja o seu guia". Um terceiro, à beira de uma curva perigosa, diz simplesmente: "Lamenta-se o inconveniente". É uma recepção adequadamente animadora para quem visita este reino remoto, um lugar de antigos monastérios, bandeiras de oração ao vento e deslumbrante beleza natural. Há menos de 40 anos, o Butão abriu suas fronteiras pela primeira vez. Desde então, ganhou o status quase mítico de um Xangri-Lá da vida real, em grande parte graças à sua determinada e metódica busca pelo mais fugidio dos conceitos: a felicidade nacional.

Desde 1971, o país rejeitou o PIB (produto interno bruto) como sendo a única forma de mensurar o progresso. Em seu lugar, tem defendido uma nova abordagem para o desenvolvimento, que mede a prosperidade por meio de princípios formais da felicidade interna bruta (FIB) e da saúde espiritual, física, social e ambiental dos seus cidadãos e do ambiente natural.

Há três décadas essa crença de que o bem-estar deve se sobrepor ao crescimento material permanece como uma peculiaridade em nível global. Agora, num mundo acossado pelo colapso dos sistemas financeiros, por uma flagrante iniquidade e por uma destruição ambiental em grande escala, a abordagem deste pequeno Estado budista está atraindo muito interesse.

Enquanto as potências mundiais concluíram no último sábado a conferência da ONU sobre a mudança climática, em Doha, começava a ganhar força o duro alerta butanês de que o resto do mundo está numa rota suicida do ponto de vista ambiental e econômico. No ano passado, a ONU adotou o apelo do Butão por uma abordagem holística para o desenvolvimento, o que teve o aval de 68 países. Uma comissão da ONU analisa atualmente maneiras de replicar o modelo butanês da FIB em escala global.

Enquanto representantes em Doha lutavam para encontrar um consenso a respeito das emissões globais de gases do efeito estufa, o Butão estava sendo citado como um exemplo de nação em desenvolvimento que colocou a conservação ambiental e a sustentabilidade no centro da sua pauta política. Nos últimos 20 anos, o Butão dobrou sua expectativa de vida, matriculou quase 100% das suas crianças em escolas primárias e reformulou sua infraestrutura.

Ao mesmo tempo, ao colocar o mundo natural no coração das políticas públicas, a proteção ambiental está assegurada pela Constituição. O país prometeu se manter neutro nas suas emissões de carbono, e garantiu que pelo menos 60% das suas terras permanecerão perpetuamente cobertas por florestas. O governo proibiu a exportação de madeira, e chegou a estimular um dia mensal do pedestre, em que todos os veículos particulares ficam proibidos de circular. "É fácil garimpar a terra, pescar nos mares e ficar rico", diz o ministro butanês da Educação, Thakur Singh Powdyel, um dos mais eloquentes porta-vozes da FIB. "Mas acreditamos que não se pode ter uma nação próspera em longo prazo se ela não conservar o seu ambiente natural nem cuidar do bem-estar da sua gente, o que está sendo provado pelo que está acontecendo no mundo exterior."

Powdyel acredita que o mundo se equivoca quanto à busca do Butão. "As pessoas sempre perguntam como seria possível ter uma nação de gente feliz. Mas isso é não entender a questão", diz ele. "A FIB é uma aspiração, um conjunto de princípios orientadores por meio dos quais estamos navegando rumo a uma sociedade sustentável e equitativa. Acreditamos que o mundo precisa fazer o mesmo antes que seja tarde demais."

Os princípios do Butão são estabelecidos como política por meio do índice nacional de felicidade bruta, que leva em conta o desenvolvimento social equitativo, a preservação cultural, a conservação do meio ambiente e a promoção da boa governança.

MEDITAÇÃO

Numa escola primária de Timfu, a diretora Choki Dukpa observa seus alunos a caminho das aulas. Ela diz que notou enormes mudanças no bem-estar emocional das crianças desde que os princípios da FIB foram integrados ao sistema educacional, quatro anos atrás. Ela admite que, de início, não tinha ideia do que significava a política governamental de transformar todas as unidades de ensino em "escolas verdes". "Soava bem, mas eu não tinha certeza de como iria funcionar", diz ela. Mas depois que o Unicef (agência da ONU para a infância) financiou um programa de treinamento para professores das "escolas verdes", as coisas melhoraram. "A ideia de ser verde não significa só o ambiente, é uma filosofia de vida", diz Dukpa.

Além de matemática e ciências, as crianças aprendem técnicas agrícolas básicas e proteção ambiental. Um novo programa nacional de gestão de resíduos permite que todo material usado na escola seja reciclado.

A infusão da FIB na educação também levou a sessões diárias de meditação e à adoção de música tradicional calma no lugar do estridente sino escolar.

"Uma educação não significa só ter boas notas, significa preparar [os alunos] para serem boas pessoas", diz Dukpa. "Essa próxima geração vai enfrentar um mundo muito assustador, à medida que as mudanças ambientais e as pressões sociais aumentarem. Precisamos prepará-la para isso." Apesar do seu foco no bem-estar nacional, o Butão enfrenta enormes desafios. Ele continua sendo uma das nações mais pobres do planeta. Um quarto dos seus 800 mil habitantes sobrevive com menos de US$ 1,25 por dia, e 70% vivem sem eletricidade. O país enfrenta um aumento da criminalidade violenta, uma crescente cultura de gangues e pressões decorrentes da expansão populacional e do aumento dos preços alimentícios.

Ele se depara também com um futuro cada vez mais incerto. Os representantes butaneses nas discussões climáticas de Doha estão alertando que o seu modelo de felicidade nacional bruta poderia sucumbir diante da mudança climática e das crescentes pressões ambientais e sociais.

"O objetivo de estarmos abaixo de um aumento global de dois graus [Celsius] na temperatura, que está sendo discutido aqui nesta semana, não é suficiente para nós. Somos uma nação pequena, temos grandes desafios e estamos no empenhando ao máximo, mas não podemos salvar nosso ambiente por conta própria", diz Thinley Namgyel, que dirige a divisão nacional de mudança climática.

"O Butão é um país montanhoso, altamente vulnerável a condições climáticas extremas. Temos uma população altamente dependente do setor agrícola. Estamos apostando na energia hidrelétrica como o motor que irá financiar o nosso desenvolvimento."

Em Paro, uma região agrícola uma hora da capital, Dawa Tshering explica como o clima já está lhe causando problemas. O agricultor de 53 anos cresceu em Paro, cercado por montanhas e regatos, mas acha cada vez mais difícil cultivar seu arrozal de 0,8 hectare.

"O clima mudou muito: não há neve no inverno, as chuvas vêm nas horas erradas, e as nossas plantas ficam arruinadas. Há tempestades violentas", diz ele. Cerca de 70% dos butaneses são pequenos agricultores como Tshering.

"A temperatura ficou mais alta, então há mais insetos nas frutas e nos grãos. Não entendo isso, mas se continuar vamos ter muitos problemas para cultivar alimentos e para nos alimentarmos."

O Butão está tomando providências para se proteger. Um inovador trabalho está sendo feito para tentar reduzir o potencial de inundações nos seus remotos lagos glaciais. Mas não dá para o país fazer isso sozinho. Na semana passada, em Doha, ativistas pediram mais apoio a países como o Butão, que estão altamente vulneráveis à mudança climática.

"Embora agora o mundo esteja começando a olhar para o Butão como um modelo alternativo de economia sustentável, todos os seus esforços podem ser desfeitos se o mundo não agir em Doha", diz Stephen Pattison, do Unicef no Reino Unido.

"Países pequenos e em desenvolvimento, como o Butão, precisam obter mais apoio, e o Reino Unido e outros governos devem começar realmente a agir, como ao comprometer sua parte em dinheiro para o fundo climático verde, e colocá-lo em funcionamento assim que possível."

Em Paro, adolescentes de uniforme escolar, voltando para casa depois das aulas, estão bastante cientes dos tempos difíceis que esperam o Butão em sua tentativa de navegar numa rota entre a preservação da sua agenda sustentável e as realidades globais à sua frente. Todos se dizem orgulhosos de serem butaneses. Eles querem ser guardas florestais, cientistas ambientais e músicos. Ao mesmo tempo, eles querem viajar o mundo, escutar música pop coreana e assistir a "Rambo".

"Quero poder sair e ver o mundo, mas aí quero voltar para casa no Butão, e que ele esteja igual", diz Kunzang Jamso, 15, cujo traje tradicional faz contraponto com um corte de cabelo que lembra um artista de banda adolescente. "Acho que precisamos evitar que o mundo exterior venha muito para cá, porque podemos perder nossa cultura, e se você não tem isso, aí como você sabe quem você é?"

Tradução de RODRIGO LEITE.

Memória e Felicidade - Como assumir o controle das suas lembranças e ser mais feliz

A chave da felicidade está no passado - mais precisamente, nas memórias afetivas que você vai construindo ao longo da sua vida. Se você conseguir controlá-las, será muito mais feliz. Veja como

por Alexandre de Santi

Você é feliz? Você está feliz agora? A resposta é mais complicada do que parece. Perceba a diferença nas duas perguntas. Na primeira, eu perguntei se você é feliz, ou seja, se está satisfeito com o andamento da sua vida. Na segunda, perguntei se você está feliz neste momento, lendo esta revista. E, somando essas duas coisas, qual é o saldo final? Feliz ou infeliz? Provavelmente, você hesitou antes de responder. Isso é normal. E acontece porque a felicidade é uma combinação meio complicada, uma mistura do presente com o passado. Você pode estar adorando este texto, mas triste porque foi mal numa prova ontem. Ou pode estar apaixonado por alguém, feliz da vida, mas achando esta conversa meio chata. A felicidade é uma combinação do presente com o passado. Só que o presente dura muito pouco. Para ser mais exato, 3 segundos. A cada 3 segundos, ele se torna passado. Essa ideia surgiu em estudos do psicólogo francês Paul Fraisse e hoje é aceita por diversos pesquisadores, como o também psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel. Após 3 segundos, todas as informações que passam pela sua cabeça saem da consciência e são arquivadas nos sistemas de memória do cérebro. Isso significa que você enxerga a própria vida, fundamentalmente, através da memória. E isso tem uma consequência enorme: na prática, ela é o fator que mais pesa na felicidade. Mas está longe de ser confiável. Quase sempre nossas lembranças omitem ou distorcem detalhes do que aconteceu.

Pense num álbum de fotos. Você vai encontrar imagens do seu aniversário, do nascimento de um sobrinho, das últimas férias. Uma foto pode registrar um momento sorridente seu e de seus amigos numa festa. Na imagem, todos parecem felizes, e você relembra o momento com carinho. Mas o sorriso da foto não registra, obrigatoriamente, a forma como você se sentia naquele dia. Todo mundo já posou sorridente para um retrato mesmo se a festa estava chata. Ao abrir o álbum, no entanto, você nem sempre vai lembrar que a cerveja estava morna, que a carne do churrasco passou do ponto e do amigo que contava piadas ruins. A sua memória funciona como esse álbum.

A ciência está começando a entender como esse processo acontece. A memória é influenciada por dois mecanismos. O primeiro é a negligência sobre a duração das nossas experiências, ou seja, um instante de alegria intensa vale mais do que uma semana de felicidade moderada. E o segundo é a tendência a atribuir muita importância aos momentos que vêm por último, ou seja: se você for assaltado no último dia das suas férias, certamente se lembrará delas de forma ruim, mesmo que antes tenha passado 15 dias maravilhosos na praia. É como em um filme. As reviravoltas e o final são mais marcantes do que o restante da história. E isso pode nos levar a julgamentos equivocados.

"A memória negligencia a duração [dos eventos], e isso não colabora com nossa preferência por prazeres prolongados e dores curtas", diz Daniel Kahneman em seu novo livro, Thinking, Fast and Slow ("Pensando, Rápido e Devagar", ainda sem tradução para o português). Numa experiência coordenada por Kahneman, voluntários colocaram uma das mãos em um recipiente com água bem gelada. Com a outra mão, os participantes utilizavam um teclado para digitar a intensidade da dor. Cada voluntário mergulhou a mão duas vezes. Na primeira, ficaram 1 minuto com a mão submersa na água a 14 ºC. Na segunda, a temperatura era a mesma - mas era preciso suportar 30 segundos a mais. Só que nessa segunda vez Kahneman aplicou um truque. Nos últimos 30 segundos de sofrimento, ele injetou um pouquinho de água morna na vasilha. Era muito pouco, o suficiente para elevar a temperatura em apenas 1 grau. Uma mudança praticamente imperceptível, que não aliviava nada o sofrimento dos voluntários. Era um truque para mostrar como a memória engana as pessoas e pode fazê-las tomar decisões irracionais. Deu certo: 80% dos voluntários disseram que, se fossem obrigados a repetir a experiência, prefeririam o mergulho longo, que os faria sofrer por mais tempo. Por que escolher o mergulho que dura mais? Se fôssemos totalmente racionais, escolheríamos o sofrimento mais curto. As pessoas foram iludidas pela água morna - que dominou as memórias delas, simplesmente porque veio por último. "O estudo das mãos geladas mostra que não podemos confiar totalmente nas nossas escolhas. Preferências e decisões são moldadas pelas memórias, e as memórias podem estar erradas", acredita Kahneman.

Agora transponha essa ideia para a sua vida. Imagine que, no final das suas férias, todas as fotos e os vídeos que você gravou serão apagados e você vai tomar uma poção mágica que vai apagar todas as memórias da viagem. Seria horrível. As memórias das férias são tão importantes quanto as férias em si. A foto e a possibilidade de compartilhar a viagem com familiares e amigos são partes fundamentais da própria viagem. E isso leva ao primeiro segredo para influenciar a memória: buscar experiências que rendam muitas lembranças - mesmo que elas não sejam necessariamente o que você mais deseja fazer.

A emoção da memória

Pegue as fotos do seu aniversário. Você provavelmente se lembra de quem esteve nele, o que foi servido, as conversas com os amigos. Também se lembra de onde estava, e o que estava fazendo, quando os aviões atingiram o World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Mas você se recorda do dia 10 de setembro de 2001? Aposto que não. E isso acontece porque a sua memória não foi desenvolvida para guardar tudo. "Temos a tendência de nos lembrarmos melhor de coisas que têm colorido emocional", explica a pesquisadora Lilian Stein, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), especialista em memória emocional. A memória privilegia os momentos em que vivemos as emoções mais fortes. É um recurso evolutivo. Na natureza selvagem, fazia sentido preservar em detalhes os episódios em que fomos ameaçados por predadores. Isso nos ajudava a aprender com a experiência. Um experimento realizado pelos pesquisadores Daniel Reisberg, Friderike Heuer, John McLean e Mark O¿Shaughnessy provou que as situações de medo são as mais gravadas na memória - numa escala de 0 a 1, obtiveram pontuação de 0,9, praticamente empatadas com as situações tristes (0,89) e com vantagem sobre os momentos alegres (0,71). Em outro estudo feito por 3 universidades americanas, cientistas exibiram um vídeo com cenas de violência a dois grupos de estudantes. Os pesquisadores fizeram duas edições diferentes do filme, ambas com 1min33s de duração. A única diferença era o meio da história. Uma das edições continha uma cena de assassinato e a outra não. O grupo que assistiu à versão violenta se lembrou de muito mais detalhes do vídeo. Conclusão dos cientistas: os episódios dramáticos da vida geram memórias fortes.

É por isso que ficamos entediados com as obrigações do dia a dia: a rotina não produz sentimentos intensos. A memória é refém dos picos de emoção, como frustrações ocorridas no trabalho e finais de semana alegres. Por isso, para ser feliz, evite a todo custo situações que possam gerar memórias negativas (como um emprego ruim), mesmo que elas também prometam alguma recompensa (salário alto). O contracheque gordo tende a virar rotina depois de um certo tempo, mas as frustrações ficam marcadas na memória.

Nas férias também é assim. É muito melhor fazer duas viagens de 15 dias do que apenas uma de 30 dias. Isso porque as 2 viagens irão gerar mais lembranças diferentes (o que alimenta positivamente a memória). E você estará evitando a rotina - uma sensação inevitável de passar 30 dias no mesmo lugar.

Não confie demais nas próprias memórias. O simples ato de se lembrar de uma coisa é o suficiente para distorcê-la. Outro estudo, feito pelos pesquisadores Ulric Neisser e Nicole Harsch, entrevistou pessoas dias após o acidente com o ônibus espacial Challenger, que explodiu durante seu lançamento em 1986. A pergunta era: onde você estava quando soube da explosão do Challenger? Quase 3 anos depois, os cientistas voltaram a falar com os voluntários e descobriram que as informações haviam sido radicalmente alteradas na memória deles (em alguns casos, com lembranças totalmente opostas). Apesar disso, os entrevistados mantinham total convicção e relatavam minuciosamente os detalhes, como se o acidente tivesse ocorrido no dia anterior - mesmo que tudo aquilo não passasse de memórias falsas.

Isso tem uma explicação neurológica. As memórias são armazenadas na forma de conexões semipermanentes entre neurônios. Quando você se lembra de alguma coisa, essas conexões se tornam instáveis e quimicamente sujeitas a modificações e distorções. A cada vez que você acessa uma memória, ela pode ser alterada. É possível reprogramar lembranças ruins. "Quando utilizamos as nossas memórias, a informação fica suscetível a mudanças, durante um tempo que pode durar horas", diz o cientista Martín Cammarota, da PUC-RS. E essa maleabilidade é importantíssima. Imagine um homem pré-histórico que precisa atravessar um rio para buscar comida. Na primeira vez em que tentou cruzar as águas, viu que o rio era muito fundo, desistiu e registrou em sua memória que o rio não podia ser atravessado. Meses depois, viu outra pessoa tentando - e conseguindo - atravessar o rio em outro ponto. Se as memórias fossem imutáveis, essa informação não entraria na cabeça do primeiro homem - que continuaria achando o rio algo intransponível. As memórias ficam instáveis quando as acessamos justamente para permitir que novas informações sejam agregadas a elas. Se a memória humana fosse 100% imutável, ninguém conseguiria aprender nada.

Vamos aplicar esse conceito na sua vida. Talvez você já tenha passado por um emprego difícil. Logo depois de pedir demissão, fica com uma memória ruim do tempo que passou nesse trabalho. Chefe carrasco, colegas cruéis, salário baixo, tudo isso vem à mente quando você recorda esse período ruim. Mas aí você consegue um emprego melhor e, tempos depois, o antigo trabalho ganha nova interpretação. Você passa a achar que o período foi importante para amadurecer, que aprendeu muita coisa no emprego antigo. E vive mais feliz. Esse tipo de alteração acontece naturalmente, mas também pode ser induzida ou controlada. Pesquisadores da Universidade de Montreal e da Universidade Johns Hopkins estão desenvolvendo drogas que poderão ser capazes de apagar memórias negativas da cabeça de uma pessoa. O objetivo é tratar ex-combatentes de guerra. Mas é possível que, em algum ponto do futuro, essas substâncias estejam disponíveis para qualquer pessoa.

Enquanto os remédios desenhados para atuar na memória não chegam às farmácias, você pode utilizar outras técnicas para lidar melhor com suas recordações. A readaptação de memórias é um processo natural que acontece a todo momento sem que você perceba. Não temos total controle sobre esse mecanismo nem os cientistas estão convictos do nosso poder sobre ele. Mas existem dois campos da ciência que comprovadamente podem ajudar a controlá-lo: a Psicologia Positiva e as terapias cognitivo-comportamentais. Lembra-se daquele exemplo do emprego ruim? Você só conseguiu ter um novo olhar sobre o passado porque encontrou um trabalho melhor. Dependemos de uma vida feliz no presente para conviver melhor com os acontecimentos do passado e para produzir boas lembranças das coisas que estamos vivendo agora. Mas não serve qualquer tipo de felicidade. É preciso buscar um tipo específico de felicidade, que dribla as limitações da memória humana. O truque é provocar variações no cotidiano, o que fará com que ele se enquadre na categoria de eventos "diferentes" e acabe gravado na memória. "Os hábitos são uma grande oportunidade, porque podemos mudá-los", diz James Pawelski, da Associação Internacional de Psicologia Positiva.

Faça coisas diferentes. Se você janta fora toda sexta-feira, por exemplo, passe a frequentar restaurantes diferentes. Nada garante que você vá gostar deles, mas o sabor de novidade é ótimo para a formação de memórias. Na pior das hipóteses, a variação fará com que o restaurante de sempre volte a ter graça. "Se você está acostumado a comer caviar, daqui a pouco vai querer um caviar mais sofisticado para sentir prazer. Mas, se ficar um tempão sem comer caviar, qualquer caviar será bom", explica Ricardo Wainer, professor da PUC-RS e especialista em terapia cognitivo-comportamental. O mesmo vale para viagens, exercícios e praticamente todos os hábitos do dia a dia.

A felicidade diferente

Também é fundamental ter objetivos. Onde você quer estar daqui a 1 ano? Ter metas é importante porque influencia o presente - e, como o presente só dura 3 segundos (lembra?), a memória. Imagine um velho empresário bem-sucedido relembrando os primeiros anos do seu negócio. Ele vai lhe contar das dificuldades e dos sacrifícios com entusiasmo e provavelmente vai encerrar com uma expressão do tipo: "Bons tempos". Na memória dele, a fase de construção do novo negócio foi arquivada com cores alegres porque ele tinha uma meta, enxergava sentido no sacrifício. Trabalhar 18 horas por dia, se alimentar mal, operar com as contas no vermelho, lidar com problemas o dia inteiro: atividades que queremos evitar ao máximo e que costumam ser arquivadas como eventos ruins. Mas, quando associadas a um objetivo de vida, pulam para o grupo das memórias positivas.

O segundo caminho é encontrar alguma coisa de que você goste muito, mas muito mesmo. Você já deve ter feito alguma atividade na vida em que pensou "Puxa, eu poderia passar a vida inteira fazendo isso". Essa sensação de parar o tempo tem uma importância maior do que parece. Músicos passam horas em concentração profunda aprendendo um trecho complicado de uma música. Para quem toca um instrumento e não sente a sensação de parar o tempo, destrinchar compassos difíceis pode ser uma tortura e vira motivo para abandonar o violão ou o piano. Afinal, você tem uma memória negativa dessa tarefa.

Mas quem sente uma concentração absoluta, quem não vê o tempo passar diante de uma atividade complicada (e agradável), vai querer repetir a experiência, e as 5 ou 6 horas sentado na mesma posição repetindo uma melodia à exaustão se tornarão uma memória positiva. E a coisa vai além.

Segundo Martin Seligman, psicólogo da Universidade da Pensilvânia, pessoas felizes costumam relatar a necessidade de repetir com frequência a experiência de "parar o tempo", um conceito conhecido como "fluxo". "Você se sente totalmente em casa", explica Seligman em um artigo do livro The Mind ("A Mente", sem tradução para o português). "O que você tira disso não é a propensão de rir bastante. O que você atinge é um fluxo, e, quanto mais você investe nas suas maiores forças, maior o fluxo que você atinge na sua vida", completa. É como se os benefícios dessas experiências prazerosas irrigassem satisfação para outras áreas da vida, criando condições para que você estabeleça um fluxo positivo para produzir memórias mais interessantes sobre o presente e para reinterpretar recordações do passado. Um emprego ou uma aula chata podem se tornar suportáveis se você consegue parar o tempo quando chega em casa, fazendo uma coisa de que gosta muito. Alguns sortudos conseguem atingir esse nível de concentração e prazer no próprio trabalho, outros em hobbies como a música, a jardinagem e as tarefas manuais. Seja qual for a sua escolha, boas memórias dependem do contato com essa fluidez. Quando sentimos a felicidade acontecendo no presente, e não somente no passado.

Memórias incríveis

Transformar o ordinário em extraordinário. Essa é a chave para criar mais lembranças boas

Drible o esquecimento

A memória não registra o que acontece na maior parte do tempo. Ela grava os momentos de maior emoção e/ou que acontecem no final de uma experiência (férias, por exemplo). Para o cérebro, um instante de alegria pura vale mais do que uma semana de bem-estar moderado, cujos detalhes fatalmente acabarão descartados pela memória e não ajudarão você a se sentir feliz no futuro. Por isso, é fundamental criar o máximo de momentos bons - e registrá-los da forma mais detalhada possível.

Multiplique por 2

Divida as férias em 2 períodos de 15 dias e visite 2 lugares diferentes, pois assim você produzirá 2 conjuntos de memórias prazerosas.

Cuide dos finais

Nosso cérebro foi programado para perpetuar os desfechos. Lembre-se disso e deixe bons momentos reservados para o final de cada episódio da vida, seja uma viagem de férias, seja uma festa com os amigos. Ir embora antes que a animação da festa caia é uma boa ideia para registrar uma memória feliz daquele momento.

Memórias esquecíveis

Coisas ruins acontecem. Com todo mundo. Mas você pode se livrar delas

Reinterprete o passado

Lembranças ruins são fortes, mas elas podem ganhar um novo significado com o passar do tempo. A ciência já provou que as memórias passam por um período de instabilidade sempre que você se recorda de alguma coisa. Isso significa que elas estão sujeitas a ganhar novas informações - e, sim, serem alteradas. É possível reinterpretar lembranças negativas. Basta que você passe por alguma situação feliz - ela cria um novo contexto, que permite transformar as memórias ruins.

Evite o que é ruim

Não adianta encarar uma rotina infeliz em troca de compensação social ou financeira. A alegria que você sente nos seus momentos de lazer dificilmente irá compensar a infelicidade que reina na maior parte do tempo.

Repense as experiências

Se você passou anos num emprego horrível, mas agora está num lugar melhor, lembre-se de que aquele sofrimento ajudou você a crescer, foi fundamental para forçá-lo a buscar algo novo. Uma memória ruim se transforma em algo bom.

Memória felizes

Mude a sua rotina - e assim construa um novo presente, um novo passado e um novo futuro

Produza lembranças melhores

Um estudo da Universidade de Michigan mostrou que voluntários melhoravam a avaliação de suas vidas quando encontravam uma moeda perdida (que havia sido plantada secretamente pelos pesquisadores). O inesperado é uma arma poderosa para produzir boas lembranças e para quebrar a rotina. A chave é buscar um cotidiano rico em novidades - mesmo que à primeira vista elas não pareçam grande coisa.

Persiga o diferente

Faça coisas novas. Por exemplo: comer coisas de que você não gosta. Isso irá criar memórias fortes - mesmo se você não gostar do sabor do jiló, a experiência (e a lembrança dela) fará o arroz com feijão parecer mais saboroso.

Faça o tempo parar

Encontre alguma coisa de que você gosta muito, mas muito mesmo de fazer, o suficiente para esquecer o tempo que passou fazendo aquilo. Esse tipo de atividade gera um tipo diferente de bem-estar, extremamente positivo - e poderoso -, que vai produzir um contexto de vida mais feliz. Isso permite que você reavalie suas memórias com tonalidades mais alegres.

Para saber mais

Thinking, Fast and Slow

Daniel Kahneman, Farrar, Straus and Giroux, 2011

Florescer

Martin Seligman, Editora Objetiva, 2011

The Mind

Vários autores (editado por John Brockman), Harper Perennial, 2011

Memory and Emotion

Vários autores (editado por Daniel Reisberg e Paula Hertel), Oxford University Press, 2003

A MONJA E OS ECONOMISTAS:

ONU quer felicidade interna bruta para todos

A felicidade entrou no debate da Rio+20. A criação de uma alternativa ao PIB capaz de medir o bem-estar dos países é “o assunto da hora”, segundo a antropóloga americana Susan Andrews, coordenadora aqui do projeto FIB (Felicidade Interna Bruta).

Da hora, mas não que seja novo: o conceito de um indicador baseado não só em crescimento econômico, mas em aspectos psicológicos, culturais, ambientais e espirituais foi criado em 1972 pelo então rei do Butão, país budista enfiado no Himalaia.

Sob patrocínio da ONU, o FIB butanês vem sendo recriado por um time de intelectuais, prêmios Nobel incluídos. O grupo fez um questionário que sonda padrão de vida, governança, educação, saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, uso do tempo e bem-estar psicológico.

No Brasil, o FIB é mais do que um indicador, segundo Susan. “É um catalisador de mudança social que tem o potencial de unir poder público, empresas e cidadãos para a felicidade de todos. É pensamento sistêmico na prática”, diz a antropóloga graduada em Harvard, que é também mestre em psicologia e sociologia. E monja.

A monja junta agora ao currículo o título de embaixadora do FIB no Brasil, país para o qual ela veio por ocasião da Eco-92 -e ficou.

Naquele ano, fundou o Parque Ecológico Visão Futuro em Porangaba, a duas horas de São Paulo. É uma das primeiras ecovilas do país.

Tudo ali segue a filosofia de uso de recursos naturais pregada pelo mestre indiano Prabhat Rainjan Sarkar.

Moram e trabalham naqueles 65 hectares de mata 55 pessoas. “Tivemos êxito até certo ponto em servir como um contramagneto para estancar a hemorragia de pessoas das áreas rurais às cidades, provendo emprego digno em uma economia que não danifica o planeta”, ela diz.O parque usa energia limpa, alimenta seus membros com agricultura orgânica, recicla seu lixo e parte da água do esgoto, oferece “educação holística” e mantém um centro de saúde ayurvédica. É um laboratório socioambiental, mas não se diz “sustentável”.

“A sustentabilidade só acontece se for aplicada simultaneamente em diversas áreas; é uma enorme tarefa.”

É lá no Visão Futuro, com ajuda da Unicamp, que se desenvolve uma adaptação do questionário FIB. Já foram ministrados projetos-piloto em Angatuba, Itapetininga, Campinas (SP), Bento Gonçalves (RS) e Brasília (DF).

“Quando apresentado aos resultados do questionário, o público fica fascinado com essa análise do seu próprio bem-estar e isso gera não apenas discussões, mas ações. Em Itapetininga, a população colaborou para melhorar sua assistência médica; em Brasília, a comunidade de Rajadinha está engajada para melhorar o suprimento de água, limpando o rio local e instalando biodigestores”, conta.

Mas e a aplicação do indicador em escala nacional, global? Segundo disse Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, ao abrir o último encontro sobre o tema, a conferência Rio+20 precisa gerar um “novo paradigma” que não dissocie bem-estar social, econômico e ambiental. Os três, para ele, definem a “felicidade global bruta”.

Susan Andrews acha que a introdução de indicadores mais sistêmicos já é um movimento mundial. “É parte do espírito do tempo.

HELOÍSA HELVÉCIA

EDITORA DE “EQUILÍBRIO”

Felicidade no Cinema

Admirável Mundo Novo - A felicidade baseada na ilusão

Aldous Huxley

O Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley em 1931, é uma “fábula” futurista relatando uma sociedade completamente organizada sob um sistema científico de castas, onde não haveria vontade livre, abolida pelo condicionamento; a servidão seria aceitável devido as doses regulares de felicidade química e ortodoxias e ideologias seriam ministradas em cursos durante o sono. Olhando o presente, podemos imaginar um futuro semelhante em termos de avanços tecnológicos.Não há Civilização sem Estabilidade Social.

Não há Estabilidade Social sem Estabilidade Individual.

Segundo Huxley para que haja uma estabilidade social é preciso um equilíbrio e igualdade da comunidade, e isto estava condicionado à estabilidade individual, ou seja, era preciso que as pessoas fossem felizes, satisfeitas com o que lhes foi estabelecido, condicionado. “… homens sãos de espírito, obedientes, satisfeitos em sua estabilidade…” (p.55). “O controle do comportamento indesejável por intermédio do castigo é menos eficaz, no fim das contas, do que o controle por meio de reforço do comportamento desejável mediante recompensas.” (p. 18) Já que a punição trava temporariamente o comportamento indesejável, mas não suprime definitivamente a tendência da vítima a sentir-se bem ao comportar-se de determinado modo.

Com a estabilidade individual, social, todos eram perfeitos, felizes, e todos eram de todos, onde nem sequer havia espaço para guerras, desentendimentos entre outras coisas. Portanto, vivia-se numa sociedade perfeitamente condicionada e completamente organizada, sob um sistema científico de castas, onde a vontade livre fora abolida por meio de um condicionamento metódico, a servidão tornou-se aceitável mediante doses regulares de felicidade quimicamente transmitida pelo “soma” (a droga liberada do futuro), e onde as ortodoxias e ideologias eram propagandeadas em cursos noturnos durante o sono.

OBJETIVO DO CONDICIONAMENTO

DAS PESSOAS

O condicionamento imposto começava desde logo no período da incubação, onde cada sujeito era condicionado para ocupar o seu lugar na estrutura social criada, predestinadas cada qual para uma função, uns para serem mineiros, outros tecedores de seda, dentre outras funções. Sendo assim seu espírito seria formado de maneira a confirmar as predisposições do corpo. Para serem felizes as pessoas precisavam aceitar passivamente seu destino “… fazer as pessoas amarem o destino social de que não podem escapar…” (p.25) O condicionamento do ser humano, um cenário que a humanidade atualmente não deseja, poderá obrigá-lo, condicioná-lo levando a gostar e/ou fazer coisas para o bem do próprio Estado, onde o indivíduo vive numa serena ignorância devido o seu brutal condicionamento, atingindo assim a tal Estabilidade que se fala. Huxley consolida na sua obra: “_ Estabilidade – insistiu o administrador _ Estabilidade. A necessidade fundamental e definitiva…” (p.56).

O SOMA E A NOSSA REALIDADE.

O Soma é a droga liberada do futuro, é a droga psicotrópica, indispensável, usada neste mundo para fugir do cotidiano, ou seja, para as pessoas se abstraírem completamente das suas emoções, quando estas quiserem vir a tona. “Podem proporcionar a si mesmos uma fuga da realidade sempre que desejarem e retornar a ela sem a menor dor de cabeça nem sombras de mitologia” (p.69). São usadas como instrumentos do governo, com o objetivo de impedir o povo de prestar demasiada atenção às realidades da situação social e política. Somente o ‘Selvagem’, personagem do Admirável Mundo Novo resgatado de uma reserva de pré-civilizados percebe isso com nitidez, pois olhando aquela civilização de fora, tem condições de detectar o que os seres extremamente condicionados não vêem. Daí sua revolta e tentativa de “libertá-los” do soma.

Segundo Ivan Schmidt, na obra, A ilusão das drogas, “A cocaína é uma substância química capaz de modificar de vários modos a atividade mental, ora excitando-a, ora reprimindo-a, tem o poder de modificar e transformar a percepção mental, influindo até mesmo no comportamento social do indivíduo, de conformidade com a sua personalidade.” Nos dias atuais a situação não é muito diferente, a cocaína é usada principalmente pelos jovens – futuro da humanidade. Ela é usada como uma forma de fugir da realidade, visto como uma válvula de escape para os seus problemas, proporcionando assim uma sensação de bem-estar imediato, tornando o usuário totalmente dependente – escravo do vício.

Filme: MATRIX

O filme de ficção científica, Matrix, explora a perspectiva futurista numa dimensão virtual. Nessa ‘fábula’ moderna, os indivíduos também são decantados de incubadoras, mas tudo se passa na mente humana. A realidade não existe, pois tudo se torna virtual. Os homens gerados nas incubadoras são meio-máquinas, como as castas baixas do Admirável Mundo Novo, assimilam conhecimentos através de programas de informática avançada. Porém, há uma inversão: não são mais as máquinas que são programadas pelos homens e sim, os homens é que estão sujeitos à dominação da máquina, dos robôs e são mantidos alheios a essa realidade. O filme faz-nos questionar se nosso mundo é real ou se já estamos vivendo um mundo imaginário na mente de algum computador central.Em Matrix um dos robôs andróides explica que a experiência de se evitar qualquer frustração nos homens não tinha dado certo e por isso fora criada uma nova Matrix, melhor elaborada, que abrigava inclusive os problemas, as guerras, as falhas, as frustrações, as dores humanas. Incrivelmente, satisfaz-se até a “necessidade” de frustração, entendida também como uma necessidade humana. Para que as pessoas não percebam que aquela é apenas uma realidade virtual, criada pelos computadores todos são levados a um estado de semiconsciência do real que lhes induz a ver o imaginário como real. É como se estivemos sonhando ou tendo um pesadelo sem fim. Só alguns poucos mortais fogem a esse padrão e tentam subverter a ordem estabelecida. Sendo constantemente perseguidos e severamente castigados.

O que difere Matrix da “fábula” de Huxley é que lá o mundo não mais está sendo governado por homens e sim por máquinas robôs, tendo como sua matriz, o computador. Todos vivem dentro de uma ordem estabelecida, mas não por alguns homens em detrimento dos outros e sim pelo computador que governa quase todas as mentes humanas. Entretanto há um aparente caos, enquanto que nessa última o caos foi quase todo eliminado, o mundo civilizado dominou o mundo selvagem.

Essas “fábulas científicas” atuais e antigas guardam entre si um ponto de comunicação: todas apontam para uma desumanização do homem, uma morte do indivíduo, embora de pontos de vista diferenciados. Um mundo onde o homem deixa de ser senhor de sua história e se deixa controlar pela máquina que ele mesmo criou. Ambos têm em comum a dominação do espírito humano, que no Matrix é a absorção e criação total da mente humana, e no Admirável Mundo Novo é a perda total da individualidade pelo coletivo, determinada por fatores genéticos e condicionamento constante, controlada pelos donos do poder. A repressão ao elemento subversivo é fundamental nos dois mundos para sua manutenção, garantindo o equilíbrio.

Não queremos crer que isso possa ser possível em nossos dias, mas as pesquisas genéticas avançaram. É assustador, mas dispomos de tecnologia e de conhecimentos científicos que tornam perfeitamente provável a fabricação dessa espécie de “semi-homem”, que tanto horrorizou o Selvagem, no Admirável Mundo Novo. O clone é uma realidade a nos pesar sobre as cabeças. Faz-nos questionar até que ponto pode ir? Quais os limites do homem? O biologicamente possível é eticamente correto? São debates éticos que se travam nos meios científicos, mas aos quais não podemos, embora leigos, ficarmos alheios a esse fato.

Animatrix

Animatrix é uma coleção de 9 contos de curta-metragem sobre o mundo de Matrix, em parte escrito pelos irmãos Wachowski. Os contos são uma fusão de computação gráfica com o tradicional anime japonês.1

A série trata das histórias que antecedem Matrix, dos dias finais das últimas cidades da humanidade, da guerra contra as máquinas e da queda da espécie humana.

Os episódios de Animatrix explicam pontos obscuros do filme, revelam a origem de personagens e fazem ligações entre os longas e o videogame Enter the matrix. Quatro deles estão disponíveis no site oficial da franquia, outro foi exibido antes de O apanhador de sonhos e o restante poderá ser conferido no DVD que reúne os nove capítulos. Nenhum tem como objetivo ser indispensável para o entendimento dos filmes, mas quem conferir todos os produtos terá uma visão muito mais completa e emocionante sobre o mundo de Matrix no cinema.

“Eu Maior”: filme sobre a felicidade é lançado nos cinemas e nas redes

“Um filme sobre autoconhecimento e busca da felicidade”, assim definiram os criadores do longa “Eu Maior“, a respeito dos temas abordados em suas cenas. No dia 21 de novembro, o filme foi lançado em outras plataformas – além do cinema – e já está disponível em home-vídeo (DVD e Blu-Ray), download e streaming no Youtube.

Para falar sobre o assunto e dar vida ao projeto foram entrevistados trinta personalidades, incluindo líderes espirituais, intelectuais, artistas e esportistas. “Por que existe alguma coisa e não nada?” com essa questão é inaugurado o filme através das palavras do filósofo Mario Sergio Cortella.

A resposta para essa pergunta está na mistura entre a Ciência, a Arte, a Filosofia e a Religião. Outras questões como “Deus existe?” ou “O que estamos fazendo aqui?” também compõe as nuances da obra em seus 90 minutos de duração. O documentário pode ser exibido em sessões independentes de cinema.

Assista ao longa, na íntegra:

Rir é preciso (na escola)

Avessa ou indiferente ao riso, a escola perde a oportunidade de usar o (bom) humor como recurso didático e elemento inibidor de conflitos

No célebre best-seller O nome da rosa, o filósofo Umberto Eco oferece ao leitor uma trama que passa pela obstinação de um monge em fazer desaparecer uma fictícia obra manuscrita de Aristóteles sobre um tema incômodo para a igreja medieval: o riso. O cenário era um milenar mosteiro europeu. Mas assim como nas conhecidas comparações que aproximam escolas e outras instituições que resistem a mudanças, esta história também poderia ser contada, ainda que com algum exagero, nos colégios atuais. Avessos ou, pelo menos, indiferentes ao tema do humor, os colégios perdem uma excelente oportunidade de abrir espaço para uma manifestação tipicamente humana, associada com inteligência aguda, capaz de motivar professores e os alunos e gerar um ambiente de melhor qualidade, justamente em tempos em que as brincadeiras de mau gosto e violentas, como o trote e o bullying, ganham as manchetes de jornais.

"Ninguém fala disso nas escolas, o que é uma pena", diz a psicóloga Denise Gimenez Ramos, professora de pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "Este é um tema fundamental, pois tem a ver com inteligência e saúde mental", resume. "A escola desdenha ou não vê valor em uma área que é muito rica e traz debates muito atuais e significativos", complementa o psicólogo Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), que vem pesquisando sobre as relações entre o humor e o campo da moralidade.

Numa espécie de contrassenso, as escolas são espaços onde se ri - e muito, ainda que quase sempre da sala de aula para fora e de forma algo clandestina. Segundo Denise, há pesquisas que mostram que uma criança chega a rir 300 vezes por dia. Mas, na escola, por ser associado com bagunça, quebra de hierarquia, indisciplina, o riso frequentemente não encontra espaços de expressão.

Há pelo menos três formas de notar a importância - e talvez a urgência - desse tema no meio educacional, em especial na Educação Básica. Em primeiro lugar, o humor possui um conhecido efeito de distensionar o ambiente. Em um momento em que se fala tanto em resolução de conflitos no espaço escolar, o humor pode funcionar tanto como um antídoto para relações excessivamente conturbadas, como um catalisador para relacionamentos humanos mais saudáveis. "O bom humor tem a ver com a capacidade de lidar com estresse e é um natural mediador de conflitos", explica Denise Ramos.

O humor também pode se apresentar como um caminho para encurtar a distância cultural cada vez maior existente entre as gerações de professores e de alunos, o que tem impacto direto na sala de aula. Favorece o diálogo, promove vínculos e, principalmente, humaniza o relacionamento. Segundo o pesquisador James Neuliep, da Universidade de Wisconsin, que faz pesquisas sobre o assunto, como há uma natural diferença de status entre professores e alunos, o humor ajuda os estudantes a compreender o lado humano do docente. "Quando utilizado adequadamente, ele pode ajudar a reduzir a distância psicológica entre professores e alunos", escreve Neuliep, em artigo publicado no site da ASCD, uma organização norte-americana para o desenvolvimento curricular.

Nessa vertente, podem ser consideradas não apenas as ações intencionais do professor para criar um ambiente mais descontraído, como também estratégias didáticas que têm no humor sua pedra de toque - como, por exemplo, o uso de jogos e brincadeiras na alfabetização, no ensino da matemática e de outras disciplinas.

Essas representam, por assim dizer, percepções mais imediatas do papel positivo do riso na escola. Mas, na medida em que o nível de reflexão sobre o papel do riso se aprofunda, é possível notar que há muito mais do que descontração sob uma risada. Está em jogo a possibilidade da escola de trabalhar sobre aspectos mais profundos da educação, como a busca de sentido para a vida.

Para Denise, as escolas não apenas deveriam ver no humor uma forma de crescimento pessoal, mas ativamente buscar desenvolvê-lo, já que se trata, segundo ela, de uma atitude que também pode ser ensinada e que frequentemente se aprende por imitação. Segundo ela, bom humor não é simplesmente dar risada de qualquer coisa, mas desenvolver um senso crítico, o que tem a ver com a possibilidade de distanciamento e de auto-observação. "O bom humor se relaciona com a capacidade do indivíduo de refletir, ou seja, conforme a etimologia da palavra, de dobrar-se sobre si mesmo", afirma. "O problema é que na escola aprendemos muito sobre a história do mundo, mas pouco sobre nós mesmos", diz.

Yves de La Taille, por sua vez, defende que há questões verdadeiramente existenciais por trás do humor. "Para uma geração de jovens que está doida para encontrar algum sentido na vida, é um prato cheio", diz o pesquisador. Uma das razões que revelam a importância do humor é justamente a sua universalidade. "Todo mundo ri, seja bebê, seja idoso, em qualquer cultura humana, em toda parte do mundo", afirma. Contudo, diz Yves, as razões pelas quais se ri são muitas - e o humor é apenas uma delas.

Está rindo de quê?

Há centenas de anos, escritores, cientistas, filósofos, pensadores de várias áreas tentam categorizar o riso e suas causas, que podem variar da alegria à vergonha, ou ser despertado pela ironia, pelo exagero, pela humilhação, entre muitos outros fatores. Do ponto de vista técnico, pode-se falar do que provocam as gargalhadas, como o exagero, a surpresa ou a detecção do que há de repetitivo e característico nas pessoas e nas culturas. Para os estudiosos do cérebro, o riso também é um campo de estudo interessante. Segundo Elvira Souza Lima, pesquisadora em neurociência e educação, a gargalhada, o sorriso e o riso são reações primitivas do cérebro humano, e estão ligadas à sobrevivência da espécie, ao estimular a liberação da chamada "química positiva", próxima à zona de prazer. A gargalhada, assim como o choro convulsivo, produz reações de contágio, assim como o bocejo.

Mas há um aspecto que Elvira considera particularmente importante para a educação. "O humor tem uma capacidade de subverter a ordem como as coisas estão armazenadas na memória de longa duração. Assim, introduz elementos novos nos esquemas prontos, e por isso está ligado à subversão da ordem dada e à curiosidade", conta. Por razões como essa, é um componente fundamental no modo pelo qual os seres humanos aprendem a se relacionar e a lidar com o cotidiano.

Entre tantas definições, La Taille enxerga que há pelo menos uma convergência entre as diferentes abordagens sobre o riso: a diferenciação entre o riso bom e o riso mau, o que traz à tona o critério moral. Para ele, um bom ponto de partida pode ser a definição dada por um cineasta francês, chamado Marcel Pagnol, para quem o riso é um ''clamor de superioridade''. Desse ponto de vista, rimos quando nos sentimos superiores a algo ou capazes de lidar com as situações em que estamos envolvidos. Por isso, saber rir de si mesmo é um traço positivo de personalidade que denota humildade, consciência das limitações das pessoas e um distanciamento que permite enfrentar com mais leveza a comédia humana.

Já no riso negativo, o que está em jogo não é a nossa superioridade, diz, mas a inferioridade dos outros. E aí começa o perigo, que pode ser compreendido por um exemplo familiar a todos: as piadas. Segundo La Taille, geralmente as piadas falam porque tratam daquilo a que nos sentimos superiores, frequentemente em relação ao quesito inteligência: versam sobre a burrice, a vaidade, a avareza. Os protagonistas variam conforme as culturas. No Brasil, há piadas de português, como na França se fala dos belgas. Na verdade, pouco importa quem seja, pois o que está em foco é a posição ocupada por quem conta. Há um gênero de piadas no qual a razão do riso é especificamente a inferioridade do personagem de quem falamos. "Nas piadas nazistas, vemos que ela se reporta diretamente à inferioridade do negro e do judeu", exemplifica La Taille. Do mesmo modo, em situações típicas do meio educativo, como o trote e o bullying, o riso provém da humilhação, e a graça vem da inferioridade do perseguido.

O direito de rir

A distinção entre o riso negativo e o positivo remete diretamente à questão que vem sendo estudada pelo grupo da USP: o direito ao riso. Do que podemos rir, então, sem cair nos limites estreitos do politicamente correto? Esta pergunta pode dar início, na escola, a um mundo de reflexões éticas que vem sendo realimentado frequentemente pela mídia em casos como o do humorista Danilo Gentili, por exemplo, quando disse que os judeus de Higienópolis, em São Paulo, não queriam o metrô porque o associavam com os trens que os levavam para o campo de concentração. "A última vez que chegaram perto de um vagão, foram parar em Auschwitz", teria escrito.

La Taille lembra outro humorista francês, Raymond Devos, para quem só temos o direito de rir sobre os valores fortes e seguros de uma pessoa ou de comunidades. Desse ponto de vista, inadequada é a piada sobre tragédias recentes, sobre pessoas fragilizadas e situações dolorosas que ainda não foram bem absorvidas. Este é, porém, um campo mais de debates do que de consensos, e por isso se mostra especialmente fértil para o trabalho em sala de aula. Até porque, defende o psicólogo, praticamente 90% do bom humor refere-se ao humor crítico, uma competência cara à escola e à educação contemporânea. Neste específico, trata-se de uma criticidade turbinada, tanto que os programas de humor sofrem restrições em períodos eleitorais. Promover o posicionamento, a compreensão do que está em jogo em uma situação de humor pode ser um debate interessante.

Outro elemento rico da cultura contemporânea trazido pelo humor são os próprios programas televisivos, frequentemente criticados. Segundo La Taille, isso ocorre porque é humanamente impossível ter um humor inteligente todo o tempo. Por isso, os programas apelam para outras formas de estimular o riso, com frequência o sexo. "O riso do sexo não vem do humor. É causado pela vergonha e pelo constrangimento, tanto que se pode notar que se ri de forma histérica nessas situações", reflete. Mais um tema para a sala de aula.

Seja como for, a riqueza do humor pode ser explorada de muitas maneiras pela escola. Para isso, segundo Denise Ramos, da PUC-SP, é preciso que ele não seja associado com irresponsabilidade ou desorganização. "Podemos ser pessoas muito bem-humoradas e extremamente responsáveis, pois não há nenhuma contradição nisso", lembra. Para ela, o humor traduz um princípio existencial que interessa a todos, e é uma lição para qualquer idade: a necessidade de se lembrar do que é, de fato, essencial, dando a proporção devida aos acontecimentos. A seu ver, o humor amplia essa consciência. "Tirando as situações de vida e de morte, nada é tão importante assim", conclui.

O humor na sala de aula

Para a pesquisadora Elvira Lima, há uma contradição importante no silêncio das escolas sobre o humor. "Somos uma cultura alegre, que valoriza o riso e a música, e ambas quase sempre estão fora da vida escolar", diz a pesquisadora. Consultora educacional, Elvira vem trabalhando nos últimos anos com escolas indígenas, e lembra que o traço humorístico da cultura brasileira é em grande parte tributário dos índios. "Estudos antropológicos vêm mostrando que os índios influenciaram muito esse traço. É raro ver um índio gargalhar, mas a expressão do humor está no seu cotidiano de forma muito forte", conta. Nas escolas onde trabalha, a inclusão da música e de atividades lúdicas reduziu muito situações de conflitos entre os alunos.

Experiências

Para Elvira, o tema é de tanta importância que deveria fazer parte da formação de educadores. Segundo ela, um dos entraves que vêm sendo estudados por psicólogos sobre a dificuldade de aprendizagem é o medo que muitos alunos sentem de não aprender, do professor ou da própria instituição. "O estado de alerta é decorrente do medo, e acaba bloqueando o caminho da aprendizagem", diz. Um ambiente educativo com a leveza do humor desarma esse gatilho e aproxima o aluno do conhecimento.

As escolas que fizeram uma escolha consciente de trabalhar com ou sobre o tema do humor relatam experiências muito positivas. Essa possibilidade foi bem explorada pela Escola Viva, em São Paulo, ao longo do último semestre. Lá, os alunos de 7o ano de ensino fundamental estudaram, no curso de artes cênicas, os estereótipos da cultura brasileira. O caminho encontrado para isso foi justamente o da comédia. Fazendo a leitura de programas televisivos, estudando clichês do humor, os jovens experimentaram os diferentes recursos usados na produção do riso.

Trabalharam sobre o humor despretensioso, passando por Charles Chaplin ou Jerry Lewis (mais "palhaço") e, em um segundo momento, com o humor crítico, explorando a estratégia do exagero e das mensagens rápidas para captar a atenção do público. No pano de fundo do estudo, estavam a discriminação, o ridículo e o preconceito, muitas vezes veiculados nos programas humorísticos. "O humor é um dos canais que permite e sustenta a possibilidade de se trabalhar essas questões", explica a coordenadora de comunicação, Marta Campos. Ao final do projeto, os estudantes fizeram sua própria apresentação, com suas criações satíricas, não sem antes ter passado por autores como Millôr Fernandes e Ariano Suassuna.

O humor na literatura é, aliás, um dos exemplos de como o riso não é mesmo levado a sério na educação. Basta olhar o programa de leitura, onde raramente são destacadas comédias e outros textos literários marcados pelo humor, ainda que de alta qualidade estética. "No entanto, o humor tem características artísticas plenas, como se vê no francês Molière ou mesmo em quadrinhos, como Asterix, por exemplo", exemplifica Yves.

Essa percepção é compartilhada no colégio Ítaca, em São Paulo, pela diretora Mercedes de Paula Ferreira. Em sua escola, o humor entra no estudo dos diferentes gêneros linguísticos e literários. Sempre há um trabalho (com esses e outros textos) que passa pela questão do humor e também pelos recursos que permitem obter esse efeito de sentido. Todos são fundamentais para que se conheça bem o funcionamento de uma língua", avalia.

Já no caso do colégio Cermac, também na capital paulista, existe a preocupação de incluir no programa de literatura textos de autores de comédia, como os de Luis Fernando Veríssimo, entre outros. Para a diretora Roberta Mardegam, a experiência do humor é muito valorizada principalmente no cotidiano de sua instituição de forma consciente. De acordo com sua experiência como coordenadora, o bom humor sempre contribui para construção de vínculos fortes com os alunos - e ela dá essa recomendação para os professores.

Diversos contextos

Em muitas situações, é na sala de aula que se revela o impacto motivador do riso. O humor é também um recurso legítimo de didática. Não se trata do velho e contestado "aprender brincando", mas de uma forma de cativar o aluno, criar vínculos e motivá-los por meio de uma forma de expressão humana da qual todos gostam. Novamente, é preciso cuidado. Bom humor não significa rir à toa, de forma desenfreada. Do mesmo modo, as razões do riso variam da sacada inteligente ao sarcasmo agressivo. Para o professor que pretende lançar mão do humor como uma estratégia de encantamento, é preciso consciência sobre este processo. Muitas vezes, não é preciso desenvolver técnicas de humoristas, mas simplesmente criar um ambiente um pouco menos rígido, com momentos de respiro e expressão dos alunos.

Pode ser interessante estar atento às coisas engraçadas e às expressões que os próprios alunos utilizam, para trazê-las em evidência nos momentos certos, ou mesmo registrar histórias leves que possam ser contadas eventualmente para todos. Há também jogos com trocadilhos e outros recursos pontuais a serem explorados, mesmo por aqueles que julgam não ter muito jeito para a coisa. "É claro que existem momentos de seriedade e não se deve rir de tudo, mas a postura de encarar o cotidiano com humor é um componente importante da qualidade do ambiente", diz Roberta Mardegam, do Cermac. Para Marta, da Escola Viva, o humor permite dar espaço para escuta como um respiro durante as aulas. "Evidentemente isso apenas não resolve, mas nos permite discutir para ver como resolver as dificuldades, olhando de fora os problemas", lembra.

Professor e gestor

Para o consultor em gestão Marcelo Maghidman, investir em um ambiente bem-humorado não é um desafio apenas para os professores. Trata-se de uma preocupação que deve começar na gestão. Até porque muitas vezes um ambiente institucional é falsamente leve. O riso muitas vezes não é sinônimo de bom humor. Nos ambientes corporativos, especialmente, há quem ria por conveniência social, para fugir de problemas ou simplesmente não acusar a insatisfação. Maghidman atribui ao líder escolar o papel de dar o tom do ambiente da escola, o que fará por ato ou omissão. O humor é sabidamente uma característica da liderança positiva - e, de novo, nada tem a ver com ser bonzinho e dizer sim a tudo. Mas é uma mensagem clara de que é possível enfrentar as dificuldades de forma coletiva, com respeito às pessoas e com trabalho em equipe. "O bom humor, assim como o mau humor, tem um efeito irradiador no ambiente", diz. Por isso, para o consultor, o líder pode estabelecer um clima organizacional diferente e levar isso em consideração na própria montagem de sua equipe.

Assim, para alunos, professores e gestores escolares, está aí uma boa ideia para começar o ano com o pé direito. Entre tantos temas árduos na educação, numa instituição com tantos desafios, pode ser um bom caminho temperar o planejamento, as leituras, o currículo, enfim, toda a escola, com uma pitada desse poderoso elixir da saúde mental, tão temido por seu poder transformador: o riso.

Viver melhor com menos

Hora de trocar o supérfluo pelo que é essencial. A agenda planetária já apitou que produção e consumo têm limite. E a economia mundial reafirmou a necessidade de respeitá-lo. Portanto, aperte os cintos e assuma o comando. O piloto é você

Imagine como seria conviver mais com a família e os amigos e ainda ter tempo para se dedicar às atividades prediletas. Não, não se trata de férias, mas de uma nova rotina. E o que seria preciso para colocá-la em prática? Mudança de foco: deixar de pautar as escolhas pelo poder de compra e priorizar a qualidade de vida. Ou seja, parar de correr atrás do supérfluo e dar mais atenção ao que é realmente necessário.

A tônica aqui é a simplicidade, a redescoberta de prazeres frugais, como receber os amigos e cozinhar para eles em vez de comprar tudo pronto ou sair para jantar. Difícil? Talvez, mas bastante compensador.

Para a terapeuta e professora de filosofia da PUC-SP Dulce Critelli, a sociedade atual vive uma intensa mercantilização, já que todos os aspectos se resolvem pelo ato de consumir algo. "A gente não se dá conta, mas o consumo acaba sendo nosso motor de vida. Sem tempo para ficar com os filhos, compramos um brinquedo para eles. Se estamos tristes, vamos ao shopping. O consumo não é ruim, sem ele é impossível viver. O problema é agir em função disso, criando uma dependência dos signos externos", explica.

Embora gere satisfação imediata, um estilo de vida baseado no poder de compra acaba por se revelar vazio. Foi o que descobriu a publicitária paulistana Suzana Pamponet, 39 anos. Acostumada a um padrão elevado e a uma rotina bastante estressante, ela viveu, ao lado do marido, Reinaldo, uma verdadeira revolução de valores. "Há seis anos, tínhamos dinheiro, sucesso profissional e todas as facilidades que se podem comprar. Gostávamos de viajar, de ir a bons restaurantes, mas não tínhamos tempo para cuidar de nós mesmos nem da família. Uma crise de coluna fez meu marido repensar a carreira. Ele deixou o alto cargo que ocupava em uma empresa e criou a ONG Eletrocooperativa, que forma garotos carentes", conta. Aos poucos, Suzana foi sendo contagiada pela transformação do marido. "Passamos a nos perguntar se tudo o que tínhamos era mesmo necessário. Percebi que eu não precisava de mais um sapato só porque a loja havia lançado um modelo novo." Quando estava grávida da segunda filha, Suzana resolveu sair da agência de propaganda em que trabalhava para se juntar ao marido na ONG. "Nossa renda diminuiu, mas os ajustes no orçamento não prejudicam nosso conforto, apenas cortamos o excesso. Vendemos o apartamento no Morumbi (bairro de luxo) e fomos morar perto do escritório, na Vila Madalena (bairro boêmio). Tínhamos dois carros, ficamos somente com um. Hoje, vamos trabalhar a pé e usamos o mesmo veículo para ir ao clube e à academia. Apesar de mais modesta, nossa rotina ganhou em qualidade, pois temos tempo para conviver", afirma.

Os hábitos de consumo também mudaram. "Antes, não tinha um minuto para ir ao supermercado, comprava pela internet. Hoje, vou pessoalmente para comparar os preços. Levo meus filhos, Tomás, de 5 anos, e Joana, de 2, à feira e é bem divertido. Quero ensinar a eles que o conceito de riqueza vai além do dinheiro, inclui as relações, os amigos e o meio ambiente."

A busca por um modo de viver mais focado na essência do que na aparência não começou agora.

Em plenos anos 1980 - quando o estilo yuppie consumista imperava no mundo -, o ativista americano Duane Elgin lançou o livro Simplicidade Voluntária (Ed. Cultrix). Ele já previa a necessidade de mudar. Cada um de nós sabe em que aspectos nossa vida é desnecessariamente complexa. Simplificar é aliviar nossa carga. É estabelecer um relacionamento mais direto, despretensioso e desimpedido em todos os aspectos", afirma o autor. Diferentemente do que muita gente pode pensar, descomplicar não significa fazer voto de pobreza. "Ninguém é pobre porque quer, mas só é simples quem decide ser. Quando fazemos essa opção de forma consciente e livre, reduzimos a demanda por elementos externos, que só proporcionam uma dose limitada de satisfação", explica o terapeuta Jorge Mello, um dos principais divulgadores da simplicidade voluntária no Brasil.

DESEJOS AUTÊNTICOS

Segundo Dulce Critelli, muitas pessoas confundem felicidade com a satisfação gerada pela aquisição de um produto. Daí, acabam descontando sentimentos como o medo, a ansiedade ou a insegurança em compras. Afinal, vende-se tudo no mercado, até segurança e alívio para qualquer dor. Mas o mundo das apólices e dos remédios não trouxe felicidade nem garantiu a diminuição da violência, como sabemos. O erro" não é da indústria, mas da ideia de que a alegria poderia ser fabricada como mercadoria. Não pode. Uma pesquisa recente realizada na Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, demonstrou que mulheres na TPM gastam mais em compras compulsivas. Os cientistas afirmam se tratar de um mecanismo de compensação para aliviar as emoções negativas do período. "O consumo exagerado é baseado na saciedade, assim como a fome. O problema é que esse sistema é cíclico e, portanto, inesgotável", diz Dulce. E não custa pensar: nossa menstruação não é problema, é natureza. E é da nossa natureza feminina ser criativa - saberemos achar modos mais sustentáveis de lidar com nossas tensões. Sejam elas hormonais ou não.

Na opinião da terapeuta, quanto mais segura de suas potencialidades uma pessoa é, menos dependente dos elementos externos ela será. Isso significa que, em períodos de crise, como agora, mesmo que perca o poder de compra e o status, não perderá de vista suas qualidades, seus desejos autênticos e as reais possibilidades de dar a volta por cima. Conquistar essa segurança passa pela revisão de valores. Do que a gente precisa mesmo? Gente bacana por perto, trabalho que faça sentido e em que nosso talento seja valorizado, ar fresco, sol, música, segurança de ser amada e não segurança armada. Simples assim.

GAIATOS NO NAVIO

Acontece que o século 20 foi marcado pelo American way of life, que se resumia em trabalhar, ganhar e comprar. O estilo de vida americano ganhou força e espalhou-se por todo o mundo capitalista, ancorado nos apelos da publicidade. Em um planeta lotado de inovações tecnológicas e anúncios sedutores, que associam produtos a status, sensualidade, poder e conforto, ficava difícil remar contra a maré. Mas agora o barco afundou, o consumo exagerado trouxe consequências desastrosas, como o aquecimento global e a ameaça de esgotamento dos recursos naturais."Esse modelo está esgotado porque não faz bem ao planeta e não traz felicidade. As pessoas descobriram que as cenas das propagandas não são reais", afirma a consultora de sustentabilidade Rita Mendonça, diretora-presidente do Instituto Romã e autora do livro Como cuidar do seu meio ambiente (Ed. Bei).

Do ponto de vista econômico, esse tipo de prática gerou um grave endividamento. "O resultado é a crise que vivemos hoje", lembra Dulce. Quais seriam então as novas leis do consumo para o século 21? "É importante ter autonomia para pensar e agir. Poder escolher o que se compra é mais valioso do que poder comprar o que se quer. E uma postura mais consciente pode se revelar bem prazerosa", garante Rita Mendonça.

"Quando recuperamos a lucidez, percebemos que o mais simples é bom para o corpo, o bolso e o ambiente. Isso beneficia nossa saúde integral", diz Jorge Mello.Para Dulce Critelli, não se trata apenas de escolher quanto ou o que consumir, mas que pessoa você quer ser. "Um consumidor voraz, que não pensa em consequências, perde a sua humanidade e passa a viver como as amebas. Melhor seria assumir a vida em todas as suas possibilidades, aprender a lidar com a morte, o envelhecimento, as perdas e as dores sem adotar mecanismos de fuga", garante. Grandes artistas sabem disso, temos de reativar o farol que eles nos deixaram, lembra Jorge Mello. "Picasso disse que a arte é a eliminação do desnecessário e Leonardo da Vinci afirmou que a simplicidade é o mais elevado grau da sofisticação." "Quero ensinar aos meus filhos que o conceito de riqueza vai além do dinheiro. Inclui as relações e o meio ambiente" Suzana Pamponet, da ONG Eletrocooperativa COMPRADORA CONTEMPORÂNEA • Como evitar as armadilhas do consumo e manter a compostura diante das vitrines? Segue um guia de etiqueta para os tempos modernos • Aprenda a diferenciar necessidades e desejos e observe o grau de satisfação proporcionado pela compra de um item supérfluo. Você verá que essa alegria dura muito pouco e provoca desperdício. • Algum produto chamou sua atenção? Reflita até que ponto seu estilo de vida está vinculado a trabalhar para pagar contas e prestações. Vale a pena fazer mais uma dívida? • O que você consome revela seus valores. Hoje em dia pega muito mal levar em conta apenas o preço do produto e desprezar o impacto que o consumo causará ao ambiente ou às pessoas. • Seja poderosa mesmo. É você quem manda, não o vendedor, a propaganda, o corretor etc. No século 20, poderosa era considerada a mulher que podia comprar qualquer coisa. Hoje, poderosa é quem sabe escolher e compra apenas o que quer. • O consumo sustentável baseia-se na aplicação dos cinco erres (reflita antes de comprar, recuse o que é desnecessário, reduza o que é excessivo, reutilize sempre que possível e recicle o que não tem mais utilidade). CONSULTORES Jorge Mello, Duane Elgin e Rita Mendonça

Dois estudantes de economia decidem descobrir

como é viver com R$ 2 por dia (você era feliz no trabalho e não sabia)

O que você faria com um dólar, aproximadamente dois reais, por dia? Como viveria? Zach Ingrasci e Chris Temple quiseram experimentar a sensação, não pela aventura, mas para alertar para um fato: é assim que vivem cerca de 1,1 bilhões de pessoas em todo o mundo.Eles eram dois estudantes de economia da Universidade de Claremont McKenna, na Califórnia, com um percurso normal, até que a ideia lhes preencheu a mente. Zach e Chris partiram pra aldeia de Pena Blanca, na Guatemala, onde estiveram durante 56 dias, juntamente com Sean Leonard e Ryan Christoffersen, que iriam ajudar a documentar a experiência em filme. Os quatro acabaram passando mesmo tipo de privações.Os 56 dólares por pessoa correspondentes (224 ao todo) serviram pra comprar lenha, papel higiênico, arroz, feijão e outro tipo de mantimentos, bem como roupa quente, tenda pra dormir e pra dar uma ajuda no microcrédito a que recorreram pra criar a própria zona de cultivo.

Os quatro querem que o filme chegue pra pessoas que não fazem ideia de como é viver contando os trocados. Ele se chama de “Living on One Dollar” e o trailer pode ser visto abaixo. Os jovens descobriram que não há respostas fáceis para este desafio.

Recorrer ao microcrédito pra poder cultivar é, muitas vezes, a única saída possível.

Durante os 56 dias, a cama foi o próprio chão, apenas com bocados de papelão e alguns cobertores.

Isso significou muitas visitas de todos os tipos de insetos.

Eles ingeriam, em média, 800 a 900 calorias por dia, cerca de metade do valor recomendado.

Os sinais foram se tornando evidentes. Estas duas fotos de Zach têm apenas 10 dias de diferença.

Aqui Chris no primeiro e no décimo dia de viagem.

Todos os dias, eles sorteavam quanto dos 224 dólares que tinham (56 por cada um) iam usar naquele dia, entre 0 e 9.

O sistema utilizado pelos quatro tentou reproduzir a vida da população: nunca ninguém sabe quanto vai ganhar num dia.

Em Pena Blanca, existe apenas uma única fonte de água.

As coisas ficaram realmente difíceis quando Chris contraiu a doença de E. coli e giardíase, uma doença infeciosa no intestino delgado.

Zach também já tinha passado mal com uma infeção intestinal, depois de ter ingerido água contaminada, devido às más condições sanitárias do local. Sem dinheiro pra medicamentos, eles se perguntaram: como é que estas pessoas combatem um imprevisto, como a doença?

A generosidade dos vizinhos, como Rosa, Anthony e Chino, foi o que lhes deu esperança nos momentos mais difíceis.

No último dia, Anthony pediu: “não esqueçam das pessoas de Pena Blanca”.

Eles não esqueceram e embarcaram nessa missão de contar a história pelo mundo inteiro. Criaram também uma organização de microcrédito sem fins lucrativos chamada de Living on One.

Se quiser saber ainda mais sobre a história desta aventura, ou fazer uma doação, siga o site do projeto. O movimento está também no Facebook.

10 formas simples de viver uma vida menos stressante

Passamos a maior parte da nossa vida enclausurados dentro de uma sala, recebendo ordens, trabalhando para os outros, esperando que a vida passe e o dia do pagamento chegue.É óbvio que todos precisamos de dinheiro, pois necessitamos comer, nos vestir. Não sou contra o trabalho. Sou contra esperar a minha vida passar enquanto gasto maior parte do meu dia fazendo “praticamente a mesma coisa todo dia”.Se me perguntasse qual era a chave para a longevidade, teria de dizer: evitar as preocupações, o stress e a tensão. Mesmo que não me perguntasse, teria de o dizer na mesma.”

- George F. Burns

O stress está à espreita em cada canto e esquina – trabalho, família, questões financeiras – e juntamente com hábitos nocivos como uma alimentação pouco saudável, muito álcool e tabaco, e pouco exercício físico, tudo contribui para elevar ainda mais os níveis de stress. Existem pequenas coisas que pode alterar na sua vida para que passe a dominar o stress e não vice-versa.

Também é importante saber que nunca terá uma vida completamente livre de stress e, convenhamos, em doses razoáveis, até é uma coisa que nos desafia e ajuda a crescer. Mesmo assim, há sempre espaço para melhorar, principalmente no que toca à nossa saúde e bem-estar. Inspire-se nestes 10 hábitos – um de cada vez – e comece a viver uma vida menos stressante mais depressa do que imagina.

  1. Uma coisa de cada vez. Esta é a forma mais simples e mais eficaz de começar a reduzir os seus níveis de stress já hoje, ou melhor, agora mesmo. Procure concentrar-se a 100% em cada coisa que faz e faça apenas uma coisa de cada vez, ou seja, elimine toda e qualquer distracção. Precisa de limpar o frigorífico? Faça apenas isso. Tem um artigo para acabar? Dedique-se à sua concretização. Vai ser difícil não lavar a loiça enquanto fala ao telefone e vê o telejornal; ou espreitar o e-mail de cinco em cinco minutos quando devia de estar a terminar aquele projecto. Como tudo, vai precisar de praticar e com a prática vai melhorar e até ganhar vontade de fazer mais, mas sempre uma coisa de cada vez.
  2. Simplifique a agenda. Uma agenda caótica é, em si só, um enorme instigador de stress. Procure simplificá-la ao reduzir o número de compromissos que tem, mantendo apenas os essenciais. Aos restantes, aprenda a dizer que não, será a melhor forma de se “livrar” de compromissos que não lhe são benéficos. Agende poucas coisas por dia – coisas importantes – deixando sempre tempo livre entre as mesmas, ou seja, certifique-se que tem tempo para descontrair e para divertir-se.
  3. Mexa-se. Seja activo todos os dias: um jogo amigável de futebol com os amigos, uma corrida, uma sessão de ioga ou uma simples caminhada é o suficiente para reduzir e manter o stress à distância. Não tem de fazer exercício físico extenuante para combater o stress, basta mexer-se diariamente e divertir-se a fazê-lo.
  4. Incuta um novo hábito saudável este mês. Para além de se manter activo, melhorar o seu estado de saúde em geral vai ajudá-lo a controlar melhor o stress. Tente incutir um novo hábito saudável todos os meses: deixe de fumar, substitua as bolachas por fruta na hora do lanche, coma mais legumes, passe a lavar os dentes três vezes por dia, coma mais peixe, troque os refrigerantes por água…
  5. Faça algo calmante. O que mais gosta de fazer para se acalmar? Para muitas pessoas pode ser pôr-se a mexer como falamos em cima, para outros pode ser dormir uma sesta, tomar um banho de imersão, ler ou fazer amor (o que pode ser considerado uma actividade física se durar mais de 5 minutos!). Outras pessoas ficam mais tranquilas quando se entregam às lides domésticas ou à jardinagem, enquanto outras preferem a meditação ou o pilates. Descubra a sua actividade calmante e tente incorporá-la no seu dia-a-dia.
  6. Simplifique as suas finanças. Os assuntos financeiros podem ser uma fonte inesgotável de stress e o suficiente para desgastar todas as suas energias e criar-lhe verdadeiras dores de cabeça. Se este é o seu caso, procure formas de garantir a sua estabilidade e sucesso financeiro; mentalize-se que não precisa de gastar muito dinheiro para ser feliz ou para se mimar como deve ser.
  7. Desfrute ao máximo! Faça questão de se rir e de se divertir todos os dias, nem que seja por apenas alguns minutos. Pode ser brincar com os miúdos, conversar com um velho amigo, dançar em frente ao espelho, cantar no duche, fazer algo atrevido com a sua cara-metade… seja o que for, ria-se muito!
  8. Seja criativo. Tal como o riso, também a criatividade é uma terapia excelente para reduzir e prevenir o stress. Seja escrever, pintar, tocar música, desenhar, decorar, fazer bricolage ou projectos manuais, o importante é despertar a veia criativa que há em si.
  9. Organizar. O stress visual também perturba, principalmente quando tem locais de trabalho ou divisões da casa cheias de objectos em excesso e que não têm qualquer utilidade se não ocupar espaço. Analise a sua casa e escritório, vendo bem o que está a mais, o que pode ser doado, o que seria mais útil noutra divisão e comece a eliminar e a organizar. No final, terá um ambiente muito mais pacífico para trabalhar, brincar e viver. Faça isto de vez em quando, pode até acabar por ser uma das suas actividades mais divertidas!
  10. Chegue sempre cedo. Passamos cada vez mais tempo a correr e, mesmo assim, sempre atrasados – duas coisas que são grandes aliadas do stress. Por norma, os nossos afazeres acabam sempre por demorar mais tempo do que o previsto, por isso mesmo, é fundamental assegurar sempre alguns minutos extra – seja levantar-se mais cedo, começar a preparar os miúdos ainda mais cedo que o costume ou não deixar para amanhã o que pode fazer hoje. Para além de ajudá-lo a não se atrasar, esse tempo extra permite-lhe executar o que tem a fazer com mais calma.

O mundo é grande, as oportunidades são infinitas. Cabe a nós encontrá-las e aproveitá-las da melhor maneira possível. E de preferência rápido. Até lá seguimos na gaiola. Se alguém tiver a receita do bolo, me avise!

YOGA DO RISO

O Yoga do Riso (Hasya Yoga) é uma actividade de catarse colectiva através do riso. Foi criada pelo Dr. Madan Kataria www.laughteryoga.org. Dinamizada por um Líder de Yoga do Riso para um grupo de pessoas, preferencialmente com mais do que 15 participantes. Começa com uma curta introdução sobre os benefícios do riso. A sessão continua com alongamentos, exercícios de respiração vindos do Yoga e exercícios de simulação do som da gargalhada: a gargalhada do macaco, a gargalhada da pulga, a gargalhada do “passou-bem”… Por vezes inclui-se jogos, dança, percussão, adereços...

No início, os participantes só precisam de emitir o som do riso, mas gradual e espontaneamente, o riso natural começa a aflorar. Depois o contágio é inevitável. Todos circulam pela sala repetindo os diferentes tipos de gargalhadas que o líder exemplifica e o riso vai-se aprofundando cada vez mais, até ao ponto de o grupo chegar em conjunto à catarse desejada.

Quase incapazes de continuar de pé, as pessoas sentam-se ou deitam-se para despejarem até ao fim as gargalhadas, lágrimas, traumas, bloqueios e energias negativas. Com uma música suave e embaladora, o grupo relaxa e sente no corpo o efeito transformador deste maravilhoso método.

Segue-se o momento de feed-back, uma cerimónia de encerramento com sloganes de optimismo e uma curta meditação pela paz em todo o mundo.

As pessoas despedem-se completamente relaxadas, alegres, e mais leves. Os efeitos de participar numa só sessão são duradouros e por vezes acontecem pequenos milagres como curas espontâneas ou novas inspirações para um rumo completamente diferente na vida.

Benefícios do Riso: Proporciona relaxamento físico e mental. Seguimos as nossas emoções e transforma-mo-las. Oxigena o corpo através da gargalhada. Alívio de sintomas de stress, desgaste, ansiedade e ataques de pânico.

Prevenção de estados depressivos. Promoção da motivação e do estado de espírito. Maior desempenho a nível pessoal e profissional.

Aumento de energia e resistência ao stress. Enriquecimento da qualidade e equilíbrio entre vida e trabalho. Aumento da criatividade e do bom humor.

Maior capacidade de reter e relembrar informação. Grande entusiasmo e participação em sessões interactivas. Proporciona a sensação de bem-estar durante todo o dia.

Aprendemos a trazer um sorriso na nossa cara. Ajuda a ultrapassar as inibições de cada um. Desenvolve a autoconfiança e as qualidades de liderança entre os participantes.

Favorece as relações humanas, familiares e com os amigos. Ajuda a melhorar problemas cardiovasculares e problemas respiratórios.

Transforma emoções como a raiva, o medo, os ciúmes ou a tristeza, em emoções positivas como amor, amizade, perdão e compaixão. O riso conecta o corpo, a mente e a alma e conecta-nos com os outros seres humanos.

É uma meditação activa que reequilibra o nosso corpo e a nossa mente. Facilita a digestão. Passamos do sistema simpático ao parasimpático.

Favorece a segregação de endorfinas. Prevenção de cancro devido á oxigenação das células do nosso corpo. Limpamos os pulmões porque eliminamos o dióxido de carbono.

Método recomendado por cardiologistas.

A Arte da Felicidade - Um manual para a vida (Brasil) / Um Guia para a Vida (Portugal)é um livro da autoria do dalai-lama em co-autoria com Howard C. Cutler, psiquiatra dos dos Estados Unidos da América. Foi publicado por Riverhead Books em fevereiro de 2000, sob o título The art of happiness.O livro foi escrito por Cutler, baseado em conversas que teve com o Dalai Lama e em palestras ministradas pelo líder espiritual. Os relatos das conversas e das palestras são feitos de forma a tornar o conteúdo mais compreensível ao leitor, portanto não seguem a ordem cronológica dos fatos e nem se tratam de transcrições literais. No entanto, o Dalai Lama respaldou tanto a forma quanto o conteúdo.

O psiquiatra não apenas narra o conteúdo do discurso do líder budista, mas faz também análises e interpretações baseadas em seus conhecimentos científicos. Além disso, o livro descreve a pessoa do Dalai, sua personalidade, suas atitudes, seus gestos e o modo como se relaciona com as pessoas.

O cerne do livro

O tema central do livro é a busca universal da felicidade. O livro apresenta o ponto de vista oriental, nomeadamente do budismo, a respeito de sofrimento e felicidade, apresentando-se como um guia prático para o ser humano encontrar a felicidade. Não se trata de um manual doutrinário ou catecismo religioso, nem de um livro de auto-ajuda, mas sim de uma análise racional de como eliminar o sofrimento.

FONTES:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1198944-a-felicidade-interna-bruta-do-butao.shtml

http://pt.wikipedia.org/wiki/Felicidade_Interna_Bruta

http://www.felicidadeinternabruta.org.br/

http://mscamp.wordpress.com/paginas-escritas/admiravel-mundo-novo/

http://catracalivre.com.br/geral/cinema-dica-digital/indicacao/eu-maior-filme-sobre-a-felicidade-e-lancado-nos-cinemas-e-nas-redes/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Animatrix

http://omelete.uol.com.br/cinema/ianimatrixi-os-nove-episodios/

http://centenaro.org/fabio/viver-mais-trabalhar-menos/

http://estadozen.com/artigos/10-formas-simples-viver-vida-menos-stressante

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/conteudo_486606.shtml

http://www.hypeness.com.br/2013/05/dois-estudantes-de-economia-descobrem-como-e-viver-com-r2-por-dia/

http://www.escoladoriso.com/content/blogcategory/13/70/

http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Art_of_Happiness

http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/177/rir-e-precisoavessa-ou-indiferente-ao-riso-a-escola-perde-243657-1.asp

http://colunas.revistaepoca.globo.com/viajologia/2008/07/29/o-homem-mais-feliz-do-mundo/

http://super.abril.com.br/ciencia/memoria-felicidade-como-assumir-controle-suas-lembrancas-ser-mais-feliz-673821.shtml